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Colunista

Marcos Souza

Para todo escritor desavisado, há uma ‘editora’ oportunista

Notas sobre a exploração dos escritores pelo mercado editorial e seus patéticos prêmios literários

Para todo escritor desavisado, há uma ‘editora’ oportunista

Foto: Reprodução/ Canva IA

Inicialmente, é essencial destacar que este artigo tem a intenção de alertar os escritores, principalmente os novos, sobre uma prática corriqueira e ilusória que visa a troca de um montante de dinheiro por uns trocados de palmas para inflar o ego juvenil dos iniciantes literatos. Por um outro lado, aos escritores experientes, cientes e participantes das trocas e do mecanismo dessas “editoras”, ignorem os parágrafos abaixo e sigam as suas badaladas trajetórias.

Aos escritores que adentraram no mundo literário recentemente, é imprescindível dizer que há uma diferença, às vezes imperceptível, entre uma editora tradicional, uma autopublicação e uma prestadora de serviços. Em linhas gerais:

A editora tradicional não cobra para publicar, no entanto, só publica o autor que tiver contatos para indicação direta, se a obra for muito atrativa para a linha editorial ou se o autor ganhar um concurso literário relevante. Todavia, creio que não irá valer a pena citar exemplos, dada as suas popularidades e companhias.

A autopublicação, que julgo ser o caminho mais favorável para um primeiro livro, é uma publicação independente e se baseia no custeamento do livro feito pelo próprio autor ou por financiamento coletivo, há um gasto maior (diagramador, capista, revisor, ilustrador, designer, impressão, divulgação), porém, o ganho é integral do artista, ele estipula o valor e os lucros. O zine é um exemplo disso.

A prestadora de serviços, como o nome diz, presta os serviços de confecção do livro e entrega ao autor por um preço combinado, de acordo com a demanda de livros impressos. E são essas que requerem bastante atenção, já que nos últimos anos elas se difundiram e, por isso, se faz necessário separar quais delas realmente se importarão ou não com os originais dos escritores. Na maioria delas, o risco será todo do autor, desde o financiamento até a divulgação, porque ela estará ocupada publicando mais umas dezenas de livros por mês e, adivinha? O escritor receberá apenas 10% das vendas.

Para ficar mais palpável a argumentação, utilizarei meu primeiro livro de exemplo, quando era um inexperiente escritor em busca de um livro que pudesse chamar de meu. O resultado: publiquei por uma “editora” de Belo Horizonte, Minas Gerais; encerrou-se o contrato com ela e meu livro continua disponível no site dela; não houve prestação de conta de direitos autorais; tive que arcar com parte do financiamento coletivo por não conseguir atingir a “meta”; atraso na publicação prevista; o livro estava até pouco tempo sendo vendido por 60 reais, dos quais eu ganhava apenas seis reais por venda (agora está 50 reais, ganharia cinco reais por venda); não ofereceram uma cortesia sequer, fosse uma revisão do original ou uma leitura crítica; não houve sequer uma publicação promocional do livro; entre outras várias coisas.

Eles mentem, mentem sobre o seu livro e sua escrita, não leem e sugerem revisão e alguns outros serviços adicionais, pagos, obviamente.

Mas vejam só, não satisfeitos com a publicação massiva e desatenta, as prestadoras decidiram inovar com as premiações literárias; as famosas e agraciadas midiaticamente premiações literárias. Senti a obrigação de informar aos novos escritores que desconhecem tal prática, uma prática que desprezo como o esgoto mais pútrido do mercado editorial brasileiro.

Vamos, primeiro, ao que se espera de um prêmio literário: que ele seja transparente e ilibado em sua conduta, que tenha banca de jurados e pessoas competentes para garimpar a melhor obra, que premie de forma coerente os vencedores, tanto com dinheiro quanto com as vendas dos livros laureados, que suscite a relevância das pessoas premiadas pelo que escrevem, pelo conteúdo, e as coloquem em evidência na cena literária do gênero em questão.

Trazendo um exemplo mais pessoal, cito uma premiação-armadilha que quase caio lá pelos meados de 2021. O chamado do concurso literário era breve e aparentemente honesto: os melhores contos serão agraciados com a publicação de uma antologia, um certificado e uma medalha em homenagem a Ariano Suassuna. E que medalha fenomenal! Aliás, quem não é entusiasta do criador de Auto da Compadecida? Fiz minha inscrição com o conto menos meia-boca que tinha no meu acervo pessoal. Alguns dias depois, recebi com um certo orgulho o resultado de ter meu texto com um dos selecionados. Uau! Como sou bom! Nem era um texto bem trabalhado e ganhei a competição de lavada!

Como podes imaginar, no corpo do e-mail de “premiação” veio minha derrocada, já que nela vinha o custo para aquela premiação: duzentos e cinquenta reais!

Desde então, ando pelas ruas com os olhos bem abertos…

Ah, não! Não posso terminar o artigo assim, tenho que citar outros casos. Por exemplo, um prêmio literário que te cobra para ser O Melhor Autor do Brasil, para ter seu livro como O Melhor Livro Nacional ou ser a Personalidade do Ano! O melhor de toda pataquada é que a determinação do vencedor é por voto popular, ou seja, nem o livro do autor eles se dão ao trabalho de ler. A mesma lógica da publicação: todo o processo depende (do bolso) dos escritores enganados. Um concurso de beleza, por assim dizer, que vê cara, mas não vê coração. Por isso, nutro a teoria que as pessoas em volta dessas “editoras” oportunistas odeiam a literatura.

Inclusive, estou divulgando um novo concurso para os escritores, que premia personalidade literárias e culturais, o preço de inscrição é 50 reais por categoria (há mais de dez categorias), e caso seja um dos premiadíssimos, terás de pagar, se quiser ser premiado, 300 reais (é sério). No total, 350 reais, para os exclusivos vencedores receberem um certificado com moldura, uma foto para divulgação bem bonitinha, e um troféu, evidentemente, não poderia faltar, para saciar a falta de prazer que a literatura não preenche.

Boa competição! Quer dizer, boa aquisição!

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