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Colunista

Estélio Munduruku

Brasília indígena

20 anos de resistência indígena em Brasília: ATL mobiliza por direitos territoriais e culturais

Brasília indígena

Foto: COIAB

Nos últimos anos, a capital federal do país vem sendo tradicionalmente territorializada pelo movimento indígena, representado por diversos povos indígenas do Brasil. O Acampamento Terra Livre (ATL) completa 20 anos de mobilização, manifestação, luta e resistência em defesa dos territórios e dos direitos indígenas.

O grande puxirum ocorre todos os anos em Brasília, no mês de abril. Além do ATL, acontece a marcha da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), também em Brasília. A manifestação da luta indígena demarca a força coletiva que temos, causando impacto positivo ao mostrar que não estamos apenas nas aldeias, mas também nas cidades.

O ATL tem se tornado um ato indígena de escala nacional, com a presença de todas as delegações dos territórios demarcados, não demarcados, indígenas em contexto urbano e em busca de retomada. Segundo o IBGE, no censo de 2022, o número de pessoas indígenas no país era de 1.693.535, representando 0,83% da população brasileira. Esse dado do IBGE revela um aumento significativo na identificação das pessoas indígenas com suas origens, evidenciando também a presença indígena fora das terras demarcadas.

Isso é significativo porque impulsiona a criação de mais políticas públicas voltadas aos povos originários, tanto na educação quanto na saúde e na garantia de direitos territoriais. Nossas lutas têm conquistado outras perspectivas e escalas geográficas, indo do local ao internacional. As mobilizações indígenas, que geralmente ocorrem em escala local e regional, intensificaram-se e ganharam força coletiva em nível nacional e internacional. Hoje, as vozes indígenas de resistência ecoam atravessando fronteiras e oceanos.

Foto: Danielle Munduruku

Isso é mais uma conquista dos povos originários e de suas diversas organizações estaduais indígenas, que, juntamente com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), têm trabalhado incansavelmente para atuarmos sempre de forma coletiva. No ATL deste ano, são levadas diversas pautas para serem debatidas em plenárias, principalmente nas instituições dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

Qualquer tomada de decisão relacionada aos nossos povos acontece da esfera local para o nacional, vindo de baixo para cima, mantendo a tradição dos antepassados. O ATL carrega esse mesmo sistema, concentrando nossos povos em uma única escala de poder, que é Brasília. Enquanto as políticas públicas, os direitos territoriais, a saúde, a educação e as tomadas de decisões não estiverem de acordo com as reivindicações de nossos povos e não forem atendidas, continuaremos em resistência, pois nossos direitos continuam sendo negados, nossos corpos continuam sendo ceifados por causa dos territórios, e somos alvos de inúmeros preconceitos no espaço educativo e na sociedade.

Portanto, o ATL chega ao seu último dia de manifestação, após uma semana intensa de debates com os governantes. O acampamento indígena em Brasília representa a luta ancestral dos antepassados, que continua viva por meio de nossos corpos de resistência, pois nosso lugar sempre foi aqui. Por isso, lutamos pelas nossas vidas, pela mãe terra e pela floresta, pois quem vive na natureza protege, e os verdadeiros selvagens são aqueles que destroem.

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