
Técnica de correntão na prática. Foto: Reprodução/ Redes sociais
Em pleno século XXI, o Brasil ainda assiste — estarrecido — à devastação ambiental causada por práticas brutais. Um vídeo recente, que viralizou nas redes sociais, escancarou o uso do famigerado “correntão”: dois tratores arrastam uma corrente de aço gigante que derruba tudo o que encontra pela frente, incluindo árvores centenárias e animais em fuga desesperada. A cena, registrada no Mato Grosso, gerou uma onda de indignação.
A repercussão foi imediata. Nas redes sociais, ambientalistas, influenciadores e internautas comuns se uniram em protesto. A indignação viralizou rapidamente, acompanhada de milhares de comentários condenando a prática como “selvageria institucionalizada”. O vídeo não só revelou uma técnica arcaica ainda em uso, como também evidenciou a omissão do poder público diante da destruição em curso.
Uma prática cruel, legalizada e impune
O correntão não é uma técnica nova, mas seu impacto continua sendo devastador. Essa prática, muitas vezes permitida por legislações estaduais ou omissão fiscalizatória, reflete uma visão de mundo que enxerga a floresta como obstáculo ao lucro, e não como patrimônio vivo.
Como nos lembra Vandana Shiva, renomada ativista e pensadora indiana, “a ilusão de separação entre a humanidade e a natureza permitiu uma exploração desenfreada dos recursos naturais, levando-nos à beira do abismo ecológico”. A devastação das florestas transcende a dimensão ambiental; ela representa um ataque à própria essência da vida em sua rica diversidade. O correntão emerge como o emblema mais contundente dessa mentalidade predatória, onde toda forma de vida é tratada como supérflua.
A crise climática e a urgência da responsabilidade
O vídeo viral não deve ser apenas um choque momentâneo, mas um alerta profundo. O mundo já enfrenta as consequências da crise climática, e o desmatamento é um dos seus principais agravantes, intensificando eventos extremos, comprometendo a biodiversidade e ameaçando o equilíbrio dos ecossistemas de forma irreversível.
Como bem observou Carlos Nobre, um dos maiores especialistas brasileiros em mudanças climáticas, “a crise climática e a degradação ambiental não são cenários futuros distantes, mas sim a realidade presente que molda nosso planeta”. Nesse contexto, a utilização do correntão não representa apenas um retrocesso, mas sim uma escalada perigosa e autodestrutiva em direção ao abismo ecológico, é mais do que atraso — é uma aceleração suicida rumo ao colapso ambiental. Persistir nesse caminho é ignorar os avisos da ciência e da própria natureza.
O poder da denúncia popular
A força das redes sociais foi essencial para jogar luz sobre a prática do correntão. A sociedade, armada com celulares e senso de justiça, tem revelado crimes ambientais que antes passariam despercebidos. A viralização do vídeo gerou debates em canais de televisão, fóruns acadêmicos e até mesmo em gabinetes políticos.
Essa mobilização virtual transcende o mero compartilhamento de indignação; ela pressiona por ações concretas. A visibilidade impulsionada pelas redes sociais obriga as autoridades a se posicionarem, a investigar as denúncias e, em última instância, a considerar mudanças nas políticas ambientais. A indignação online se traduz em cobrança por responsabilidade e em um clamor por justiça ambiental que não pode mais ser ignorado.
A sociedade civil, conectada e engajada, demonstra seu poder de influenciar a agenda pública e de exigir um futuro mais sustentável. Essa mobilização mostra que a conscientização ambiental não está restrita a especialistas. É um dever coletivo.
Os olhos do mundo sobre o Brasil em tempos de COP30
O Brasil, anfitrião da conferência climática mais importante do planeta, deveria estar assumindo uma postura exemplar na proteção de seus biomas. No entanto, cenas como as do vídeo que viralizou, colocam em xeque o discurso oficial de sustentabilidade.
Segundo o próprio presidente Lula em declaração recente, “a COP 30 será uma oportunidade para o mundo olhar para a Amazônia com esperança”. Mas para que haja esperança, é preciso coerência. Manter o uso de correntão em 2025 é um paradoxo que desafia o compromisso climático brasileiro.
O contraste entre a retórica ambiental do governo e a prática predatória de setores do agronegócio enfraquece a credibilidade internacional do país. Como pode uma nação que abriga a maior floresta tropical do mundo, palco de uma cúpula climática global, permitir que técnicas tão agressivas e anacrônicas sigam sendo utilizadas?
Se quisermos garantir um futuro habitável, precisamos repensar urgentemente o modelo de desenvolvimento que estamos adotando. Floresta derrubada por correntão é vida descartada — e o preço disso será cobrado por todos.
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