Siga nossas redes

Um espetáculo de injustiça

É possível sentir que os ventos da educação antirracista já sopram fortes em território brasileiro

Um espetáculo de injustiça

Foto: Norte em Foco

Foi de grande repercussão na mídia brasileira o caso de um homem branco que deu um golpe de canivete no pescoço de um motoboy, um homem negro, que estava na calçada, aguardando as chamadas para realizar suas entregas delivery, na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Os vídeos, que viralizaram nas redes sociais, mostram os dois discutindo, os policiais militares chegando e abordando imediatamente o homem negro, encostando-o na parede para ser revistado e algemado, sendo que ele é quem foi agredido com uma arma branca.

Enquanto isso, o senhor branco conversava calmamente, sorrindo, sem camisa, com duas policiais, em uma abordagem completamente diferente.

Os dois foram levados à delegacia, depois dos registros legais foram liberados. De acordo com a polícia militar foram também ouvidas 27 testemunhas e analisadas 12 filmagens.

Conforme o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), órgão que atua junto ao Estado Brasileiro, mantido por empresas jurídicas, que tem como objetivo reduzir o número de prisões temporárias e desafogar o sistema carcerário brasileiro, o caso foi concluído como agressão mútua com lesão corporal.

Após as investigações, o IDDD definiu que: “Não houve racismo e a polícia militar teve uma atuação correta e técnica”.

Para os que não compreendem o racismo estrutural ou, ainda, para quem gostaria de entender mais sobre a dinâmica racista da sociedade brasileira, as imagens deste episódio são didáticas.

O acontecimento escancara a materialização da estrutura discriminatória vigente. Mostra que, com base na raça, existem comportamentos que formam e estabelecem normas e padrões que orientam a ação dos indivíduos.

Por esse motivo que os policiais, na abordagem espontânea direcionam-se primeiramente ao homem negro, pois o pensamento social moldado pelo racismo associa os negros às atitudes negativas, inconvenientes, contraproducentes.

Por isso, a polícia imediatamente abordou o negro, pois não é “normal” que o homem branco seja o desordeiro. O negro sim, ele tem a cor de meliante.

Como forma de protesto e denúncia por estes procedimentos comuns por parte do policiamento, a escola de samba Vai-vai, no carnaval deste ano, teve em seu desfile, uma ala intitulada como “Sobrevivendo no Inferno”, em que pessoas vestiam adereços com chifres e capacetes da tropa de choque da polícia.

O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (SINDPESP) emitiu uma nota de repúdio comunicando a “extrema indignação”, pois “demonizaram a Polícia”.

Ainda, a nota dizia que “É de se lamentar que o Carnaval seja utilizado para levar ao público mensagem carregada de total inversão de valores e que chega a humilhar os agentes da lei”.

No caso do homem negro, quem chegou a ser humilhado no exercício de sua função? Quais valores foram invertidos no desfile da Vai-vai? Esses valores foram considerados no momento da abordagem de um cidadão que estava trabalhando?

Perceber que houve comoção nas pessoas que estavam no local é a única situação positiva que se pode tirar desse fato. Pessoas iam até os policiais pedir que soltassem o rapaz negro, tentando explicar a injustiça que estavam cometendo.

Nas redes sociais, há clamor para que o episódio seja investigado e configurado como um caso de racismo.

Por essa reação da população, é possível sentir que os ventos da educação antirracista já sopram fortes em território brasileiro.

A geração anos 2000 já reconhece o racismo no país como um racismo de marca, em que a primeira impressão que fica é a baseada no tom da pele do indivíduo.

O racismo no Brasil está na música, em nosso vocabulário, nas piadas, nos livros, na televisão, no teatro, na padaria, no restaurante, na agência bancária, nas ruas.

Logo, se nossa sociedade não perceber e refletir sobre esta estrutura, cenas como esta continuarão sendo facilmente vistas e naturalizadas pelas instituições sociais brasileiras, perpetuando este cenário para os espetáculos das injustiças sociais no nosso país.

Leia mais:

Clique para comentar

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais em Fanuela Vasconcelos