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Mulheres Guerreiras

É necessário que os educadores nadem contra a maré do silenciamento

Mulheres Guerreiras

Foto: Reprodução/ Canva

Muitas escolas, hoje, adotam, em suas metodologias de ensino, o sistema apostilado.

Nesse modelo, normalmente, a cada bimestre, é utilizada uma apostila, composta pelos conteúdos de todos os componentes curriculares a serem estudados, de forma padronizada e estruturada, para serem usados em todas as unidades da escola, que adota o sistema em qualquer cidade do país.

Em muitas ocasiões, as singularidades das várias regiões brasileiras são desprezadas.

Em um contato que tive com esse tipo de material, em uma das questões de um exercício de Geografia, do 3° ano do ensino fundamental, falava-se sobre o deslocamento através de metrô na cidade de São Paulo. Meu aluno perguntou: “o que é metrô, professora?”.

Manaus não tem metrô e a criança nunca esteve na capital paulista.

Em outro momento, elaborei um exercício extra, no caderno, sobre classificação silábica com palavras de origem indígena e comuns no estado do Amazonas. Outro aluno, ao ler a palavra curumim, perguntou-me o que significava.

Além desse padrão, baseado na realidade do estilo de vida das regiões Sudeste e Sul do Brasil, ainda permanecem nesses sistemas de livros didáticos a divulgação de uma concepção ideológica discriminatória que continua moldando o imaginário das crianças e jovens estudantes brasileiros.

Em uma determinada apostila, de Ensino Religioso, encontrava-se um capítulo intitulado “Mulheres Guerreiras”.

Das citadas, havia apenas uma ativista negra, americana. Dentre as outras, uma mulher branca brasileira do Sul do Brasil e as outras, a maioria, mulheres europeias e asiáticas.

Nenhuma mulher negra brasileira importante para nossa história e cultura aparecia na referida página da apostila.

Nas escolas não se fala sobre Maria Felipa, uma mulher escravizada, que ao conseguir sua alforria, passou a vender mariscos na praia e conseguiu armar uma estratégia de guerra, que evitou uma invasão marítima do território da Bahia, se tornando personagem importante para a independência desse estado, no século XVI.

Poucos conhecem Antonieta de Barros, jornalista e primeira deputada estadual negra da história do Brasil.

Pouco se cita Tereza de Benguela, líder de um quilombo no Mato Grosso, gestora econômica e política do local, em meados de 1700 que morreu heroicamente.

Esperança Garcia, nascida em 1751, primeira mulher negra escravizada que escreveu uma petição ao governador da capitania, na região do Piauí, denunciando os maus tratos da escravização, contra ela e a sua família, pedindo providências.

Recentemente, foi reconhecida pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB como advogada.

Não se conta a história da maranhense Maria Firmina dos Reis, escritora importante para a literatura romancista brasileira.

Nem de Laudelina de Campos Melo, mulher negra, fundadora da primeira associação de empregadas domésticas no país, na década de 30.

De Dandara Palmares, Carolina Maria de Jesus, Sueli Carneiro, Conceição Evaristo, Ruth de Souza, Djamila Ribeiro, Neusa Santos Souza, Petronilha Beatriz, Nilma Lino Gomes.

Não estou invalidando a história de vida e luta das mulheres a que o capítulo do livro dedicou. São relevantes em suas ações transformadoras.

O que se busca chamar a atenção aqui é que, deixando de mostrar às nossas crianças e jovens, na escola, a realidade da trajetória do povo negro, seus feitos e sua importância fundamental para a formação social brasileira, tira-se a oportunidade de que eles e elas conheçam a própria história e cultura.

Este fato pode implicar na permanência do discurso racista que coloca somente pessoas brancas como o modelo ideal heroico, estético e ético da sociedade.

É necessário que os educadores nadem contra a maré do silenciamento. Se o livro didático não mostra, que os professores e professoras contem a verdadeira história!

Que tenham a consciência de que destruir esse discurso é fortalecer a identidade do povo brasileiro, fortificando a autoestima das crianças e jovens pretos e pardos no nosso país.

É preciso reformar esse modelo de ensino do país, rompendo com uma narrativa que se arrasta por séculos, de constante apagamento da história do Brasil com a participação ativa dos povos originários, como realmente ocorreu.

Já existe uma lei que tornou isso obrigatoriedade, a Lei 10.639/03. Fica constatado, assim, que a mesma ainda não está sendo plenamente cumprida.

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1 Comentário

1 Comentário

  1. Welton Oda 17/10/23 - 11:44

    Concordo, Fanuela! Somos colonizados na escola o tempo todo, em pleno 2023

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