Roraima – Uma tragédia abalou a aldeia Parima, localizada na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, na última segunda-feira (3), quando um ataque a tiros resultou na morte de uma criança e deixou cinco pessoas feridas. O incidente ocorreu em uma região que abriga uma base de apoio da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), responsável por prestar atendimento aos indígenas.
Assim que receberam a notificação do ocorrido, agentes da Polícia Federal, servidores da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), da Força Nacional e da Força Nacional de Saúde Pública foram imediatamente deslocados para o local, a fim de investigar o ataque e fornecer auxílio às vítimas. Entre os feridos, encontram-se crianças e adultos, alguns em estado grave.
Este não é o primeiro episódio de violência registrado desde o início da operação de desintrusão do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, que foi iniciada após a visita do ex-presidente Lula (PT) à região e a subsequente declaração de estado de emergência sanitária pelo Ministério da Saúde. A ação visa combater a exploração ilegal de ouro no território indígena.
No início deste ano, equipes de saúde que visitaram a região se depararam com as bases da Sesai em condições deploráveis, desabastecidas de medicamentos e alimentos, além de apresentarem altos índices de desnutrição e malária entre os indígenas. Tais condições são diretamente atribuídas à exploração ilegal do ouro e ao descaso na proteção do território.
De acordo com dados da Polícia Federal, o garimpo ilegal na Terra Yanomami quase triplicou em 2022, comparado a 2020, quando o monitoramento teve início. A área ocupada pelo garimpo passou de 14 km² em 2020 para 41,8 km² em 2022, representando um alarmante crescimento de 198% desde o início do monitoramento. Essa situação foi agravada pelas políticas do governo Jair Bolsonaro (PI), que incentivaram a atividade garimpeira e negligenciaram a proteção ambiental.
Ações de repressão ao garimpo ilegal são conduzidas principalmente pela Polícia Federal e pelo Ibama (Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais e Renováveis), com o apoio da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e da Força Nacional. No entanto, mais de um mês havia se passado desde o último registro de ataques ou confrontos no território Yanomami, até o trágico episódio desta semana, elevando para 15 o número total de mortos desde o início da operação de desintrusão.
Em abril deste ano, ocorreu um episódio de violência que marcou um ponto de grande tensão nas operações, quando garimpeiros mataram a tiros um indígena e feriram outros dois nas proximidades de Uxiú. Nos dias seguintes, nove corpos foram encontrados na região. Além disso, equipes da PRF e do Ibama foram recebidas a tiros em um garimpo durante uma ação de repressão ao crime organizado, resultando na morte de quatro garimpeiros e na apreensão de um grande arsenal de armas.
As circunstâncias que levaram ao ataque desta terça-feira ainda não são totalmente esclarecidas. No entanto, fontes que preferem manter o anonimato relataram à Folha que, na semana passada, uma operação de combate ao garimpo ilegal havia sido realizada na região. Além disso, mencionaram disputas históricas entre a aldeia de Parima e outras comunidades vizinhas.
A aldeia de Parma está situada em uma área próxima ao batalhão de fronteira de Surucucu, do Exército, e perto da fronteira com a Venezuela. Essa região abriga os últimos garimpos ativos dentro do território Yanomami. Segundo relatos anônimos, os garimpeiros têm adaptado suas estratégias de atuação, como o trabalho noturno, acampamentos na mata e até mesmo o enterramento de equipamentos durante o dia, dificultando a fiscalização.
(*) Com informações da Folha de São Paulo
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