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Estélio Munduruku

Brasil ‘Sem Origem’: A ‘terra de ninguém’

Refletindo sobre a ancestralidade indígena e a preservação de suas terras no Brasil contemporâneo

Brasil ‘Sem Origem’: A ‘terra de ninguém’

Foto: Reprodução / Redes Sociais

No mês indígena, convidamos a sociedade a fazer reflexões e discussões a respeito do abril indígena, porque não é motivo de comemoração, mas de reflexão no combate ao preconceito e aos inúmeros conceitos pejorativos que muitas vezes são impostos à nossa existência nesse país. No período colonial e nos dias atuais, é muito comum ouvir palavras como, por exemplo, “aqui não existia índio”. Isso remete à ideia de lugar “sem origem”, um termo que nega a existência indígena, assim como é negado o direito de ter terra demarcada.

O termo pejorativo “terra de ninguém” é uma tentativa de nos excluir, enquanto povos originários, a exemplo do marco temporal que quer estabelecer a todo custo um período de reivindicação de terras indígenas, datado a partir da ocupação de 1988. Esse marco viola nossos direitos porque o Brasil já era habitado por diferentes povos, logo, temos origens, histórias e, principalmente, idiomas próprios que demarcam a identidade cultural de origem ancestral no país.

Temos muitos territórios em processo de demarcação e reconhecimento tradicional; até o presente, poucas foram homologadas. Embora o discurso de unificação de um país oficial coloque que todo mundo é brasileiro e que as terras pertencem ao Estado Nacional, sabemos que não somos homogeneizados, que temos diferenças socioculturais, assim como a concepção que temos de terra, não é a mesma na ótica do Estado.

Essas terras, em nossas concepções, têm sentimento de valor simbólico, coletivo, significados polissêmicos e, sobretudo, são um mosaico de esculturas, cerâmicas, urnas, cemitérios e artefatos indígenas comprovados cientificamente pela arqueologia, laudo antropológico e a sabedoria indígena. O conhecimento tradicional e a arqueologia servem para contrapor a ideia de território “vazio”. Nos últimos anos, os pesquisadores têm encontrado muitas urnas indígenas pré-históricas que indicam a presença ancestral milenar antes dos colonizadores.

Na Amazônia, a grandeza dessa revelação é muito significante, bem como nas outras regiões do país, o que só confirma a povoação dos povos originários há muitos séculos até esta geração atual. Com esses objetos históricos, percebemos que o passado não muito distante revela a existência de grandes nações ancestrais que ocuparam todo o território brasileiro; por isso, não somos estrangeiros, somos originários desta terra chamada Brasil.

Contudo, é preciso desconstruir e reconstruir o conhecimento que muitas vezes é passado equivocadamente por meio da educação brasileira; é preciso mais debates e discussões nos espaços educacionais porque somente a concepção indígena pode reflorestar a mente da sociedade, pois o território guarda princípios e origens de um passado ancestral que permanece vivo e preservado no presente contexto dos nossos povos originários.

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1 Comentário

1 Comentário

  1. Alessandro Lima 07/04/24 - 21:56

    Há muito o que educar a população que não consegue dar o devido respeito e simplesmente nem tenta entender o quão importante é a causa.

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