O ódio tem se mostrado um elemento bastante trivial no dia a dia, principalmente no mundo virtual. De certa forma, as redes sociais potencializaram a maldade latente em muitos indivíduos, embora não seja algo exclusivo de nossos tempos, uma vez que, há muitos anos, Maquiavel já expressava uma ideia pessimista em relação ao homem, considerando-o traiçoeiro, violento e dissimulado.
De acordo com a Agência Brasil, no ano passado, mais de 74 mil denúncias de crimes envolvendo discurso de ódio pela internet foram encaminhadas para a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos da Safernet, organização de defesa dos direitos humanos em ambiente virtual. Esse foi o maior número de denúncias de crimes de discurso de ódio, em ambiente virtual, já recebidas pela organização desde 2017 e representou aumento de 67,7% em relação a 2021.
Às vezes é mais saudável ficar bem distante da toxidade da vida virtual, no entanto, o novo tempo, dependendo do ramo de trabalho, por exemplo, exige esse mergulho na convivência digital. É inevitável questionar a raiz de tanto ódio. O motivo seria o fato de a pessoa viver uma vida cheia de frustrações, inveja, ou uma total distorção do entendimento necessário para viver razoavelmente em harmonia? Egoísmo em sua mais pura essência? Ou será que o ambiente virtual é sinônimo de terra fértil para as mais diversas banalidades?
Um levantamento feito pelo grupo de trabalho criado pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania para investigar a propagação do discurso de ódio em ambiente digital, comandado pela ex-deputada Manuela D’Ávila, elencou inúmeros grupos, instituições e setores da sociedade que são mais atacados pelos discursos de ódio.
-Misoginia e a violência contra as mulheres;
-Racismo contra pessoas negras e indígenas;
-Ódio e violência contra a população LGBTQIA+;
-Xenofobia e violência contra estrangeiros e nacionais da Região Norte e Nordeste;
-Ódio e violência contra as pessoas e comunidades pobres;
-Intolerância, ódio e violência contra as comunidades e pessoas religiosas e não religiosas;
-Capacitismo e violência contra as pessoas com deficiência;
-Grupos geracionais mais vulneráveis ao contágio do extremismo: jovens e pessoas idosas;
-Atos extremistas contra as escolas, instituições de ensino e docentes e a violência decorrente do discurso de ódio;
-O ódio e a violência extremista contra instituições e profissionais da imprensa e ciência;
-Violência política, neonazismo e atos extremistas contra a democracia.
Aplicar a lei de forma eficaz é uma maneira de combater esse caos, mas, além disso, é importante que o Estado crie políticas educativas para tratar sobre o tema em escolas e universidades, sejam elas publicas ou privadas. É necessário refletirmos sobre nossas práticas e discursos, porém, mais importante, ainda, é ter a humildade para entender que nossas certezas e crenças absolutas nos deixam com uma tendência maior de reproduzir o ódio de cada dia. Sejamos os principais vigilantes das nossas ações.
Ericka Silva Rodrigues 01/08/23 - 23:46
Parabéns pelo excelente texto, tenho gostado bastante dos textos dos colunistas do Norte em Foco. Tenho sentido falta de mais volume de conteúdo atualizado, mas as colunas são de primeira qualidade.