O trânsito caótico de Manaus está acessível a todos. E para alguns, praticamente a maioria, é impossível evitá-lo. Os motivos são diversos. Veículo particular, transporte coletivo, motoristas de aplicativos, sem exceção, não há favoritos, mas há responsáveis pelo caos.
É bem possível que, mesmo sem buscar, você se depare com alguma notícia, vídeo e imagens compartilhadas de algum acidente de trânsito. Os motociclistas estão entre as principais vítimas.
Lembro que, em um domingo, cheguei a ler várias notícias sobre os mais variados tipos de acidentes pela cidade, mas um detalhe chamou a atenção: 90% dos casos envolviam motoristas de aplicativos. Automaticamente lembrei-me de uma situação que vivenciei na Avenida Djalma Batista: após aproveitar uma promoção em um supermercado, não sendo possível pegar um ônibus para chegar à minha residência, solicitei o serviço de um motorista de aplicativo. Até aí tudo bem, mas chegando ao final da avenida, por milagre, uma moça escapou de um atropelamento, sendo xingada pelo motorista, que tentou culpá-la pela própria desatenção. Acontece que o motorista era o único que não estava prestando a devida atenção, os demais motoristas pararam para que a moça pudesse atravessar a rua. O motivo da desatenção: o celular, ele estava conversando efusivamente por uma rádio que eles utilizam.
De acordo com o Parágrafo Único do Artigo 252 do Novo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), o motorista que segurar ou manusear o aparelho celular enquanto dirige estará cometendo uma infração gravíssima.
“Parágrafo único. A hipótese prevista no inciso V caracterizar-se-á como infração gravíssima no caso de o condutor estar segurando ou manuseando telefone celular.” (Parágrafo único, Art. 252 do CTB).
A partir da leitura de várias notícias a respeito e da lembrança do fato citado acima, quis saber mais a respeito e, por duas semanas, fui de carro de aplicativo para o trabalho. Em 50% das viagens eu presenciei os motoristas conversando na rádio, utilizando o celular. Alguns falaram que abandonaram o hábito após sofrer algum tipo de prejuízo, outros relataram que as condições das ruas e avenidas ajudam no aumento dos acidentes, assim como a falta de sinalização adequada. Um motorista falou sobre o cansaço por parte dos motoristas que alugam o carro para trabalhar, pois o aluguel é caro e, alguns, trabalham desde a madrugada até altas horas da noite, sem descansar. Vale, também, mencionar alguns motoristas visivelmente embriagados.
Há situações que parecem cômicas, mas é o momento em que a desgraça chega à vida da pessoa. Presenciei um motociclista com o capacete no cotovelo enquanto dirigia em uma avenida movimentada, se esgueirando entre os carros, com uma das mãos segurando o guidão da moto e a outra ele usava para fumar um cigarro. O ser humano costuma caçar suas tragédias e acaba por desgraçar a vida alheia.
É perigoso ao extremo dirigir e utilizar o celular, pois o cérebro humano pode facilmente falhar com a velocidade e quantidade de informações, uma vez que não conseguirá processar tudo. Como disse Bauman, “somos cada vez menos capazes de nos dedicar por um longo tempo, de maneira adequada, a uma tarefa”.
O poder público tem a sua parcela de responsabilidade, com destaque, principalmente, para a prefeitura, que entende que apenas o bairro da Ponta Negra merece ter as ruas asfaltadas e belas. No entanto, creio que o bom uso da consciência é individual. É preciso zelar pela fluidez do trânsito de cada dia.
Nilia Brito dos Santos 17/07/23 - 18:21
Perfeito, maravilhoso!
Helena Silva 18/07/23 - 11:17
Parabéns pela excelente crônica sobre o trânsito urbano de Manaus.
Welton Oda 17/07/23 - 20:17
Eu também responsabilizo essa política de Estado Mínimo que impede uma fiscalização de trânsito eficaz em Manaus.
Rafael Mattos 21/07/23 - 09:34
Belíssimo!!!
Fernanda 25/07/23 - 11:37
Boa observação. Realmente a distração nessa rádio interna dos motorista de aplicativo tem colocado os passageiros, pedestres e outros veículos em risco.