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Diálogos do Norte

Rosinaldo Cardoso fala das prioridades para o município de Óbidos

Rosinaldo Cardoso defende cultura, educação, agricultura e infraestrutura como eixos para políticas públicas voltadas ao desenvolvimento de Óbidos

Rosinaldo Cardoso fala das prioridades para o município de Óbidos

Foto: Arquivo pessoal

Lembranças do meu interior

(Rosinaldo Cardoso)

 

Lembro, com saudade, da minha infância no interior.

Conforto não havia, mas lá existiam a paz e o amor.

Papai, no estaleiro, com seus companheiros fazia embarcação;

Mamãe, na lavoura, era a garantia da alimentação.

 

Aos meus oito anos, fui para a escolinha aprender a lição.

Era muito simples, tudo improvisado em um barracão.

Na hora do lanche, o cutitiribá dava até confusão

Nas idas e vindas – porfia de canoa era a diversão.

 

Quanta saudade!

Quanta beleza!

Lembranças boas da minha Maria Tereza.

 

O tempo passou; hoje estou morando aqui na capital.

Dos muitos lugares por onde passei, não encontrei outro igual.

A bela paisagem, a tranquilidade, por lá ficou.

Mas, sempre que posso,

Eu volto correndo pro meu interior.

 

Com atuação política iniciada ainda na juventude, o vereador Rosinaldo Cardoso acumula experiências que conectam mobilização comunitária, cultura popular e representação institucional. Nascido na comunidade ribeirinha Maria Tereza, desenvolveu sua trajetória entre o meio rural e o urbano, com passagens pela Secretaria de Cultura do município, lideranças de bairro em Belém e três mandatos legislativos em Óbidos. Articulando saberes adquiridos em movimentos sociais, vivências comunitárias e atuação pública, defende pautas ligadas à infraestrutura urbana, turismo, agricultura familiar, fortalecimento das políticas sociais e, principalmente, valorização da cultura como eixo estruturante para o desenvolvimento local.

Nesta entrevista, Rosinaldo detalha projetos em andamento e propõe ações voltadas ao planejamento público, com ênfase na ampliação de serviços, integração territorial e resgate da identidade histórica e cultural obidense. A conversa aborda temas como o papel da cultura no ordenamento do território municipal, os desafios da mobilidade urbana, as possibilidades econômicas ligadas ao porto de Óbidos e as estratégias para incentivar a juventude a permanecer nas comunidades rurais. Acompanhe a entrevista na íntegra.

Quem é Rosinaldo Cardoso?

Sou uma pessoa de 62 anos, nascido na comunidade ribeirinha da Maria Tereza, filho de Francisco Sales Moraes Cardoso e Rosa Guimarães Cardoso. Morei lá, onde comecei a estudar o abecedário até a 1ª série. Tínhamos uma grande satisfação em remar, porfiando alegremente para ir e voltar da escola. Vim para a cidade aos 11 anos para estudar na Escola São Francisco.

Quando me desenvolvi um pouco, comecei a participar do movimento jovem da Igreja Católica. Através dele, nos envolvemos em vários programas culturais. Um deles foi a criação do primeiro Festival da Canção Obidense, coordenado por mim, meu saudoso compadre Jonas Cordeiro e Jerônimo Cerdeira. Foi o primeiro passo cultural que demos, coordenado pelo grupo de jovens do qual eu era presidente.

Esse evento aconteceu em 1984. Foi tão impactante que, em 1985, levamos 20 músicos para Belém e gravamos um LP, com apoio dos amigos de Óbidos e acolhimento da colônia obidense na capital.

Apesar de termos divergências políticas, o Haroldo Tavares me convidou, em maio de 2005, para ser secretário de Cultura de Óbidos. Nesse cargo, desenvolvi várias atividades: jogos cívicos estudantis, continuidade ao Festival da Canção Obidense, apoio à Maratona de Sant’Ana, entre outras ações.

Antes disso, representei Óbidos no Festival do Baixo e Médio Amazonas, em Santarém, por três edições, chegando até as finais com uma música de minha autoria em parceria com Sérgio de Andrade.

Com a repercussão dos festivais e dos LPs, fui ficando conhecido na região. Em 1990, amigos artistas me chamaram para ir a Belém. Comecei a divulgar minhas músicas e fui convidado a participar de programas de TV por Kzan Lourenço, Everaldo Lobato e Wilton Calazans.

Fiquei famoso, mas sem retorno financeiro. Como não conseguia conciliar a vida artística com o sustento, abandonei a carreira e virei taxista. Um dia, encontrei um historiador no táxi e contei sobre a história de Óbidos. Ele se impressionou. No dia seguinte, saiu no jornal: “Taxista revela que já foi secretário de Cultura de Óbidos.”

Isso me deu ânimo. Em 1990, eu comercializava farinha no Amapá. Ao retornar, num bar, um grupo procurava quem quisesse “dar uma canja”. Me apresentei. Um produtor de São Paulo me viu cantar e perguntou se eu era cantor. Disse que sim, e ele me chamou para seu escritório.

Gravamos, em 1996, o CD O Lavrador, com músicas que fizeram sucesso em Parintins, Óbidos, Santarém e Manaus, como Correria, Minha Amada e Se Um Dia Ela Voltar.

Continuei gravando. Em 2005, fundei o Trio Recordações. Já havia trabalhado em Brasília com o deputado Gerson Peres e depois com o governador Simão Jatene.

Voltei a Óbidos, fui candidato e, em 2012, conquistei a última vaga com mais de 400 votos. Em 2016, fui o mais votado, com 1.076 votos. No Muratubinha, por exemplo, em 2012 tive um voto; em 2016, 69.

Meu partido me lançou candidato a deputado estadual em 2018. Apoiado por Nivaldo Aquino, obtive seis mil votos em Óbidos, 1.174 em Belém e votos em 71 municípios, somando aproximadamente nove mil. Fui o primeiro suplente do Patriotas, partido que elegeu Raimundo Santos.

Em 2020, fui candidato a prefeito. Estávamos em segundo lugar, mas contraí Covid-19 faltando três semanas para a eleição. Ainda assim, fiquei em terceiro. Em 2024, decidi me candidatar novamente e voltei ao Legislativo para o meu terceiro mandato.

Em Belém, fui líder comunitário por vários mandatos, o que ajudou na minha votação expressiva, mesmo não morando mais lá.

Como a sua história de vida se conecta às realidades sociais e culturais de Óbidos, e quais são as suas principais bandeiras no Legislativo?

A minha principal bandeira é a luta pela cultura do nosso município. Acredito que o nosso patrimônio histórico é fundamental. Óbidos depende disso: da preservação da nossa cultura e história. Quando os obidenses entenderem que nosso principal alicerce deve ser a cultura e o turismo, vamos crescer muito mais.

Já pensou se tivéssemos navios encostando aqui mensalmente, trazendo estrangeiros e turistas para conhecer nossa história e gerar recursos para o município? Por isso, recentemente, pedi ao prefeito que colocasse pessoas, principalmente jovens, como guias turísticos nos órgãos públicos.

Por exemplo, pouca gente sabe que a Igreja de Sant’Ana levou 40 anos para ser construída. Quem iniciou essa obra? Poucos sabem. Poucos também sabem por que o quartel de Óbidos foi construído, ou lembram da importância da cidade na época da Cabanagem — quando Óbidos foi o único município a enfrentar e expulsar os cabanos.

Depois dessa expulsão, os cabanos voltaram e, para pagar promessa, ergueram uma cruz onde hoje é a Pracinha do Ó e construíram a Igreja do Bom Jesus.

A história de Óbidos é linda, mas muitas vezes nem o próprio obidense a conhece. O quartel, por exemplo, tem mais de 100 anos. O Forte de Óbidos ficou obsoleto porque os canhões não alcançavam mais os invasores. Por isso, foi construída a Fortaleza Gurjão.

A parte cultural é fundamental. Nossa principal bandeira.

Além disso, a infraestrutura também é prioridade. Sem ela, como vamos desenvolver o município? Eu também luto pela integração regional, começando por Óbidos. Meu grande sonho é ver Óbidos interligada a Boa Vista.

Por quê? Porque toda a soja que sai de Roraima vai para Manaus para depois descer para cá. Mas poderia escoar diretamente pelo porto de Óbidos, que tem o maior calado da região.

Imagina um porto para desembarcar bauxita, escoar soja da Calha Norte e enviar calcário — que temos em Alenquer e Monte Alegre — para Roraima.

Óbidos ganharia com isso. Antigamente, Oriximiná era distrito de Óbidos. Mas Magalhães Barata, por represália aos obidenses que o denunciaram quando ele estava refugiado, prometeu que, se assumisse o governo, transformaria Óbidos em “porto de lenha”. E assim fez: deixou a cultura e a história com Óbidos e deixou as riquezas com o município de Oriximiná.

Óbidos tem filhos ilustres, como José Veríssimo, Inglês de Sousa, Francisco Manoel Brandão e Pedro Pomar, que foi deputado federal e morreu na guerrilha, na ditadura militar.

Como aconteceu a sua entrada na política, quais são as suas motivações, e como está sendo a experiência de representar o povo obidense no Legislativo?

Sempre tive o anseio de fazer algo pela população. Desde jovem, no movimento da igreja, já existia esse desejo. Em 1998, fui candidato a vereador e fiquei como primeiro suplente. Como o nosso partido era pequeno e só elegeu um vereador (o Max Hamoy), fiquei bastante frustrado e decidi que não queria mais participar da política.

Fui para Belém. Lá comecei a me movimentar, buscando soluções para os problemas sociais do meu bairro. Fui eleito presidente comunitário por apelo popular. As pessoas começaram a me chamar de “vereador de lá”, porque eu corria atrás: consegui asfaltamento, poços artesianos, iluminação pública, delegacia… Sempre com luta coletiva.

Às vezes, fechávamos ruas, organizávamos protestos. Uma vez, por exemplo, fizemos um protesto porque o nosso bairro tinha muitos clubes e, nos fins de semana, o fluxo de pessoas aumentava muito. Mesmo assim, a empresa de ônibus reduzia o número de coletivos. Fizemos protesto, não atenderam. Bloqueamos o acesso. Aí, dobraram a quantidade de ônibus.

Com essas lutas, ganhei certa notoriedade. E não foi à toa que, mesmo sem morar mais em Belém, obtive mais de mil votos na eleição para deputado.

A vontade de ser vereador sempre foi movida pelo desejo de ajudar a população. E já conseguimos bastante coisa. Por exemplo, trouxemos diversos cursos de qualificação para cá, com apoio dos nossos parlamentares: Josué Paiva, Priante, Gerson Peres, entre outros.

Só pelo SENAI, ajudamos a formar 548 pessoas com cursos como: Mecânica de motos; Mecânica de motores de popa; Eletricista predial; Pedreiro; Costureiro; e Informática básica e avançada.

Esses cursos foram realizados tanto na cidade quanto nas comunidades: São José (quilombo), Arapucu, Curumu, e aqui em Óbidos. Formamos jovens e adultos que hoje estão inseridos no mercado de trabalho. Isso me deixa muito feliz.

Quais são, em sua avaliação, os problemas mais urgentes de Óbidos? Como o Poder Público pode enfrentá-los de forma mais eficaz?

Temos vários problemas a enfrentar. O principal, sem dúvida, é a infraestrutura. Nossa cidade é íngreme, cheia de ladeiras e barrancos — diferente de cidades planas, onde você faz uma rua de piçarra e ela dura entre 8 e 10 anos. Aqui, o gestor termina de fazer e, com a primeira chuva, a rua é levada.

Por exemplo, em Manaus, quando abrem uma rua, já entram com asfalto, porque têm mais recursos. Aqui, se não for bem feito, vira problema.

Apesar disso, a infraestrutura de Óbidos melhorou muito. Hoje, temos diversas ruas saneadas. O bairro onde moro, Fátima, está muito bem estruturado: ruas concretadas, algumas asfaltadas. O bairro Santa Terezinha deve ter sua concretagem concluída ainda este ano.

O governo municipal tem enfrentado muitos desafios, principalmente devido às fortes chuvas que assolam o município e provocam erosão. As ruas com relevo acidentado sofrem bastante.

Além disso, ao longo de mais de 300 anos de existência, Óbidos recebeu poucos investimentos em infraestrutura. Só nos últimos 20 anos começamos a ver mudanças mais concretas. O bairro de Fátima foi o primeiro saneado. Agora, com recursos que conseguimos com o deputado federal Priante, e com a contrapartida da prefeitura, o próximo a ser saneado será o bairro do Perpétuo Socorro. A situação lá é crítica: ou tem buraco ou é areia fofa, dificultando o tráfego.

É importante destacar que Óbidos é um município de baixa arrecadação. Não temos mineradoras como Terra Santa, Juruti ou Oriximiná. Por isso, precisamos investir forte na agricultura, e a secretaria já está fazendo isso.

A EMATER, nesta nova gestão, também está mais atuante. Me entristece saber que a banana que comemos, em sua maioria, vem de Alenquer. Temos potencial, mas falta incentivo e estrutura.

Na questão da agricultura familiar, o que o senhor acredita que pode ser feito para incentivar a juventude a fazer essa retomada, onde as pessoas não precisem apenas sobreviver, mas viver dignamente, com conforto a partir das atividades agrícolas?

Hoje, graças a Deus, a gente já tem como escoar a produção. A estrutura do município está dentro das possibilidades. Às vezes, claro, fica complicado por causa das fortes chuvas, que atrapalham esse escoamento.

Mas o incentivo da Secretaria de Agricultura e da EMATER está acontecendo de forma concreta. Ainda assim, eu penso que seria necessário fazer um plano piloto, investindo pesado em uma comunidade que sirva de modelo para as demais.

Por exemplo: imagine pegar a comunidade Muratubinha, aplicar um projeto bem estruturado lá e dizer para os demais:

“Olha, deu certo aqui. É só fazer como o pessoal do Muratubinha que você vai ganhar dinheiro e viver bem da agricultura familiar.”

Houve avanços importantes. No governo Jaime Silva, a agricultura familiar teve um salto. Através da nossa articulação com a EMATER, conseguimos um engenheiro agrônomo para fazer e assinar os projetos do PRONAF — algo que antes não havia.

É aí que entram os recursos: Banco do Brasil, Banpará, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia — todos têm linhas de crédito com bastante recurso para o agricultor.

Mas precisa do quê? De documentação e projetos bem feitos. Quem faz isso é a EMATER.

Por isso, deixo uma sugestão a todos os agricultores que querem desenvolver sua produção: procurem a EMATER. Ela ajuda a chegar a um financiamento com juros baixíssimos, dando oportunidade de crescimento real para o produtor.

Alenquer, por exemplo, tem todos os órgãos estaduais e federais voltados para a agricultura, e a produção de lá é muito forte. Em Monte Alegre também. A EMATER de Monte Alegre tem até três caminhonetes; está anos-luz à frente da nossa.

A EMATER de Óbidos, agora, está sendo fortalecida graças ao incentivo do deputado Josué Paiva, que já trouxe veículos e ajudou a conseguir dois novos funcionários. Porque as coisas vão envelhecendo, se desatualizando, e é preciso renovar.

Acredito, sim, que a agricultura familiar pode ser um grande impulsionador da economia do município: gera renda, empregos diretos e indiretos, e movimenta a demanda por bens e serviços.

Na área da educação, o que avançou nos últimos anos e o que precisa ser melhorado, principalmente nas áreas rurais e ribeirinhas?

Na última gestão, algumas escolas foram fechadas, o que gerou revolta popular. A gente até entende algumas dessas decisões, porque é necessário acabar com a situação de multisseriação, em que um professor leciona para cinco séries ao mesmo tempo, numa única sala.

Isso prejudica muito o rendimento escolar. Hoje, o município de Óbidos tem investido fortemente no transporte escolar, levando os alunos das pequenas comunidades para as escolas polo nos centros maiores.

Por exemplo, a escola de São Lázaro atende estudantes da Santa Cruz, do Livramento e até de áreas próximas à cidade. Esses alunos são transportados diariamente para uma escola com estrutura melhor e professores para todas as séries, o que representa um grande avanço.

Antigamente, até o 5º ano era tudo multisseriado, com apenas um professor para todos os alunos. Isso não pode mais continuar, senão nunca vamos avançar de verdade na educação.

Na parte estrutural, também houve melhorias. Desde que estou no Legislativo, percebo que várias escolas foram reformadas ou ampliadas. No entanto, ainda há escolas — algumas construídas há mais de 12 anos — que nunca receberam manutenção preventiva. Isso precisa ser feito com urgência.

Também há boas notícias: hoje temos cursos superiores através da UFOPA. E no próximo ano será ofertado o curso de Direito, o que vai engrandecer ainda mais o nosso município.

Essa conquista só foi possível graças à luta dos nossos governantes, que batalharam para trazer a UFOPA para cá. Há 20 anos, para ter ensino superior, a pessoa tinha que ir para Manaus, Belém ou Santarém.

Hoje, temos cursos de Pedagogia, História e outros. O jovem pode estudar e trabalhar em seu próprio município. Além disso, o IFPA também oferece vários cursos, e isso representa um grande avanço para nossa comunidade.

Acredito que, de modo geral, a educação em Óbidos evoluiu muito nos últimos anos, embora ainda existam pontos a melhorar.

O senhor já defendeu várias vezes a implantação da Usina da Paz em Óbidos. O senhor pode explicar o que é esse projeto e como ele funciona?

A Usina da Paz é um projeto audacioso e inovador, criado pelo governo do governador Helder Barbalho. É tão bem estruturado que o governador já percorreu vários países como palestrante, para apresentar essa iniciativa.

Governador do Pará, Helder Barbalho, e Rosinaldo Cardoso. Foto: Arquivo pessoal

O mais interessante é que o governo não tira recursos dos cofres públicos para construí-la. Foi uma jogada de mestre: o governador articula com grandes investidores que pagam impostos nas regiões e permite que parte desse imposto seja revertido na construção da Usina da Paz.

No caso de Óbidos, quem está investindo é a Alcoa, com aproximadamente 60 milhões de reais.

Esse projeto tem um alcance social enorme. A Usina da Paz vai tirar crianças e jovens da situação de vulnerabilidade, oferecendo oportunidades reais: prática esportiva, teatro, natação e diversas outras atividades educativas e culturais.

Não tenho dúvidas de que isso vai gerar emprego e renda. Serão necessárias dezenas de profissionais capacitados para atuar dentro do espaço, atendendo centenas de crianças e jovens.

Onde a Usina da Paz chega, ela transforma realidades. E eu parabenizo o governador Helder Barbalho por essa iniciativa, especialmente por ter incluído Óbidos entre os municípios contemplados.

No total, o estado do Pará terá 28 Usinas da Paz, entre construídas e em construção, e Óbidos é a única da Calha Norte a receber o projeto.

Essa conquista está se concretizando graças à articulação do prefeito Jaime Silva, que batalhou para trazê-la até aqui.

Durante o período das enchentes, muitas famílias são afetadas, principalmente nas comunidades ribeirinhas. Diante disso, como o seu mandato tem atuado diante dessa situação?

Hoje em dia, os ribeirinhos não sofrem tanto quanto antes com as enchentes. O sofrimento maior acontece com a escassez de recursos, especialmente do peixe, que é o alimento principal deles. Quando a enchente é muito grande, o peixe some, e isso afeta diretamente a alimentação das famílias.

Nesse contexto, nós solicitamos à prefeitura que, através da Defesa Civil, em parceria com a Secretaria de Assistência Social, realize avaliações e cadastros das famílias atingidas, para que possam receber ajuda emergencial: água potável, cestas básicas, medicamentos e outros itens essenciais.

Hoje, o município dispõe de um ferry boat que pode atender os ribeirinhos na área da saúde. Esse barco já tem realizado atendimentos em várias localidades.

Também temos contribuído com a distribuição de cestas básicas, oriundas de recursos do município, do governo federal e do governo estadual. Além disso, entidades como os quilombolas e a Colônia dos Pescadores têm ajudado bastante, e a gente agradece muito por esse apoio.

O meu papel, como vereador, é solicitar aos nossos deputados a destinação de recursos para aquisição de materiais e estrutura que atendam essas comunidades.

Hoje, graças a Deus, é raro ver casas indo ao fundo d’água. Isso porque os ribeirinhos já aprenderam a se adaptar: levantaram suas casas e estão muito mais preparados para enfrentar as cheias. Isso é fruto de conhecimento, experiência e organização comunitária.

Quais são os principais desafios enfrentados ao longo do seu mandato, e quais sonhos o senhor deseja realizar como representante do povo obidense?

Tenho um sonho muito grande: promover o desenvolvimento de Óbidos em parceria com a sociedade, pensando sempre no bem-estar coletivo.

Por exemplo, como político, sonho com a construção de um porto de grande estrutura, como já tivemos no passado. Na década de 1970, Óbidos tinha o segundo principal porto do Pará, em volume de movimento. Tínhamos um navio atracado e mais três esperando para descarregar.

Hoje, infelizmente, nem porto de atracação nós temos. O que existe é particular e improvisado. As embarcações “encostam como dá”.

Meu sonho é ver um porto estruturado, com capacidade para atender essa demanda. Uma vez, falei na Secretaria de Portos e Hidrovias que o terminal que estão construindo aí mal vai servir para atracar lanchas. Isso porque Óbidos, depois de Santarém, é o município com maior movimentação na Calha Norte e está localizado na Garganta do Rio Amazonas — ou seja, todo mundo passa por aqui.

Outro exemplo: a rua Antônio Fernandes, recebe toda a água da Cidade Nova, parte de Lourdes, Fátima e Santa Terezinha. Lá, precisa ser feita uma grande macro drenagem. Isso envolve desapropriações, canalização e proteção das nascentes que deságuam no Laguinho.

O Laguinho tem várias nascentes: uma no Bela Vista, outra entre Bela Vista e Cidade Nova, outra entre Fátima e Cidade Nova, e ainda uma do outro lado, no terreno do Canto. Essas nascentes precisam ser preservadas e protegidas.

Se conseguirmos estruturar essa drenagem, com recursos que estamos solicitando ao deputado federal José Priante — algo em torno de 50 milhões de reais —, vamos dar um salto enorme na infraestrutura de Óbidos.

E, claro, com o porto em funcionamento, aproveitando a área da antiga AABB, onde oito famílias perderam suas casas, vamos poder oferecer uma estrutura digna para a nossa cidade.

Enquanto artista, qual é o seu grande sonho que o senhor está planejando realizar?

Hoje, continuo à frente do Trio Recordações, que fundei há 20 anos, em Belém. Tocamos todos os fins de semana aqui em Óbidos e na região. Fico muito feliz por ser reconhecido pelo meu trabalho musical por onde passo.

Mas o que mais desejo com a música é incentivar e ajudar quem está começando, tanto na música quanto na literatura.

Já colaborei, por exemplo, com o escritor Sérgio de Andrade, ajudando na publicação do livro Pinceladas Poéticas, através da Lei Idelfonso Guimarães.

Tenho o sonho de lançar um livro de crônicas e poesias, pois já tenho mais de 500 textos guardados — entre músicas, poesias e crônicas. Apesar de já ter gravado em torno de 11 CDs, 3 DVDs e participado de 2 LPs, além de ter composto cerca de 55 músicas, a maioria das gravações que lancei foram regravações de outros artistas.

Quero mudar isso. Quero realizar esse sonho e, além disso, criar um selo editorial em Óbidos, que também atenda toda a Calha Norte. A ideia é fazer de Óbidos uma referência editorial, um polo onde escritores possam publicar seus livros com dignidade.

Tenho certeza de que muitas pessoas se voltariam a Óbidos e viriam fazer seus lançamentos aqui, ajudando a movimentar a economia criativa local.

Que mensagem o senhor gostaria de deixar para o povo obidense?

A mensagem que eu deixo para o povo obidense é sobre o orgulho em valorizar o que é nosso. Eu tenho uma preocupação muito grande quando vejo muitas pessoas denegrindo a imagem do nosso município. Óbidos é grande demais. Temos coisas maravilhosas que precisam ser divulgadas por nós, que somos políticos.

E, ao invés de exaltarmos as nossas grandezas, muitos ficam falando mal da cidade. E, quando isso vai para o campo político, em que se denigre a imagem de um gestor ou de um político, o ataque não é somente ao político, mas também ao próprio município.

Nós temos que reconhecer que Óbidos é uma das principais cidades do oeste do Pará. Tem o melhor carnaval de rua do estado, tem riquezas fantásticas — culturais, históricas, turísticas e outras tantas potencialidades.

O que eu quero é que os obidenses se unam por uma Óbidos cada vez melhor, e isso não acontece quando os próprios representantes eleitos atacam o município, por exemplo.

É preciso multiplicar a esperança de mudança e agir por melhorias, sem ego, mas com a humildade de quem persevera e ama sua cidade. É preciso entender que situação e oposição representam o povo e, mesmo estando em lados diferentes, devem dialogar pelo desenvolvimento do município.

O mandato é passageiro, mas o legado pode ser eterno.

E é importante reconhecer o legado do prefeito Jaime Silva, que ficará eternizado, por exemplo, com a chegada do IFPA — algo que foi luta dele e da sua equipe.

A entrevista com Rosinaldo Cardoso evidencia os principais pontos de sua atuação parlamentar, com destaque para iniciativas nas áreas de cultura, infraestrutura, educação, agricultura e assistência às comunidades ribeirinhas. Ao relatar experiências acumuladas desde a década de 1980, o vereador enfatiza a importância da articulação entre os entes federativos, da presença do Estado em territórios historicamente marginalizados e da escuta das comunidades como base para o planejamento de políticas públicas. A defesa da cultura como patrimônio coletivo e estratégia de desenvolvimento é apresentada como prioridade de seu mandato.

A fala do entrevistado contribui para o debate sobre políticas públicas e desenvolvimento em Óbidos, abordando temas como o escoamento da produção agrícola, o funcionamento de programas de capacitação técnica, a relevância da Usina da Paz e o papel da educação superior no interior amazônico. A entrevista integra a série “Diálogos do Norte”, voltada à divulgação de perspectivas e ações de agentes políticos, sociais e culturais da região Norte.

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