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Welton Oda

Misoginia médica: a simbólica cena de masturbação coletiva

De Hipócrates, o Pai da Medicina, conhecido pelo juramento, feito até hoje, por médicos, em sua formatura, a hipócritas, que juram em falso e cometem crimes contra a mulher cotidianamente, há muito que mudar na formação do médico no Brasil

Misoginia médica: a simbólica cena de masturbação coletiva

Foto: Reprodução

A grotesca cena de simulação de masturbação coletiva protagonizada por estudantes de Medicina da Universidade Santo Amaro, em São Paulo, nus, em evidente atentado ao pudor durante um torneio esportivo feminino, viralizada recentemente, ocorreu, na verdade, em abril. A universidade, a coordenação do curso, todos sabiam do ocorrido, mas somente agora, após ganhar repercussão nacional, tomou-se alguma providência.

Providência pífia, pois somente seis dentre as dezenas de estudantes punheteiros foram identificados e expulsos do curso. Todos os demais continuam impunes. Aliás, a impunidade é a regra quando se trata do Conselho Federal de Medicina, que alivia a barra de médicos abusadores e misóginos, de forma geral. A impunidade é tão grande que permitiu, por exemplo, que, no caso mais conhecido da história brasileira, o médico estuprador serial Roger Abdelmassih cometesse 52 estupros, além de outras quatro tentativas e, somente após toda essa vida dedicada ao crime, fosse, enfim, condenado. Sua pena foi de 278 anos de prisão, em 2010. Apesar disso, entre habeas corpus, prisões domiciliares, internações fraudulentas e uma fuga do país, fizeram com que passasse mais de dez anos entrando e saindo da prisão.

E o grotesco não para. Imaginem um médico anestesista formado, atuante que, durante um parto, estupra sua paciente, sedada? Por mais absurdo que seja, no ano passado, Giovanni Quintella Bezerra foi preso em flagrante pelo abominável e incompreensível crime, um ato de desumanidade digno de médico nazista. O mesmo crime hediondo praticou o médico colombiano Andres Eduardo Carrillo, no início deste ano.

A violência obstétrica, por exemplo, praticada por milhares de médicos no Brasil, é o ato misógino mais frequentemente acobertado por esta comunidade. Mulheres em trabalho de parto estão num dos momentos mais vulneráveis de suas vidas, mas nem por isso recebem qualquer proteção. Pesquisa recente mostra que uma entre cada quatro mulheres sofreu violência obstétrica no Brasil, uma verdadeira calamidade pública, capaz de deixar sequelas irreversíveis. Apesar da luta incansável de advogadas como Natália Demes, a impunidade ainda é a regra. O parto, no país, sobretudo em maternidades particulares, é tratado como uma fábrica de dinheiro e, por isso, médicos se utilizam de inúmeros procedimentos irregulares para acelerar o parto, como a prática da episotiomia, um corte feito pelo médico na região do períneo da parturiente, ou a manobra de Kristeller, que consiste em pressionar o útero, usando o peso do corpo do médico, para, em tese, facilitar a saída do bebê. Obviamente, realizam tais procedimentos, inadequados e obsoletos, sem qualquer consentimento da mulher.

Da misoginia e da violência médica, nem as próprias colegas médicas escapam. Pesquisa realizada no Reino Unido, publicada pelo British JournalofSurgery, mostrou que 63% das médicas afirmaram ter sido vítimas de assédio por parte de seus colegas de jaleco, enquanto outros 30% relataram ter sofrido agressão sexual, enquanto outras foram vítimas de estupro cometido por médicos. Obviamente, isso ocorre também no Brasil e contam com a cumplicidade do Conselho Federal de Medicina.

De Hipócrates, o Pai da Medicina, conhecido pelo juramento, feito até hoje, por médicos, em sua formatura, a hipócritas, que juram em falso e cometem crimes contra a mulher cotidianamente, há muito que mudar na formação do médico no Brasil. Um bom começo seria inserir a temática no currículo dos cursos de Medicina. Fica a dica!

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