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Colunista

Ailane Brito

Corrupção disfarçada de investimento: educação ou negócio?

Corrupção e interesses políticos drenam recursos da educação pública, perpetuando desigualdades e prejudicando alunos e professores em um sistema falido

Corrupção disfarçada de investimento: educação ou negócio?

Foto: Reprodução/ Canva

A educação pública no Brasil há décadas enfrenta desafios estruturais imensos: escolas sucateadas, professores mal remunerados, alunos sem acesso a materiais de qualidade e uma constante negligência por parte do poder público. No entanto, sempre que cifras bilionárias são destinadas ao setor, em vez de avanços concretos, surgem denúncias de corrupção, contratos suspeitos e favorecimento de empresas ligadas a interesses políticos. O caso envolvendo Rossieli Soares, atual secretário de Educação do Pará, ilustra mais uma vez como o orçamento público é apropriado para fins privados.

Segundo uma denúncia do Intercept Brasil, Rossieli teria direcionado aproximadamente R$ 500 milhões para a compra de materiais didáticos de uma empresa associada a um doador de sua campanha para deputado em 2022. Esse episódio expõe um padrão recorrente na política nacional: o uso do cargo público para beneficiar aliados, consolidar redes de poder e garantir a permanência dos mesmos grupos no controle dos recursos da educação. A repetição desse ciclo ao longo dos anos reforça a necessidade de uma fiscalização mais rigorosa e de uma gestão transparente, que coloque as necessidades dos alunos e professores acima dos interesses políticos.

Rossieli Soares: técnico ou político?

Rossieli Soares é frequentemente apresentado como um gestor técnico, acima das disputas partidárias. No entanto, sua trajetória sugere o contrário. Ele foi nomeado ministro da Educação no governo Temer, assumiu a Secretaria de Educação em São Paulo durante a gestão de João Doria e, agora, ocupa o mesmo cargo no Pará a convite do governador Helder Barbalho. Essa movimentação entre diferentes governos levanta um questionamento fundamental: quem realmente se beneficia de sua atuação? Os estudantes e professores ou grupos econômicos que enxergam a educação como um mercado lucrativo?

O recente escândalo envolvendo a compra de materiais didáticos reforça essa dúvida. Se o objetivo fosse, de fato, a melhoria do ensino, não seria mais estratégico direcionar esses recursos para a infraestrutura escolar, a valorização docente e o fortalecimento da educação básica? Investimentos estruturais não geram lucros diretos para empresas e aliados políticos, ao contrário de contratos milionários negociados sob pouca transparência.

A Educação como moeda de troca

A nomeação de Rossieli no Pará não aconteceu por acaso. Helder Barbalho, atual governador, pertence a uma família com forte influência política, cujos interesses se estendem de governos estaduais a Brasília. Ao indicar um nome experiente em administrar grandes orçamentos da educação, o governador assegura a continuidade de uma gestão financeira alinhada a interesses específicos. Sem mudanças estruturais significativas, a educação pública segue sendo utilizada como moeda de troca dentro do jogo político.

É urgente romper com essa lógica. O ensino público não pode ser reduzido a um esquema de perpetuação de poder e enriquecimento de poucos. Enquanto essa realidade persistir, nossos alunos continuarão sem merenda de qualidade, professores sem remuneração digna e escolas sem condições adequadas, enquanto bilhões de reais seguem fluindo para os mesmos grupos de sempre.

A pergunta que fica é: até quando a sociedade aceitará isso como normal?

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