Manaus, AM – Na Aldeia Waikiru, situada no bairro Tarumã em Manaus, o Projeto Wara: Uma Cuia de Poesia e Saberes Ancestrais foi desenvolvido com o intuito de resgatar e fortalecer a cultura Sateré-Mawé. A oficina de poesias, conduzida pela professora indígena Jeane Morepe’i, envolveu crianças e adolescentes em atividades que mesclaram literatura com os saberes tradicionais da comunidade, tendo o Wara, o guaraná ralado, como elemento central. Este projeto buscou não só promover a criação literária, mas também trabalhar a preservação dos conhecimentos ancestrais do povo Sateré-Mawé, especialmente para as novas gerações que vivem nas áreas urbanas.
O Projeto Wara surgiu da percepção da professora Jeane sobre a necessidade de produzir literatura indígena dentro do contexto bilíngue, já que, até então, não existia literatura Sateré-Mawé em sua língua materna. “A ideia era trabalhar com algo que fizesse parte da nossa realidade e cultura, já que não havia literatura Sateré-Mawé em contexto bilíngue”, explicou Jeane, destacando a importância de transmitir os saberes ancestrais para as crianças de maneira que elas pudessem se identificar. O Wara (guaraná), que é utilizado nas cerimônias tradicionais do povo Sateré-Mawé, foi escolhido como tema central para as oficinas. Durante o processo, a professora estimulou os participantes a expressarem sua criatividade por meio de desenhos, que posteriormente se transformaram em poesias.
Apesar das dificuldades enfrentadas, principalmente com a alfabetização de muitas das crianças, o projeto obteve resultados positivos. “Foi um desafio, mas conseguimos transmitir nossos conhecimentos e plantar a semente da poesia nessas crianças”, afirmou Jeane, refletindo sobre os obstáculos superados ao longo das quatro oficinas realizadas aos sábados. As crianças, inicialmente com pouca habilidade em leitura e escrita, participaram de atividades que as ajudaram a compreender e valorizar a poesia como uma forma de expressão e resistência cultural. Através dessa dinâmica, elas se conectaram com os elementos sagrados da sua cultura, revivendo o Wara e outros saberes ancestrais que haviam se enfraquecido ao longo do tempo.
O impacto do Projeto Wara foi significativo para a reafirmação da identidade cultural dos participantes, especialmente aqueles que moram em áreas urbanas. De acordo com a professora, o projeto não apenas incentivou a produção literária, mas também valorizou a língua e a cultura Sateré-Mawé. “A literatura bilíngue pode ser uma ferramenta poderosa para fortalecer nossa cultura e identidade”, afirmou Jeane. Para ela, a preservação da língua e dos costumes ancestrais é fundamental para que as novas gerações possam continuar a se reconhecer como parte desse povo e de suas tradições.
O projeto se configura como uma importante iniciativa de preservação da cultura indígena do povo Sateré, provando que, por meio da arte, é possível não apenas manter vivas as tradições, mas também transmiti-las de forma que as novas gerações possam se apropriar delas e manter sua identidade cultural intacta. Durante os encontros na Aldeia Waikiru, os participantes puderam vivenciar uma experiência única de aprendizagem, que, além de expandir seus horizontes literários, ajudou-os a se conectar com suas raízes. Como a professora Jeane ressaltou, “foi importante ver o retorno positivo dos participantes, pois pude contribuir para que eles tivessem contato com a produção de poesias e com o fortalecimento de sua identidade cultural”.
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