Junho de 2019 – O avião da comitiva presidencial de Jair Bolsonaro desembarca na Espanha com 39 kg de cocaína em seu interior. O piloto, Sargento Manoel Silva Rodrigues, é preso. Segundo a Polícia Federal, ele já havia feito isso antes outras sete vezes. Na ocasião, nenhum pio por parte de evangélicos, extremistas de direita, cidadãos de bem, patriotas, para criticar o ex-presidente. Santa hipocrisia, Batman! Se Lula fosse o presidente, certamente, gritariam pelo impeachment.
Maio de 2023 – Um avião monomotor em nome da Igreja Quadrangular, que era utilizado rotineiramente pelo ex-deputado federal Josué Bengston, tio de Damares Alves, foi apreendido pela Polícia Federal com 290 kg de maconha no Pará. Também nessa ocasião, não houve evangélico que falasse contra a maconha ungida de Josué. O canalha já havia sido flagrado no crime anteriormente, no escândalo da máfia das ambulâncias, perdendo o mandato e os direitos políticos por oito anos e pagando 150 mil reais de multa.
Junho de 2024 – No Brasil, todos os anos, milhares de pessoas matam ou morrem vítimas de embriaguez ao volante, dezenas de milhares de crianças e mulheres são agredidas ou mortas por homens embriagados. Nos bares, outros tantos milhares morrem em brigas violentas, envolvendo gargalos de garrafa, revólver ou faca. Vizinhos se estapeiam, se esfaqueiam após horas e horas de consumo de álcool. Nesse caso, em geral, os evangélicos não estão envolvidos, pois não bebem, mas, da mesma forma que nos crimes envolvendo o Mito, pastores traficantes, pedófilos e assediadores, prevalece um silêncio cúmplice. Quem sabe seja a simpatia por uma droga lícita que, até mesmo, Jesus produziu numa mistura de água e milagre. O álcool, responsável por uma verdadeira tragédia social, é a droga mais consumida no país e, inclusive, na chamada Cracolândia. Ela não é só uma droga legalmente autorizada, mas estimulada em campanhas publicitárias caríssimas e frequentes, em horário nobre, na TV.
Ontem, 25 de junho, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a posse de maconha deixa de constituir crime, contribuindo para reduzir a legião de jovens negros e pobres encarcerados por consumir ou portar a droga. Num país em que é sabido que jovens brancos de classe média podem consumir ou portar maconha livremente, sem serem presos, perseguidos ou assassinados pela polícia, a decisão é mais do que acertada. A política repressiva de combate às drogas levada a cabo no Brasil e nos EUA, ao longo das últimas décadas, não somente foi um fracasso, como também contribuiu para que os grupos que praticam o tráfico de drogas se tornassem as organizações mais ricas e bem-sucedidas do país, infiltradas em todas as esferas de poder da sociedade.
Num mundo em que famosos como Bill Clinton, Jennifer Aniston, Justin Timberlake, Brad Pitt, FHC, Betty Faria, Caco Ciocler, Eduardo Suplicy, Gregório Duvivier e outras pessoas brancas declararam abertamente fumar maconha, sem sofrer qualquer sanção, é inadmissível que esta mentalidade estreita dos conservadores, que passam pano pra bêbado criminoso, mas querem prender quem fuma maconha, ainda seja o pensamento dominante no país.
O conservador brasileiro precisa se decidir: ou é contra as drogas, inclusive as do avião do Mito e do tio da Damares, as da zona Sul do Rio e das festas das mansões do Morumbi, em São Paulo, ou para de hipocrisia e preconceito contra os mais pobres. Afinal, como bem sabem os povos tradicionais, não são as drogas que desestruturam a sociedade, pois os indígenas mexicanos, com seu peiote, os do Alto Rio Negro, no Amazonas, com seu paricá, o caxiri, de diferentes tradições indígenas, os rastafári com a maconha e os povos que utilizam o ayahuasca sabem que basta um uso regulado para se ter uma relação social saudável com os psicoativos.
O que desestrutura a sociedade é a ganância dos charlatões, a violência policial, a corrupção de políticos conservadores e a estupidez generalizada que é fruto da conjunção desses fatores. O porte de pequenas quantidades de maconha… bem, é certamente, dos males, o menor.
(*) As opiniões apresentadas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do colunista!
Alessandro Lima 30/06/24 - 12:00
O assunto é polêmico, porque as bebidas alcoólicas não são medicinais e o elevado consumo da cannabis não traz benefícios melhores do que o uso de nicotina. Um bom amigo de trabalho quase perdeu a vida com câncer de pulmão (pelo consumo excessivo de nicotina), e uma conhecida, que em tese não misturava nada à sua cannabis, vendia tudo o que lhe pertencia ou não, na intenção de sustentar o seu vício, pegou câncer de pulmão, também, mas veio a óbito. O namorado que a levou ao vício está bem e formado. Vida que segue e é isso aí pessoal!
Bom, o mesmo ocorre com o consumo descontrolado do álcool, mas as autoridades não controlam isso, mas atribuem os atos criminosos àqueles que abusaram das substâncias e punem somente aos mais pobres.
Bom, se for mesmo para moralizar.. Proíbam a comercialização das bebidas alcoólicas, de teor superior a 1%, cigarros e o jogo do tigre, pois há muitas famílias sendo desfeitas e sendo prejudicadas. A sociedade agradece.