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Estélio Munduruku

Abril Indígena: comemoração ou conscientização?

Reflexão sobre o Abril Indígena, marcado por lutas, resistências e a urgência de visibilidade contínua aos direitos dos povos originários

Abril Indígena: comemoração ou conscientização?

Foto: Arquivo pessoal

O Abril Indígena ganha notoriedade pelo dia 19, que ficou marcado na história, tendo origem no Congresso Indigenista Interamericano, no México, em 1940. No Brasil, durante o Estado Novo, no ano de 1943, foi criado o 19 de abril como o “Dia do Índio”, também por influência do indigenista brasileiro Marechal Rondon. Entretanto, para muitas pessoas essa data é vista como comemoração; porém, para nós, povos indígenas, não há motivos para comemorar. Ainda vemos nossos parentes morrerem defendendo seus territórios, ainda lutamos pelos nossos direitos, ainda sofremos preconceito e racismo institucional e ambiental.

Sendo assim, se pararmos para refletir, esse mês é tão aguardado por ser um momento de lembrança dos povos indígenas, que, de certa forma, têm mais visibilidade no ano. É o mês que mais se destaca para falar dos povos originários diante de pautas como saúde, território, educação, direito, discriminação, mudanças climáticas e a luta contra o preconceito. Diante dessas pautas, existem inúmeras temáticas importantes a serem discutidas, que presenciamos no dia a dia: os estereótipos, o direito de estar em diferentes lugares, os questionamentos sobre ser indígena, a discriminação e a luta contra o Marco Temporal.

Assim, todas essas pautas estão presentes na luta indígena durante o ano todo. Todo mês é uma resistência diferente, como, por exemplo, o protesto dos povos indígenas do Pará no início do ano contra a Lei 10.820/2024, que inviabilizava a educação indígena presencial nos territórios; a luta contra o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, assim como nas terras indígenas no estado do Pará; o caso das indígenas Bororó encontradas carbonizadas no Mato Grosso do Sul; bem como os blocos de petróleo e gás na Amazônia, que são alvos de exploração e afetam diretamente pelo menos 20 terras indígenas; e a mobilização do Acampamento Terra Livre 2025, em Brasília — ATL.

Diante de uma série de pautas importantes e das diversas violências que os povos indígenas vêm enfrentando, o mês de abril não pode ser motivo de comemoração — muito menos deve ser visto como o único do ano para se falar das questões indígenas. Tendo em vista que presenciamos diversos ataques contra os direitos indígenas, principalmente relacionados ao Marco Temporal e à violência contra a vida dos nossos povos por defenderem seus territórios. Tudo isso é, sem dúvida, parte das lutas e das resistências, pois ainda vivemos sob uma forma de colonização — não mais a do passado, mas uma colonização modernizada, que busca retirar aquilo que restou dos nossos ancestrais: nossos territórios, nossas culturas, nossos conhecimentos e nossos direitos na Constituição.

Então, o que pensam os povos sobre o Abril Indígena? Diversos povos vão se expressar de maneira diferente, mas creio que “comemoração” não será enfatizada, pois não comemoramos sofrimento, retirada de direitos nem o luto de um povo que enfrenta grilagem de terra, garimpo ilegal e a mortandade da natureza em meio à exploração de petróleo na Amazônia, em terras indígenas. Mas o que querem os povos indígenas? Um reflorestamento da educação, a conscientização da sociedade brasileira pela sabedoria indígena — porque ainda estamos aqui, dizendo o que queremos e falando do bem viver, para nós e para que a sociedade também viva bem com a natureza.

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