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Colunista

Marcos Souza

Pepe Mujica ou a moça lá do Tigrinho, quem influencia mais o brasileiro?

Treze ideias acachapantes do maior político da história do Uruguai

Pepe Mujica ou a moça lá do Tigrinho, quem influencia mais o brasileiro?

Foto: Reprodução/ IA

Sim, é verdade, o título não passa de uma leviana provocação a ti, leitor e leitora. É evidente a resposta, basta compararmos a diferença no quantitativo da população do Uruguai (quase 3,5 milhões) e o número de seguidores da influenciadora digital no Instagram (quase 53,5 milhões). São números, sim, mas refletem uma tendência irreprimível. E se parecer exagero, é só indagar os que estão ao seu redor sobre o que foi mais impactante: a morte de uma das maiores figuras políticas da América ou o fato de a influenciadora ter chupado o microfone ao invés do canudo de sua garrafa. Aliás, mais que isso, assusta bastante ainda não ter um movimento a favor da cassação do mandato de um tal de Cleitinho, mais um idiota de terno, que constrangeu in loco uma CPI fundamental e tietou como um adolescente alienado a influenciadora. Nas palavras dele: A política não tem moral pra falar da Virgínia, zero moral, a Virgínia ela é fonte de riqueza, nós (classe política) somos fonte de despesas, nós só traz despesa pra população brasileira. Dê o exemplo, renuncie, senador.

Feito os cortes de garota desastrada e uns fartos seguidores para o senador, vamos ao Pepe. A história de Pepe Mujica é um episódio à parte, ímpar, indo de guerrilheiro a presidente, comprometido com os valores progressistas, combatendo a miséria em seu país e tratando com seriedade temas que o Brasil teima em ignorar, tal como o matrimônio igualitário e a descriminalização do aborto e da maconha. Durante a sua participação direta na política uruguaia como ministro da Agricultura e posteriormente como presidente, a taxa de desemprego caiu de 13% para 7%, a taxa de pobreza nacional recuou de 40% para 11% e o salário mínimo foi aumentado em 250%. Dito isto, vamos às ideias de Pepe Mujica.

1 – Em agosto de 2024, já ciente de sua condição irreversível e terminal, comentou, em entrevista ao New York Times, uma lição compreendida pela classe trabalhadora, mas desprezada pela classe empresarial e burguesa: “A humanidade precisa trabalhar menos, ter mais tempo livre e ser mais pé no chão”.

2 – Já em dezembro de 2024, em entrevista à BBC News Mundo, o ex-governante endereçou ao público a necessidade de encontrarmos um propósito: “Se você não definir um objetivo, uma causa, a sociedade de mercado vai te enquadrar e você vai passar a vida inteira pagando contas”.

3 – Em 2013, na 68ª Assembleia Geral da ONU, sintetizou o ideal de sua trajetória política: “Minha história pessoal: a de um jovem que, assim como outros, quis mudar sua época, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes. Meus erros são, em parte, filhos do meu tempo. Obviamente, os assumo. Mas às vezes eu grito com nostalgia: “Quem me dera ter a força de quando éramos capazes de beber de tanta utopia!”.

4 – Em um discurso em comemoração à eleição presidencial, em 2009, Mujica cedeu ao povo seu merecido reconhecimento: “Custou-me uma vida entender que o poder está nas massas”.

5 – Em 2024, quando entrevistado pela agência de notícias EFE, clamou resistência aos jovens: “Peço aos jovens que não se sintam derrotados. O verdadeiro triunfo na vida é levantar e recomeçar cada vez que se cai — em tudo: no trabalho, no amor e na esperança”.

6 – Em solo brasileiro, durante a Rio+20, em 2012, na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Mujica elucidou, além de seu admirável conhecimento filosófico, a sua visão sobre a vida modesta: “O problema que temos é de natureza política. Os pensadores antigos — Epicuro, Sêneca ou mesmo os aimarás — definiram: ‘Pobre não é quem tem pouco, mas verdadeiramente pobre é aquele que necessita infinitamente de muito e deseja cada vez mais’ Este é um fator cultural fundamental”.

7 – Continuando com a presença de Mujica no Brasil no Rio+20, eis o seu rigor crítico sobra a nossa sociedade de consumo: “O que está realmente passando em nossas cabeças? O modelo de desenvolvimento e consumo das sociedades ricas é o que temos em mente? Faço esta pergunta: o que aconteceria com este planeta se os indianos tivessem a mesma proporção de carros por família que os alemães? Quanto oxigênio nos restaria para respirar? Mais claro ainda: o mundo tem hoje os elementos materiais necessários para permitir que 7 ou 8 bilhões de pessoas possam ter o mesmo nível de consumo e desperdício que as sociedades ocidentais mais opulentas? Isso seria possível? Ou será que um dia teremos que começar outro tipo de discussão?”.

8 – Sendo o primeiro país da América a legalizar o aborto, Mujica demonstrou lucidez ao enfrentar um impasse que até hoje parece inadmissível para a maioria dos países sul-americanos: “Legalizando e intervindo, é possível conseguir que muitas mulheres voltem atrás em sua decisão, sobretudo aquelas de setores mais humildes ou que estão sozinhas”.

9 – Apesar das críticas recebidas pela Igreja Católica e pela ala política mais religiosa, em 2013, a lei do casamento igualitário entrou em vigor, com seu total apoio e militância: “O casamento gay é mais velho do que o mundo. Tivemos de Júlio César a Alexandre, o Grande. Dizem que é moderno e é mais antigo do que todos nós. É uma realidade objetiva. Existe. E não legalizar seria torturar as pessoas desnecessariamente”.

10 – Comprometido em não fechar os olhos ou reagir com violência policial à presença da maconha em território uruguaio, Mujica assumiu a responsabilidade com uma pauta impopular, mas, ao mesmo tempo, importantíssima de descriminalização e controle produtivo da maconha, em 2014: “Não é bonito legalizar a maconha, mas pior é dar pessoas ao narcotráfico. O único vício saudável é o amor”.

11 – No documentário “Humano, uma viagem pela vida, de 2015”, Pepe expôs, mais uma vez, a sua determinação em combater o consumismo desenfreado estimulado pelo capitalismo: “Quando eu compro algo, ou você, não compramos com dinheiro, compramos com o tempo de vida que tivemos de gastar para ter esse dinheiro. Mas com esta diferença: a única coisa que não se pode comprar é a vida. A vida se gasta. E é miserável gastar a vida para perder liberdade”.

12 – Na Assembleia Geral da ONU, em 2013, respondeu incisivamente à sátira de que ele seria “o presidente mais pobre do mundo”: “Eu não sou pobre. Sou sóbrio. Vivo com o suficiente para que as coisas não me roubem a liberdade”.

13 – Ciente do alastramento do câncer e seu estado terminal, Mujica reivindicou aos meios de comunicação, através do jornal uruguaio Búsqueda, sossego: “Estou morrendo. O que peço é que me deixem em paz. Que não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu ciclo já terminou”.

Um descanso merecido a José Alberto Mujica Cordano.

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