Pela primeira vez na história, há na estrutura organizacional de uma gestão municipal uma pasta que passa a propor e coordenar a implantação e execução de políticas públicas para a população negra de nossa cidade: a Secretaria Municipal de Relações Institucionais e Promoção da Igualdade Racial – SEMURIPIR.
No último dia 03, ocorreu o Primeiro Encontro Afro-Amazônico, que reuniu representantes negros de diferentes espaços e grupos sociais de Manaus, como capoeiristas, advogados, promotores, pesquisadores, líderes de religiões de matriz africana, quilombolas, estudantes, ONGs, coletivos, artistas e professores. O evento foi realizado no auditório da Secretaria Municipal de Educação – SEMED, fato que acrescenta mais alegria à notícia, pois permite interpretar que essa área também colabora com esta movimentação inédita. Um sopro de esperança para a educação antirracista nas escolas públicas municipais.
Na ocasião, muito se ouviu a palavra união. Foi muito interessante ver um palco aberto, livre e democrático, que permitiu que as vozes das lideranças fossem ouvidas.
É preciso destacar a insistência na presença da palavra união. Nas falas, ouviam-se pedidos calorosos para que as pessoas negras que se movimentam pela luta por direitos e superação das desigualdades sociais vivenciadas unifiquem-se, já que agora têm uma representação diretamente ligada à administração municipal.
Isso ocorreu pois, embora Manaus seja uma das cidades do norte onde há mais pessoas autodeclaradas pardas – lembrando que segundo o IBGE, negros são as pessoas pretas e pardas -, não se vê uma organização e articulação posicionada e coesa de promoção de existência e reivindicações das pessoas negras.
Já tive a oportunidade de estar presente em alguns grupos, palestras e diálogos com meus conterrâneos negros e foi possível perceber que a ideia do coletivo precisa ser entendida e praticada por essas terras. Entretanto, percebem-se ações isoladas, cada grupo em sua bolha, rixas partidárias, inseguranças e sentimentos desagregadores.
O Encontro Afro-Amazônida traz a felicidade de fortalecer um coletivo que se faça presente e posturado, que de forma explícita enfrente as barreiras conservadoras, racistas e aristocráticas que caracterizam a atual administração do prefeito.
Enquanto estava sentada na plateia, ouvindo as reivindicações e experiências dos meus pares, me vinha a reflexão: Será que o próximo prefeito irá manter esse espaço de luta do movimento negro? Este é mais um motivo para escolher bem quem será o próximo gestor municipal.
Existem muitas mobilizações resistentes em nosso quente e cansativo cotidiano. Que nasça um projeto comum! Que se pensem e implantem políticas públicas comprometidas com a melhoria de condições de trabalho, educação, saúde e direitos da população negra manauara.