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Miller dos Santos

Apostas Online: o cassino virtual que consome o Brasil

CPI das Bets expõe danos sociais das apostas online, omissões políticas e influência de celebridades no avanço do ópio da década

Apostas Online: o cassino virtual que consome o Brasil

Foto: Reprodução/ Redes sociais

Há um ditado popular que diz: “O Brasil não é para amadores.” A pergunta que surge, então, é: por que amadores populistas são colocados no Congresso Nacional para tomar decisões e representar o cidadão? Esse questionamento se torna ainda mais relevante no contexto da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas. Muitos políticos, ao invés de utilizarem esse espaço de forma séria e responsável, têm se preocupado em usá-lo como palco para exibir espetáculos de vaidade, enquanto deveria ser um espaço de investigação profunda. A adoração populista aos algoritmos transformou a CPI em um circo, onde senadores, infelizmente, se preocuparam mais em agradar à audiência do que em enfrentar um dos maiores problemas sociais da atualidade.

A Lei 13.756/2018, sancionada no governo Michel Temer, e a sua regulamentação, por meio da Lei 14.790/2023, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, legalizaram as apostas online no Brasil. O que antes era uma prática clandestina tornou-se legal, e o impacto disso tem sido devastador, especialmente entre as famílias mais vulneráveis. Em uma pesquisa recente, o Banco Central revelou que famílias de baixa renda – incluindo beneficiários do Bolsa Família – transferiram cerca de R$ 3 bilhões para as plataformas de apostas por meio do PIX. Este montante exorbitante reflete não apenas a popularidade das apostas, mas também a falta de alternativas financeiras para a população mais pobre.

Essa questão das apostas não é apenas um fenômeno econômico; é um problema psicológico e social gravíssimo. O vício em apostas online se infiltra na vida de milhares de brasileiros, especialmente os mais vulneráveis, que veem nas apostas uma forma de mudar de vida. Essa falsa esperança, alimentada pela falta de conhecimento sobre gestão financeira e pela carência de apoio psicológico, tem levado muitas pessoas a perderem tudo. Pesquisa da Serasa mostrou que mais de um terço dos apostadores perdeu mais do que ganhou. Isso não é apenas uma questão financeira; é uma questão de saúde mental e de redes sociais.

A ex-ministra da Saúde, Nísia Trindade, declarou que o vício em apostas online é uma epidemia silenciosa, comparando-o com o mal social do tabagismo. A proliferação das plataformas de apostas e o fácil acesso por meio dos smartphones tornaram o Brasil um terreno fértil para esse vício, afetando profundamente famílias em todo o país. E, em vez de um debate sério e reflexivo na CPI, o que se viu foi um espetáculo que, muitas vezes, desconsiderou a gravidade do problema.

Neste cenário, a atuação da senadora Soraya Thronicke se destacou. Ela teve uma postura crítica e séria sobre o tema, sublinhando a gravidade do vício nas apostas e condenando a utilização da CPI para fins de autopromoção. Ao contrário de muitos de seus colegas, que pareciam mais preocupados com a popularidade nas redes sociais, Soraya Thronicke levou a sério a questão das apostas e fez uma contribuição significativa, defendendo que a comissão deveria priorizar o debate sobre as consequências sociais e psicológicas do vício, em vez de se transformar em um palco para agradar algoritmos. A senadora se manteve firme no propósito de levar o tema a sério, o que foi um ponto positivo em meio à superficialidade de muitos outros parlamentares.

É importante destacar que o papel dos influencers não estava ali para ser “paparicado”. A CPI deveria ser um espaço sério, voltado para um debate aprofundado sobre as apostas online e suas consequências sociais. Infelizmente, muitos aproveitaram o momento para transformar a comissão em um espetáculo, preocupado apenas com likes, seguidores e agradar os algoritmos das redes sociais. Influencers como Virgínia Fonseca foram convocados e, em vez de esclarecerem o impacto das apostas, contribuíram para a banalização do problema, buscando apenas a validação de sua audiência e, em alguns casos, sendo tratados com uma reverência que não condizia com a seriedade da situação. A CPI não deveria ser um palco para encantar os algoritmos, mas um espaço para aprofundar a discussão sobre as consequências desse vício e seus impactos na sociedade.

A presença de influencers na CPI gerou controvérsia. A convocação de Virgínia Fonseca, uma influenciadora que se beneficiou de parcerias com plataformas de apostas, foi um dos momentos mais polêmicos da comissão. Senadores como Cleitinho Azevedo, em um momento vergonhoso, não hesitaram em elogiar a influenciadora e até pedir selfies com ela. Isso deixou claro que a prioridade de muitos ali não era a investigação séria do problema, mas sim agradar a um público que consome conteúdos virais e superficiais. Essa abordagem de autopromoção, em vez de um debate sério sobre as apostas online, apenas piora o quadro de desinformação e banaliza um problema de saúde pública que deve ser tratado com urgência.

O mercado de apostas online tornou-se, sem dúvida, o “ópio” da última década. O vício em jogos de azar, agora mais acessível e incentivado pela regulamentação, é considerado uma epidemia silenciosa, que afeta milhões de brasileiros. Para muitas pessoas, as apostas se tornaram uma forma de fuga das dificuldades financeiras, mas a realidade é dura: o retorno financeiro é escasso e a perda de dinheiro é exorbitante. Esse vício tem um impacto psicológico devastador, especialmente para aqueles que estão em situações de vulnerabilidade social e não têm o apoio adequado.

De acordo com dados do Instituto Data Senado, mais de 22 milhões de brasileiros tentaram a sorte nas apostas online em um período de apenas 30 dias. Esse número alarmante reflete a rápida expansão desse mercado, mas também evidencia o quanto ele está prejudicando a vida de tantas pessoas. A regulamentação das apostas online no Brasil não pode ser vista como uma simples modernização econômica; ela precisa ser acompanhada de políticas públicas eficazes para mitigar os danos sociais e psicológicos gerados pelo vício.

É preciso entender que as apostas online não são apenas uma questão econômica, mas também uma questão de saúde pública. O Brasil já enfrenta uma série de desafios sociais e econômicos, e o vício em apostas online só agrava a situação. O governo e os legisladores têm a responsabilidade de agir para proteger a população, principalmente os mais vulneráveis, que acabam sendo as maiores vítimas dessa epidemia silenciosa. O papel de senadores como Soraya Thronicke é essencial nesse contexto, pois ela tem se empenhado em trazer o debate para um nível mais sério e comprometido com soluções reais.

Além disso, é urgente pensar em medidas educativas e estruturais. Proibir que celebridades e influencers façam propaganda de casas de apostas é um passo importante. Mas é preciso ir além, criando programas educativos desde a infância, principalmente nas comunidades mais pobres. O Brasil precisa investir em infraestrutura educacional, oferecendo alternativas reais para que as pessoas possam mudar de vida e, com o tempo, não dependam mais de auxílios emergenciais. O ciclo da pobreza não será rompido apenas com benefícios, mas com acesso à educação de qualidade, apoio psicológico e políticas públicas pensadas a longo prazo.

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