Brasil – Estudo realizado por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV), da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e de instituições parceiras descreve o potencial terapêutico de um composto químico produzido por bactérias encontradas no solo de uma área de mineração de bauxita em recuperação no Pará. O composto demonstrou propriedades viricidas, bactericidas e foi capaz de eliminar células cancerosas sem danificar células saudáveis, segundo narram os cientistas em artigo publicado na terça (12) na revista “Scientific Reports”.
A pesquisa estudou o potencial farmacêutico de uma cepa da bactéria Pseudomonas aeruginosa, isolada do solo de uma mina de bauxita em processo de recuperação ambiental da região de Paragominas, no leste do Pará. O microrganismo produz um tipo de ramnolipídeo, um glicolipídio gerado por bactérias que demonstrou, nos testes, resultados promissores contra vírus e microrganismos patogênicos.
O estudo avaliou a toxicidade do composto em relação a três tipos de vírus (herpes simples, coronavírus murino e vírus sincicial respiratório), células de adenocarcinoma de mama metastático, diversas cepas bacterianas (Salmonella, E. coli, estafilococos) e fungos (Candida). Uma solução do composto, com uma concentração de 250 ?g/mL, inibiu 97% da atividade viral em todos os tipos de vírus testados. Resultados semelhantes foram observados com uma solução de 50 ?g/mL, por 15, 30 e 60 minutos, sugerindo que a eficácia viricida está relacionada ao tempo de exposição.
Para José Pires Bitencourt, do ITV e um dos autores do artigo, o composto “é uma substância que ajuda a bactéria a captar algum nutriente que seja interessante e ajuda na comunicação entre bactérias da mesma espécie”. Segundo ele, durante o estudo, todas as concentrações do composto diminuíram a viabilidade das células cancerígenas para menos de 50% em 72 horas, demonstrando um potencial antitumoral comparável aos níveis alcançados pela quimioterapia padrão.
Bitencourt explica que as condições ambientais do solo amazônico são propícias para compostos de interesse farmacêutico, como o estudado pela pesquisa. “Diferentes subespécies de bactérias encontradas em várias condições de solo produzem biossurfactantes, influenciadas por fatores como clima, evolução do solo, regime hídrico, interação com outros organismos e impacto humano”.
O pesquisador relata que não é possível afirmar que o composto de P.aeruginosa encontrada em um outro local ou período terá o mesmo potencial terapêutico. “Pode ser que daqui um ano a mesma bactéria, da mesma mina, tenha um conjunto de fatores diferentes e o composto não seja mais produzido”, diz Bitencourt. Para ele, isso aumenta a importância de incentivos para projetos que estudem a biodiversidade da região amazônica. “A microbiota da Amazônia é pouco estudada e nos impede de explorar a diversidade desses grupos, não apenas para uso médico, mas também para a agricultura e para a exploração mineral”, aponta o autor.
Bitencourt explica que ainda não há previsão para a aplicação industrial do composto, mas a continuidade da pesquisa é fundamental para o desenvolvimento de produtos futuramente. “Os próximos passos serão a otimização do cultivo para termos um crescimento mais rápido do microrganismo e fomentar a maior produção do ramanolipídio. Depois faremos o genoma completo para busca de outros mecanismos de interesse industrial”, conclui.
(*) Com informações da Agência Bori
Leia mais:
- Alerta de Saúde: Mineração ameaça comunidades indígenas no Tapajós
- Renascimento Sustentável: Quilombo das Américas é relançado com foco ambiental