O Censo Demográfico é uma das ferramentas estatísticas mais importantes para se entender a dinâmica populacional no Brasil.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão governamental responsável pelo recolhimento, organização e divulgação das pesquisas e dados populacionais, publicou, em dezembro do ano passado, números que apresentam o surgimento de uma nova configuração racial no país.
O número de pessoas que se autodeclaram pardas teve um aumento considerável e inédito em nossa história.
O IBGE classifica os brasileiros em quatro raças: Branco, Negro, Amarelo e Indígena. Os Negros são subdivididos em Pretos e Pardos.
O recenseamento de 2022 revelou que 56% da população brasileira se declaram como negra e, pela primeira vez na história, a maior parte dos cidadãos brasileiros se autodeclara parda.
Curiosamente, a população residente na região norte teve o maior percentual de autodeclarados pardos, de 67,2%, conforme os dados divulgados pela Agência de Notícias do IBGE.
No Amazonas, a taxa de pardos é de 68,8%. O estado está entre as menores taxas de pessoas que se declaram pretas, com apenas 4,9%.
Os outros dois estados entre os que tiveram taxas pequenas de pretos são Paraná e Santa Catarina, ambos da região Sul.
O município com maior percentual de pessoas pardas é Boa Vista do Ramos (AM) com 92,7%. Os dez municípios com maior proporção de pessoas pardas estão no Amazonas, Pará e Maranhão.
Ainda, o recorte dos que se declaram brancos diminuiu, em todo o país.
Estes são números que, embora digam ao movimento de luta pela desigualdade racial que está sendo implantada uma mudança de paradigma da negritude brasileira, ainda configura-se como uma problemática para a formação da nossa identidade racial.
A comunidade negra almeja uma identidade negra. Esta é entendida como uma construção social, histórica, política e cultural que promove o olhar de um grupo étnico-racial ou de sujeitos que pertencem a um mesmo grupo étnico-racial sobre si mesmos.
Entretanto, a classificação do IBGE dificulta a consolidação dessa identificação, pois divide o que poderia ser uma unidade identitária, em pretos e pardos.
Apesar destes pesares, percebe-se que a sociedade está criando mais consciência racial. Os dados do censo mostram que as pessoas podem estar compreendendo a miscigenação das raças que nos formaram e pensando em suas cores.
Ao longo da história recente do Brasil, tanto a luta histórica dos negros brasileiros quantos as políticas de Estado parecem estar impactando a percepção individual.
Já podemos afirmar que se trata do resultado da implantação das Leis nº 10.639/03 e 11.645/08, que modificaram as leis de diretrizes e bases da educação no país.
A partir de 2003, passou-se a estudar nas escolas, em todos os componentes curriculares, a história, a cultura e trajetória dos povos que contribuíram com a formação do povo brasileiro.
Dessa forma, muitas pessoas já estão enxergando o racismo estrutural, o preconceito e discriminação, há muito tempo encobertos pelo plano de uma classe predominante branca que não quer perder seus privilégios históricos.
A população negra brasileira possui traços de uma identidade racial singular. Antes vulneráveis aos efeitos do racismo, hoje já assumem com orgulho suas origens, características físicas e identidade, marcando um avanço na construção da sonhada sociedade inclusiva e justa.
Hélio Figueira 09/01/24 - 17:45
Excelente abordagem do resultado do Censo do IBGE quanto à configuração racial do brasileiro. Eu mesmo até a adolescência me acreditava “branco”, apesar da certidão de nascimento atestar minha cor parda. Neto de indígenas bolivianas casadas com brasileiros na fronteira do Vale do Guaporé, em Rondônia, vejo com alegria e esperança de um País mais feliz consigo mesmo esse resultado do Censo quanto à raça. Parabéns à colunista.