
Foto: Canva IA
A recente cobrança do Ministério Público Federal (MPF) ao secretário de educação do Pará, Rossieli Soares da Silva, sobre supostas irregularidades em contratos milionários, levanta uma questão incômoda: até que ponto a gestão pública da educação se transformou em um balcão de negócios?
O MPF investiga indícios de improbidade administrativa em contratações realizadas pela Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC), chefiada por Rossieli. O foco está em contratos que ultrapassam R$ 500 milhões com a empresa Sudu Tecnologia Educacional, ligada a um dos maiores doadores de campanha do PSDB paulista. O volume expressivo de recursos e os vínculos políticos apontam para um velho problema: a captura da máquina pública por interesses privados.
O caso vem sendo amplamente divulgado pelo repórter investigativo Adriano Wilkson,conhecido por expor esquemas de corrupção e tráfico de influência na política nacional. Suas reportagens vêm trazendo à tona detalhes preocupantes sobre a relação entre agentes públicos e empresários do setor educacional, o que reforça a necessidade de investigação e transparência.
O ciclo vicioso da educação como mercado
Não é de hoje que a educação brasileira se tornou um campo fértil para esquemas duvidosos. Empresas de tecnologia educacional, editoras de materiais didáticos e grupos privados de ensino formam um lobby poderoso, que influencia políticas públicas e drena recursos que deveriam garantir infraestrutura e valorização dos profissionais da educação.
No caso de Rossieli, a suspeita é que esses contratos tenham sido firmados sem transparência suficiente, beneficiando uma empresa com laços políticos. A pergunta que fica é: os interesses educacionais foram prioridade ou o critério foi a conveniência política e financeira?
Luciana Sardenha Galzerano, pesquisadora e crítica das políticas educacionais no Brasil, também se posicionou sobre os contratos milionários da SEDUC-PA. Em seu artigo “Quando a educação se transforma em mercadoria”, ela analisa como a privatização da educação se intensifica por meio de parcerias duvidosas entre o setor público e empresas privadas.
Galzerano destaca que essas contratações bilionárias não necessariamente melhoram a qualidade do ensino, mas sim favorecem grupos empresariais e políticos, transformando a educação em um mercado altamente lucrativo. Sua análise reforça a necessidade de transparência e fiscalização sobre os investimentos no setor, especialmente quando envolvem quantias exorbitantes sem retorno claro para a população.
Essa perspectiva se soma às investigações do MPF e às reportagens do jornalista Adriano Wilkson, que têm exposto as conexões políticas por trás dessas contratações na SEDUC-PA.
Quando a tecnologia é cortina de fumaça na educação
A justificativa para grandes contratos na educação geralmente passa pelo discurso da inovação tecnológica. Plataformas digitais, sistemas de gestão e novos métodos de ensino são vendidos como soluções mágicas para os problemas do setor. Mas será que essas contratações realmente resultam em melhorias para alunos e professores?
A experiência mostra que muitas dessas tecnologias acabam subutilizadas, servindo apenas para justificar gastos exorbitantes. Sem acompanhamento e fiscalização efetivos, esses investimentos se tornam um ralo por onde escoam milhões de reais.
A promessa de digitalizar o ensino, equipar escolas com tablets e implementar plataformas de aprendizado online é sedutora. Políticos e gestores educacionais frequentemente utilizam esses projetos para demonstrar “avanço” na educação, sem que isso necessariamente reflita em melhorias reais para alunos e professores.
O problema é que muitos desses contratos milionários são firmados sem consulta a professores, sem análise de impacto real na aprendizagem e, muitas vezes, sem infraestrutura adequada para garantir seu funcionamento. O resultado? Salas de aula sem internet, professores despreparados para usar a tecnologia e alunos que continuam sem acesso à educação de qualidade.
No caso recente do Pará, o MPF investiga contratos milionários entre a SEDUC e a empresa Sudu Tecnologia Educacional, com indícios de irregularidades. O valor ultrapassa R$ 500 milhões, e a empresa tem vínculos políticos suspeitos. O que deveria ser um investimento em inovação pode, na verdade, ser um esquema de favorecimento financeiro.
O grande questionamento é: esses recursos realmente estão sendo utilizados para melhorar a educação ou apenas para beneficiar empresas específicas?
Quando a tecnologia se torna apenas um pretexto para grandes contratos e discursos políticos vazios, ela deixa de ser um avanço e passa a ser uma ilusão cara e ineficaz.
Quem paga essa conta?
O impacto de escândalos como esse é sempre o mesmo: escolas continuam com infraestrutura precária, professores mal remunerados e alunos sem acesso a um ensino de qualidade. Enquanto isso, contratos milionários seguem beneficiando empresas que, por coincidência ou conveniência, possuem ligações políticas estratégicas.
A cobrança do MPF é um passo necessário, mas não suficiente. É preciso que a sociedade acompanhe de perto essa investigação e pressione por mais transparência. Se a educação continuar sendo tratada como moeda de troca, os únicos prejudicados serão os estudantes e a qualidade do ensino público.
Afinal, até quando vamos permitir que a educação seja refém de interesses privados e jogos políticos?
Leia mais:
