Amazonas – Alunos de diversas escolas na região Norte do Brasil estão enfrentando grandes dificuldades para manter a rotina escolar devido aos impactos dos eventos climáticos extremos registrados durante o verão amazônico deste ano. A combinação de queimadas e a prolongada seca na região trouxe consequências graves, afetando diretamente o acesso à educação. Em particular, a situação no estado do Amazonas é alarmante, onde a interrupção do transporte fluvial, essencial para muitas comunidades, tem deixado milhares de crianças sem aulas presenciais.
De acordo com a Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar do Amazonas (Seduc-AM), escolas em 19 dos 62 municípios do estado tiveram o ensino comprometido devido à seca severa. Aproximadamente 4,3 mil alunos foram diretamente impactados pela interrupção do transporte escolar, que em muitas localidades depende de barcos para cruzar os rios que agora estão secos ou com níveis d’água extremamente baixos.
A dificuldade de acesso à escola não se limita às áreas rurais. Em Manaus, capital do estado, a situação também é crítica. Francisco Pereira, morador do bairro Puraquequara, relata o desafio diário de tentar garantir a educação dos seus sete netos. Em sua comunidade, a única escola municipal acessível fica à margem de um rio que costumava ser navegável durante o período letivo. “Antes, o trajeto de barco levava de 15 a 20 minutos. Agora, com a seca, não tem mais como ir”, conta Francisco. Ele narra que, nos últimos meses, as crianças conseguiram ter aulas apenas uma vez por semana, quando havia professor disponível. Contudo, na última semana, as aulas foram definitivamente suspensas, sem previsão de retorno.
A situação se repete em muitas outras comunidades da região, onde o transporte fluvial é a única forma de acesso à educação. A estiagem não apenas reduziu drasticamente o nível dos rios, mas também tornou inviável o deslocamento dos alunos e professores. Além disso, a qualidade do ar, prejudicada pela fumaça das queimadas, tem agravado as condições de saúde, especialmente de crianças, dificultando ainda mais a regularidade das aulas.
Além dos desafios logísticos, os impactos psicológicos e sociais também são profundos. Francisco Pereira relata com tristeza que precisou enviar sua neta de volta para a mãe, pois sua esposa não conseguia levá-la à escola, e ele, por precisar trabalhar, não podia assumir a tarefa. “É difícil, porque a gente quer que os netos tenham estudo, mas como é que faz se nem consegue chegar na escola?”, lamenta.
A Seduc-AM tem buscado alternativas emergenciais para minimizar os prejuízos ao aprendizado, como o ensino remoto. No entanto, em muitas comunidades da Amazônia, o acesso à internet é limitado ou inexistente, tornando inviável essa modalidade.
Os desafios impostos pela crise climática e as consequências das queimadas apontam para uma necessidade urgente de políticas públicas que assegurem o direito à educação em tempos de calamidade ambiental. Enquanto isso, famílias e professores se esforçam para manter o mínimo de rotina escolar possível, aguardando que as chuvas voltem a encher os rios e restabeleçam o transporte.
A previsão de especialistas é de que o cenário climático se agrave nos próximos anos, reforçando a importância de investimentos em infraestrutura e medidas preventivas para que comunidades como as de Francisco e seus netos possam garantir o acesso à educação, mesmo diante das adversidades climáticas.
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(*) Com informações do Ampost