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Ailane Brito

Amazônia: a promessa não cumprida pelo governo Lula

Desafios na Amazônia exigem compromisso real com a preservação, ações eficazes e equilíbrio entre desenvolvimento e meio ambiente sustentável

Amazônia: a promessa não cumprida pelo governo Lula

Foto: Miller dos Santos

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o poder com a promessa de priorizar a preservação da Amazônia, mas, até agora, os resultados têm deixado a desejar. Apesar dos discursos enfáticos e das promessas de combate ao desmatamento, a realidade no terreno mostra um cenário preocupante. A contradição entre as promessas de preservação e o apoio a iniciativas potencialmente prejudiciais ao meio ambiente levanta questões sobre a real prioridade do governo em relação à Amazônia.

É inegável que houve uma redução no desmatamento quando comparado ao governo anterior. Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) indicaram uma queda no desmatamento em 2023. No entanto, especialistas alertam que a destruição da floresta ainda ocorre em ritmo preocupante. Além disso, enquanto o desmatamento caiu em algumas áreas, a degradação florestal – provocada por queimadas e exploração madeireira ilegal – continua elevada.

Dados do Sistema de Monitoramento da Exploração da Madeira (Simex) comprovam que a exploração madeireira ilegal na Amazônia atingiu um novo recorde em 2024, com um aumento de 19% em relação ao ano anterior. O estudo também revelou que a exploração ilegal de madeira está se expandindo para as Terras Indígenas, com um aumento de 22% em 2024.

Uma das principais críticas ao governo Lula é a falta de efetividade nas ações de fiscalização. Embora tenha havido uma reestruturação de órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), os recursos destinados à fiscalização ainda são insuficientes para enfrentar a magnitude do problema. O orçamento destinado à prevenção e ao combate a incêndios florestais sofreu reduções notáveis.

De acordo com a Agência Pública, o IBAMA teve uma redução de 19,6% em seus recursos para essas atividades, passando de R$ 62,5 milhões para R$ 50,2 milhões em março de 2024. Esse valor é consideravelmente inferior aos R$ 120 milhões estimados internamente como necessários para uma atuação eficaz.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacou que os cortes orçamentários impactaram negativamente as ações de combate às queimadas, enfatizando a necessidade de ampliar os recursos e implementar medidas preventivas para evitar incêndios florestais. A atuação tímida e a lentidão na implementação de políticas mais rigorosas deixam brechas para a continuidade do desmatamento e da exploração ilegal.

Segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON), apesar das reduções no desmatamento, a degradação da floresta amazônica atingiu 26.246 km² entre janeiro e setembro de 2024, o maior índice em 15 anos, representando um aumento de 1.265% em relação ao mesmo período de 2023.

Além disso, o governo tem apoiado projetos controversos, como a exploração de petróleo na Margem Equatorial e a pavimentação de rodovias na região amazônica, ações que podem comprometer os ecossistemas locais. No entanto, o governo demonstrou interesse em continuar avaliando essa possibilidade, o que gerou críticas de ambientalistas.

“Eu defendo a exploração do petróleo, mas, antes disso, é essencial realizar pesquisas para confirmar sua existência e estimar sua quantidade”, afirmou Lula, na quarta-feira, em entrevista à rádio Diário. “O que não podemos permitir é essa discussão interminável que se prolonga sem solução — o IBAMA é um órgão do governo, mas às vezes parece agir como se fosse contrário às decisões governamentais.”

A gestão do governo Lula enfrenta dificuldades em estabelecer uma agenda ambiental que seja realmente transformadora. A falta de coordenação entre os diferentes ministérios, a ausência de metas claras e a lentidão nas respostas a crises ambientais demonstram uma fragilidade na condução das políticas para a Amazônia. Além disso, a retórica do governo sobre a Amazônia muitas vezes parece mais voltada para agradar à comunidade internacional do que para enfrentar os desafios internos. Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, uma coalizão que reúne 133 organizações ambientais, acadêmicas e da sociedade civil, criticou Lula à agência The Associated Press:

“O presidente Lula costuma afirmar que o Brasil deve liderar pelo exemplo, ampliar a exploração de petróleo não condiz com uma postura exemplar na agenda climática.” Nesse sentido, reitero a fala de Astrini: a exploração de novas fontes de petróleo próximas à Amazônia, pouco antes da COP30, comprometerá a credibilidade do Brasil como liderança climática.

Ao ampliar a busca por combustíveis fósseis em um momento em que o mundo busca a transição para energias limpas, o país transmite uma mensagem contraditória em relação aos compromissos ambientais assumidos. Se deseja liderar pelo exemplo, como defende o presidente Lula, a prioridade deveria ser o investimento em alternativas sustentáveis, e não a expansão da exploração petrolífera.

Diante desse cenário, é crucial refletir: o governo conseguirá equilibrar desenvolvimento econômico e preservação ambiental de forma sustentável?

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