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Colunista

Ailane Brito

A importância da educação ambiental desde a infância: formando cidadãos mais conscientes

Educar para a sustentabilidade desde a infância é investir em um futuro mais justo, consciente e equilibrado para todos

A importância da educação ambiental desde a infância: formando cidadãos mais conscientes

Vivemos em uma era em que as consequências da degradação ambiental se tornaram mais visíveis e alarmantes. Diante das mudanças climáticas, da perda de biodiversidade e da escassez de recursos naturais, torna-se urgente pensar em soluções que vão além das ações paliativas.

Uma das mais eficazes, embora ainda subestimada, é a educação ambiental desde a infância. Introduzir conceitos de sustentabilidade e respeito à natureza nas primeiras fases da vida pode ser decisivo na formação de cidadãos mais conscientes, responsáveis e engajados com o futuro do planeta.

A infância é a etapa mais propícia à formação de valores, comportamentos e percepções de mundo. Crianças são curiosas por natureza, e esse potencial pode ser canalizado para cultivar uma relação mais próxima e respeitosa com o meio ambiente.

Quando ensinamos uma criança a plantar uma árvore, a não desperdiçar água ou a separar o lixo reciclável, não estamos apenas ensinando uma prática: estamos moldando um olhar atento, sensível e responsável.

A educação ambiental não deve ser tratada como um conteúdo isolado ou ocasional. Ela precisa ser transversal, integrada ao cotidiano escolar e familiar, estimulando vivências e reflexões. Atividades como hortas escolares, passeios em espaços naturais, contação de histórias com temática ecológica e projetos de reutilização de materiais são exemplos de como é possível abordar o tema de forma lúdica e significativa. Essas experiências práticas ajudam a internalizar valores como o cuidado, a cooperação e a empatia não apenas com os seres humanos, mas com todos os seres vivos.

Além disso, estudos na área da psicologia e da pedagogia apontam que o contato com a natureza desde cedo favorece o desenvolvimento emocional, cognitivo e social das crianças. Segundo a teoria da Biofilia, desenvolvida por Edward O. Wilson, os seres humanos possuem uma tendência inata a se conectar com a natureza e outras formas de vida. Essa conexão, quando estimulada desde a infância, contribui significativamente para o bem-estar emocional. Pesquisas de autores como Louv (2005), em “Última Criança na Floresta: Salvando Nossas Crianças do Transtorno do Déficit de Natureza”apontam que o distanciamento das crianças do mundo natural pode estar relacionado ao aumento de transtornos como ansiedade, depressão e déficit de atenção. O autor cunhou o termo “transtorno do déficit de natureza”, destacando que a ausência de experiências ao ar livre prejudica o equilíbrio emocional e o desenvolvimento saudável.

Do ponto de vista pedagógico, Jean Piaget enfatiza que o desenvolvimento cognitivo infantil se dá por meio da interação ativa com o meio. Ao explorar a natureza, a criança vivencia situações reais que estimulam a assimilação e a acomodação de novos conhecimentos. Vygotsky, por sua vez, destaca a importância das interações sociais e culturais para o aprendizado. Em ambientes naturais, o brincar espontâneo e coletivo favorece a linguagem, a imaginação e a resolução de problemas, funcionando como uma “zona de desenvolvimento proximal” rica e dinâmica.

Além disso, a obra “Neurodesenvolvimento infantil em contato com a natureza”, publicada pela editora Quipá, mostram que crianças que brincam em ambientes naturais apresentam melhor desempenho motor e cognitivo em comparação às que permanecem apenas em espaços fechados.Ao aprenderem a respeitar os ciclos da vida, a escutar os sons da natureza e a perceber-se como parte integrante do meio ambiente, elas também desenvolvem autoestima, senso de pertencimento e responsabilidade.

Formar cidadãos conscientes não é tarefa de um único setor. Escola, família, comunidade e políticas públicas devem caminhar juntas. A educação ambiental não é um luxo, é uma necessidade básica, tão essencial quanto o ensino da leitura, da matemática ou da convivência social.

Os efeitos da crise climática afetam de forma desigual as populações, sendo os mais pobres e vulneráveis os primeiros a sofrer. Essas pessoas geralmente vivem em áreas de maior risco ambiental, como encostas, margens de rios ou regiões urbanas precárias, sem infraestrutura adequada para enfrentar enchentes, deslizamentos ou secas. Essas comunidades têm menos acesso a recursos financeiros e institucionais para se proteger, se recuperar ou se adaptar aos desastres climáticos.

A crise climática agrava a escassez de água potável, saneamento básico, alimentação e saúde e os mais pobres já enfrentam déficits nesses serviços. Eventos extremos, como ondas de calor ou chuvas intensas, sobrecarregam os sistemas de saúde, afetando especialmente quem depende do SUS ou de serviços públicos precários.

Povos indígenas, comunidades tradicionais, ribeirinhos, quilombolas e pequenos agricultores dependem diretamente do equilíbrio climático para sua sobrevivência. Mudanças no regime de chuvas, aumento da temperatura e perda de biodiversidade afetam diretamente sua segurança alimentar e sua cultura.

A crise climática expõe e aprofunda desigualdades históricas: populações negras, indígenas e periféricas são desproporcionalmente afetadas por decisões políticas e econômicas que priorizam o lucro em detrimento da vida.

Ensinar desde cedo sobre sustentabilidade, direitos ambientais e preservação é formar uma geração capaz de lutar por equidade, por políticas públicas eficazes e por um modelo de desenvolvimento que respeite os limites do planeta.

Portanto, insistir na educação ambiental não é um capricho ideológico ou uma tendência pedagógica passageira. É reconhecer que não há futuro viável sem respeito à vida em todas as suas formas. Se queremos um amanhã mais justo, saudável e sustentável, precisamos começar agora e começar pelas crianças. Afinal, educar para o ambiente é educar para a vida.

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