O Dia do Leitor, comemorado em 7 de janeiro, é uma data que, embora recente, já carrega consigo um valor simbólico profundo. Este momento nos convida a celebrar a leitura e a reconhecer o papel fundamental dos leitores no universo literário. Mais do que uma simples comemoração, essa data nos oferece a oportunidade de refletir sobre o impacto da leitura em nossas vidas e na sociedade como um todo. A origem dessa celebração está diretamente ligada à fundação do jornal O Povo por Demócrito Rocha, que visava incentivar a cultura e o hábito da leitura no Brasil. No entanto, mais do que um marco histórico, o Dia do Leitor é uma oportunidade para ressaltar o papel transformador da leitura. O leitor não é apenas alguém que consome informação, mas um agente ativo na construção de novas realidades. A leitura amplia horizontes, promove reflexão e nos conecta com diversas realidades, sendo, portanto, um instrumento essencial para a formação de uma sociedade crítica e consciente.
Para mim, o leitor é talvez aquela figura que o poeta Fábio Ribeiro descreve como o “leitor do cotidiano”, o leitor comum, que não é dotado dos termos analíticos frequentemente encontrados nas críticas literárias. Ele é aquele que lê com paixão, sem se preocupar com a técnica ou com as normas acadêmicas. Esse é o leitor que, ao meu ver, merece ser celebrado. Como diz Fábio Ribeiro, a maior emoção do seu trabalho é quando um leitor assim, alguém que lê por puro prazer, comenta e compartilha sua visão do livro, conversando sobre ele com um olhar genuíno e cheio de emoção. Essa troca, esse diálogo sincero, é muito mais significativo, talvez, do que a análise de um crítico literário.
A literatura, para mim, tem uma função social fundamental. Se a literatura não refletir a sociedade e não servir como instrumento de transformação, perde parte do seu valor. A literatura não apenas encanta, mas também inspira e transforma. Ao se deparar com uma obra, o leitor pode se encontrar, começar a sonhar com novas possibilidades de vida e enxergar o mundo de uma forma diferente. A literatura tem esse poder de transformar até mesmo a vida do leitor ribeirinho, que começa a ver sua realidade sob outra ótica, sonhando com novas perspectivas. Não são todos, na nossa sociedade, que têm acesso a essa vivência literária. Muitos só têm esse contato mais tarde, talvez na fase adulta, ou em situações inesperadas. Mas quando o livro chega até ele e ele se conecta com a leitura, a transformação acontece. Esse é o poder que a literatura tem sobre a vida de um leitor. Um verdadeiro salve a esse leitor, que, por vezes, é ignorado pela sociedade, mas que tem sua vida tocada e transformada por um simples ato de ler.
Como bem coloca a escritora Lucila Bonina, “quem me define, quem me reconhece como artista é o leitor […] quem define o que é literatura, quem define o que é poesia, é quem vai ler […] quem faz a literatura são os leitores, não são os escritores […] quem, na verdade, lê, quem determina que livro vai ser comprado, que livro vai ser mais vendido, são os leitores, não é? […] O leitor sim importa, sabe? O leitor sim importa […] Na verdade, eu posso escrever o que eu quiser. Eu posso escrever como eu quiser. Agora, para quem que eu estou escrevendo? […] Por que que eu estou escrevendo? Eu quero escrever para ser lido, eu quero escrever para alcançar um modelo, eu quero escrever […] A resposta que o autor vai encontrar para essa pergunta vai ser a obra dele.”
Essas palavras de Lucila Bonina reforçam a importância do leitor como protagonista no processo de construção literária. O leitor é quem valida e, muitas vezes, define o valor da obra, seja por sua popularidade, por sua relevância social ou pelo impacto que causa. O escritor pode criar e inovar, mas é o leitor quem, de fato, dá sentido a isso, fazendo a obra ressoar em sua própria experiência.
O papel do leitor e sua relação com a obra literária
A leitura vai além de um simples ato de absorção de informações. Como afirma Paulo Freire, em A Importância do Ato de Ler, “A leitura do mundo precede a leitura da palavra. A leitura da palavra implica a continuidade da leitura do mundo.” Essa visão reforça o papel da leitura como um ato que ultrapassa as páginas dos livros, permitindo aos leitores enxergar o mundo sob novas perspectivas. Não se trata apenas de absorver informações, mas de criar novos horizontes e realidades. A leitura tem o poder de modificar nossas concepções de mundo, de nos fazer perceber questões antes ignoradas e de nos dar ferramentas para mudar a nossa própria história. Esse poder de transformação é evidente quando consideramos o papel do leitor na obra. O escritor Marcos Souza destaca que “o leitor é o objetivo e último avaliador da obra; como agente externo, é determinante para solidificar a visão real do livro.” O leitor, ao interpretar o texto, oferece uma nova dimensão à história, fazendo com que cada leitura seja única e intransferível. Ele é, assim, coautor do processo literário, e sua interação com a obra é o que a torna viva e relevante.
A experiência de leitores e suas expectativas
Depoimentos de leitores demonstram o impacto profundo da leitura em suas vidas. Jamily Brito, acadêmica de História na UFOPA, compartilha sua experiência: “Eu gosto de livros que tenham suspense, drama, aventura, uma mistura de tudo, e o que não pode faltar é emoção. A história, para se tornar especial, precisa ser chamativa e nos fazer sentir atraídos pela leitura do início ao fim, com grandes reviravoltas, que muitas vezes nos fazem nos sentir representadas pelos personagens da história.” Esses sentimentos revelam como a leitura pode criar laços emocionais com os personagens, tornando o livro algo mais do que uma história, mas uma experiência de vida.
A identificação com os escritores e a influência nas novas gerações
A escritora e professora Evany Nascimento também compartilha sua percepção sobre o relacionamento com os leitores, especialmente os mais jovens. “O que percebo do contato direto com esses leitores é que eles têm admiração por quem escreve as histórias. Principalmente as crianças. […] Já adolescentes, especialmente as meninas, se identificam com a escrita e perguntam muito sobre como faz pra ser uma escritora”, diz Evany. Este depoimento destaca a importância da representação na literatura e como os jovens leitores buscam identificar-se com os escritores, projetando em suas palavras a possibilidade de se tornarem também autores de suas próprias histórias.
O poder transformador da leitura na sociedade
A literatura e a leitura têm o poder de transformar, e essa transformação é visível não apenas nas obras literárias, mas também nas pessoas que as leem. A literatura é uma ferramenta poderosa de reflexão social, de empoderamento e de mudança. Paulo Freire, mais uma vez, nos lembra da importância da leitura como um meio de libertação e de construção de novas realidades. Quando os leitores encontram obras humanizadas, a experiência de leitura vai além do encantamento, tornando-se uma ferramenta para sonhar novos rumos e vislumbrar novas possibilidades de vida. Esse impacto social da leitura é reconhecido por outros escritores, como Sandra Godinho, que ressalta que “o autor deve tentar escrever o melhor que pode, produzir um bom texto, e sua obra vai encontrar seu próprio público.” Godinho também destaca que, como autores, devemos procurar sempre fazer o nosso melhor, amadurecendo e apurando nossas habilidades. A diversidade de leitores e gostos reforça a ideia de que a literatura tem um espaço para todos, e a obra do autor se revela de diferentes formas para cada leitor.
A liberdade proporcionada pela leitura
A liberdade proporcionada pela leitura é uma das suas maiores riquezas. Ao abrir um livro, o leitor é convidado a explorar novos mundos, a sair dos limites do conhecido e a expandir sua visão de mundo. A leitura oferece um refúgio, mas também fortalece o leitor para a vida cotidiana, tornando-o capaz de encarar a complexidade da realidade com uma perspectiva renovada. No poema de Mayanna Velame, do livro Português Amoroso 2, essa liberdade é representada pela imagem do voo:
“De livro aberto,
Agora o leitor voava
Como um verso livre.”
Este verso traduz de forma poética a liberdade que a leitura proporciona, convidando o leitor a transcender os limites do físico e a explorar o ilimitado universo das palavras.
A importância do Dia do Leitor
O Dia do Leitor é, portanto, uma celebração não apenas dos livros, mas dos leitores que, ao interagir com as obras, lhes dão vida e significado. Mais do que consumidores, os leitores são protagonistas da experiência literária, capazes de criar novas realidades e transformações a partir das palavras. Eles são, de fato, os verdadeiros responsáveis por tornar os livros imortais, ao infundi-los com suas próprias interpretações e emoções. Neste Dia do Leitor, celebramos esse poder transformador e reconhecemos o papel essencial dos leitores na construção de um mundo mais crítico, empático e consciente.
Maria Evany do Nascimento 07/01/25 - 18:11
Que lindas palavras para nos lembrar que, no final das contas, quem conta é o leitor! Parabéns para todos nós que somos leitores! Parabéns para quem escreve e estimula a formação de novos leitores!
Marcos Souza 07/01/25 - 19:19
Um compilado interessante àqueles que dão ânimo e melhorias aos escritores em eterno desenvolvimento.