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Estélio Munduruku

A exploração de petróleo: destruição sociocultural e do mosaico ancestral

Exploração de petróleo ameaça povos indígenas na Amazônia. Diálogo com o Estado é crucial para preservação

A exploração de petróleo: destruição sociocultural e do mosaico ancestral

Foto: Elam Olímpio

No dia 08 de abril de 2024, o governo do Amazonas mostrou que não se importa com a presença indígena no Estado, mesmo que haja evidências concretas e abstratas desde os tempos antigos e que sejamos a federação com mais povos indígenas do país. É como se isso não significasse nada diante do capital financeiro. Neste mês, que deveria enfatizar com muita importância a luta dos povos indígenas na sociedade, a exploração mineral do território Mura no município de Autazes é colocada em xeque por nossos governantes.

Isso nos afeta porque coloca em risco toda uma nação em diversos contextos socioculturais. Quando um território indígena é afetado, todos nós somos afetados também, pois o território tem vida ligada ao nosso corpo e materializado, sobretudo em função de valores coletivos. No Amazonas, além do território Mura, a Terra Indígena Kwatá-Laranjal, terra Munduruku no município de Borba, está também sob ameaça de exploração, assim como mais 4 territórios indígenas. Essa violação nos atinge diretamente porque fere todo um corpo vivo, sendo físico, material, biofísico, social, meio ambiental, sociocultural e o mosaico ancestral.

A exploração causa um grande efeito de degradação, alteração, modificação tanto na natureza quanto nos coletivos indígenas. Pode destruir as principais histórias indígenas, materiais e imateriais que estão conservadas nos territórios considerados sagrados para nós. Um exemplo são as cerâmicas pré-históricas existentes em muitas terras tradicionais, que, infelizmente, não significam nada perante o capitalismo, mas para nós indígenas têm valor simbólico cultural e são verdadeiros demarcadores territoriais. Sabemos que elas contam nosso passado, mas podem também desaparecer porque a Amazônia é colocada como fonte inesgotável de produção.

Não podemos deixar nosso mundo acabar, pois ele abrigou grandes civilizações indígenas no passado. Hoje, esse mesmo mundo é povoado por nós e não pode ser em nossa geração que os territórios tradicionais serão entregues à mercê da exploração mineral. É preciso que o Estado ouça nossos povos porque sem o consentimento dos donos da casa, é o mesmo invasor de 1500 e os estragos ambientais se repetirão inúmeras vezes porque a Amazônia não é um lugar qualquer. Ela tem seus inúmeros segredos e mistérios tanto do ponto de vista científico quanto do conhecimento tradicional, e só os povos indígenas têm esse conhecimento milenar de suas casas ancestrais.

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