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Julho é das Pretas

O Julho das Pretas nas escolas poderia ser uma ação implantada pelos professores e professoras

Julho é das Pretas

Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado no dia 25 de julho. Foto: Reprodução/ Canva

Julho das Pretas. Assim que nós, mulheres pretas, nomeamos o mês corrente, por considerarmos como um momento de exaltação e valorização do protagonismo feminino negro nos poucos espaços que já ocupamos na sociedade.

Não tem o famoso Dia Internacional da Mulher, em março? Pois é, existe, também, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado no dia 25 de julho.

Nesse dia, em 1992, foi realizado na República Dominicana, o 1º Encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas. Além de propor a união entre as mulheres pretas, essa reunião também visava denunciar o racismo e machismo, não só nas Américas, mas também ao redor do mundo.

A ocasião foi tão importante que conseguiu com que a ONU reconhecesse e oficializasse internacionalmente esse dia.

Não é uma agenda anual do Estado. São as mulheres negras, organizadas em todo o país, que empenham esforços e assumem as próprias narrativas para dar visibilidade à luta.

Segundo o IBGE (PNAD, 2022), hoje, a população brasileira é formada por 29% de mulheres negras (pretas e pardas), no entanto, apenas 3% delas ocupam cargos de liderança (nível gerente e acima) nas empresas brasileiras.

Quem assistiu telenovelas, comerciais de TV e filmes produzidos nas décadas de 1950 a 1990, via sempre as mulheres pretas em papéis como empregadas, escravizadas, babás, pobres, moradoras da favela.

As produções midiáticas criaram e perpetuaram um imaginário social, em que mulheres negras são vistas como seres subalternos, com baixo potencial intelectual, sexualizadas, afetivamente secundarizadas e eficientes apenas para a função de trabalhadoras domésticas, fruto de uma herança do pensamento escravocrata colonial.

Somente a partir dos anos 2000 que esse cenário começou a ser desmontado. Os mais diversos espaços da sociedade estão sendo ocupados pelas mulheres negras que, embora ainda enfrentem discriminações raciais e de gênero, conseguem provar que são capazes e habilitadas para estar onde quiserem estar.

Maju Coutinho, Zileide Silva, Karine Alves, Carolina Maria de Jesus, Djamila Ribeiro, Conceição Evaristo, Sueli Carneiro, Nilma Lino Gomes, Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez, Taís Araújo, Elza Soares, Preta Gil, Marielle Franco, Margareth Menezes, Maria Firmina dos Reis, Maria Felipa, Tereza de Benguela – esta última também é homenageada no dia 25 de julho por ter sido uma líder quilombola, que assumiu o lugar do marido assassinado, passando a coordenar as atividades econômicas e políticas que ele tinha, no Mato Grosso, em meados de 1700.

Estes são alguns nomes de algumas pretas jornalistas, professoras, poetisas, escritoras, cantoras, atrizes brasileiras historicamente importantes para o país, que atravessaram o racismo estrutural e a misoginia, vencendo as enormes dificuldades, ganhando espaço e notoriedade em meio a esse panorama social patriarcal.

Aqui em Manaus, destaco a luta das amazonenses Rafaela Silva, crioula do Quilombo Urbano de São Benedito, professora e pesquisadora, e minha amiga Luciana Santos, jornalista e advogada. Duas mulheres pretas incríveis e livres das amarras históricas de desigualdade. Elas, atuando em suas posições, são referências da luta da negritude no estado.

Espero que, nas escolas, os educadores, nesse mês, tenham respeitado as Leis 10.639/03 e 11.675/08, contribuindo, assim, com a formação das crianças e adolescentes negras sobre sua história e culturas, bem como sobre os desafios que enfrentam e enfrentarão na sociedade.

O Julho das Pretas nas escolas poderia ser uma ação implantada pelos professores e professoras, a fim de promover mais conscientização sobre o racismo e a violência contra as mulheres negras.

Existem muitas mulheres negras super potentes que podem ser utilizadas como referência para promover educação antirracista na escola.

Em meio a um mês da estreia badalada de um filme de uma boneca loira, que há décadas propagou a ideia de mulher historicamente e esteticamente desejada e bem conceituada na sociedade contemporânea, o Julho das Pretas busca uma quebra de estruturas e modelos padrões de mistificação do corpo ideal e, também, proporcionar valorização e apoio às meninas pretas que podem e devem sonhar, realizar seus desejos e deixar suas contribuições no cenário político, acadêmico, artístico, esportivo, enfim, nos mais variados lugares sociais existentes.

 

As opiniões e comentários emitidos pelos colunistas não necessariamente refletem a opinião do Portal Norte em Foco.

 

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