Foto: Divulgação/ Assessoria
Manaus, AM – A cultura é um farol que orienta a existência de um povo, representando também um símbolo de resistência ancestral. Recentemente, a comunidade Kairiku Apurinã, situada no bairro Mauazinho, na zona Leste de Manaus, realizou o Desfile Apurinã, um evento que celebrou a identidade indígena por meio da moda e do grafismo tradicional. A equipe do Portal Norte em Foco esteve presente para acompanhar esse momento único, em que os próprios membros da comunidade desfilaram com roupas confeccionadas artesanalmente nas oficinas de grafismo. Antes do desfile, a programação contou com rodas de conversa, permitindo que os participantes compartilhassem suas vivências no contexto urbano e refletissem sobre a importância da valorização cultural.
Além de ser uma expressão artística, o grafismo Apurinã carrega significados profundos que vão além da estética. Durante o evento, um dos anciãos da comunidade foi convidado a narrar a origem desse grafismo, explicando seus traços, simbolismos e a relação com o contexto geográfico. Esse momento foi essencial para reforçar o respeito e a valorização dos mais velhos, que desempenham um papel fundamental na transmissão do conhecimento ancestral. Assim, o desfile não apenas exaltou a beleza dos trajes, mas também proporcionou uma verdadeira aula sobre a cultura Apurinã, reafirmando a importância da oralidade na preservação da história do povo.
Outro aspecto marcante do evento foi a acolhida oferecida aos convidados, que puderam imergir na riqueza cultural da comunidade. A harmonia entre diferentes gerações ficou evidente, demonstrando como os anciãos são pilares essenciais na construção da identidade coletiva. Embora a base da comunidade KairikuApurinã esteja na aldeia, ela também funciona como um ponto de encontro para os Apurinãs que vivem em áreas urbanas. Dessa forma, o desfile representou mais do que um evento cultural, pois reafirmou o compromisso da comunidade em manter suas raízes vivas, independentemente do contexto em que se encontram.
Jéssica Apurinã, uma das organizadoras do evento, destacou que essa foi a primeira edição do desfile de camisas pintadas com grafismos Apurinã, viabilizado por meio da Lei Paulo Gustavo. Segundo ela, a iniciativa também trouxe uma nova perspectiva ao fomentar o empreendedorismo entre as mulheres do Coletivo Apurinã, um grupo formado por talentosas artesãs que unem tradição e inovação. Inicialmente, o projeto envolvia apenas a pintura de camisas, mas, em um segundo momento, houve a ousadia de confeccionar roupas em algodão cru, que também receberam os traços característicos da cultura Apurinã. Essa evolução demonstra a força criativa do coletivo e sua capacidade de ampliar horizontes, transformando arte em uma oportunidade de geração de renda e valorização cultural.
Para o desfile, a comunidade reuniu crianças, jovens e anciãos, incluindo integrantes do Espaço de Estudo da Língua Materna e Conhecimentos Tradicionais Indígenas Amarini Arutã Apurinã. A participação de diferentes faixas etárias reforçou a ideia de que a transmissão do conhecimento precisa ser contínua, garantindo que as futuras gerações possam manter viva a identidade étnica do povo Apurinã. Assim, o evento não se limitou à estética, mas cumpriu um papel educativo e de fortalecimento cultural, ressaltando que a moda pode ser uma poderosa ferramenta de expressão e resistência.
É fundamental destacar que todo esse trabalho foi conduzido, principalmente, por mulheres da comunidade, que desempenham um papel essencial na preservação e difusão da cultura Apurinã. Entre elas, FrancisjaneApurinã, Maria Ivone (liderança da comunidade), JucyApurinã, JoelyApurinã, Iana Apurinã e LuardaApurinã se destacam pelo empenho em fortalecer suas tradições, conquistar espaço no mundo do empreendedorismo e inspirar as novas gerações. Com talento, dedicação e espírito de resistência, essas mulheres seguem iluminando caminhos e garantindo que a cultura Apurinã continue sendo um legado vivo e pulsante.
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