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Welton Oda

Uma ode ao amor da Sandy

Uma ode ao amor da Sandy

Foto: Divulgação / TV Globo

Sandy, a cantora e garota propaganda da cerveja Devassa, sempre foi uma moça de família, filha de uma relação aparentemente harmônica dos pais, o também cantor Xororó com Noely Pereira. Pouco se sabe das relações conjugais dessa família, porque, diferente de tantas celebridades, nunca foram dados a escândalos midiáticos ou à exposição de sua vida privada, ainda que também não estejam imunes a isso.

Lucas Lima e Sandy sempre aparentaram ser um casal feliz. É bem possível que tenham sido muito felizes, do tipo de casal inspirador que faz suspirar mancebos e donzelas românticos, em busca do amor de suas vidas. Viveram juntos por 24 anos, o que significa que ela é a companheira do mesmo homem desde os 16 anos. Mais da metade de sua vida juntos, numa decisão que foi tomada tão jovem e imatura.

Parte da sociedade se entristece pela expectativa daquele amor de novela, amor eterno, príncipe e princesa encantados, coisa e tal, o que é de se esperar, numa sociedade tão influenciada pelo amor romântico. Parte da sociedade se decepciona por questões morais, por valores da tal família cristã ou família tradicional, que gostaria de enclausurar o casal numa relação, mesmo que esta não fosse harmônica e saudável.

Poderia perguntar a qual modelo de família cristã os fundamentalistas se referem, mas prefiro perguntar como o fez o Pastor Henrique Vieira: “Estão se referindo ao modelo de Abrãao, um marido, três esposas, mais concubinas? Ou estão se referindo ao modelo de família do rei Davi, um marido, oito esposas, mais vinte filhos? Ou o modelo de Salomão, um marido, 700 esposas, 300 concubinas?”

Por coincidência, sou filho de uma longa relação conjugal, extremamente conflituosa e, na cabeça de meus pais, manter a relação desarmônica foi feito “em nome dos filhos”. Eu, que vivi nesse lar de brigas constantes, só me lembro que um dos dias mais felizes da minha adolescência foi quando ouvi dos meus pais a notícia da separação. A sensação foi de um alívio imenso. Apesar disso, ainda precisei conviver por alguns anos com mais conflitos e desavenças de meus pais que, com certeza, tiveram grande repercussão emocional na minha vida adulta.

Me tornei, por muitos anos, um adulto incapaz de cultivar relações saudáveis e até tentei enfiar na cabeça que as relações conjugais eram fadadas ao fracasso e que não queria mais isso pra mim. Lutei contra mim mesmo, é claro, afinal, poucos, numa sociedade tão influenciada pelo amor romântico conseguem escapar da projeção de uma vida feliz a dois. De fracasso em fracasso raras vezes pude contar com a solidariedade alheia a cada revés conjugal. Abro exceção para uma grande amiga, que percebendo o quanto eu estava, sinceramente, buscando, tentando, querendo acertar, me estendeu a mão num momento em que a vontade era de desistir.

E foi depois dos 50 anos, depois de eu ter recuperado a esperança no amor, de ter aprendido, com pancadas, com terapia e com minha amiga, que encontrei uma pessoa com quem estou certo, passarei o resto dos meus dias. Minha certeza vem da percepção de uma vontade comum, da sabedoria que só os cabelos brancos dão e, sobretudo, de que nunca estivemos enclausurados numa relação por vontade alheia. Vivemos a vida, assim como a Sandy quer viver, sendo garota propaganda da Devassa, separando aos 40, sendo dona de sua vida. Talvez ela esteja feliz por estar na pista novamente e eu não a reprovo. Talvez queira conhecer outros homens, transar loucamente, viver aventuras, sair, como Sidarta, dos muros do castelo, para conhecer o mundo.

Sandy foi feliz e fez Lucas feliz. Agora é momento de compreender que ela é uma mulher adulta e sabe o que fazer da sua vida, a despeito da opinião de parte da sociedade, ultraconservadora, infeliz e que acredita no casamento como uma obrigação, não como laço, mas como forca.

Que a Sandy, que amou por tanto tempo, continue amando, solteira, assim como hoje sou feliz com Evany, o amor da minha vida. Que seja feliz se um dia quiser casar e também se não quiser mais casar e, sobretudo, que cague para a opinião de quem não é feliz, mas quer meter o bedelho na vida alheia.

Viva a solteirice da Sandy!

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