É óbvio que nenhuma pessoa sensata poderia imaginar a figura de Jesus associada à violência, à extorsão ou a grupos paramilitares de direita. Mas de pessoas sensatas, esse mundo anda carecendo. Então, o que mais se vê é a figura caricata de instituições autodenominadas cristãs, nas quais tudo pode, desde fazer apologia a armas e a violência, a ter um líder religioso defendendo abertamente a pedofilia, relatando como assediou sua própria filha. Isso sem contar pregações de ódio, como a de Silas Malafaia e de intolerância contra diversos grupos minoritários, homofobia, transfobia, racismo, etc.

Na última semana, o Brasil foi surpreendido pela notícia da morte da ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, mas surpresa maior foi revelada nos dias seguintes à tragédia, com a prisão de boa parte de sua família, envolvida, segundo a investigação policial, num escândalo de crimes praticados por integrantes de uma seita cristã que pregava o uso da cetamina em rituais nos quais, os líderes asseguravam que os usuários iriam transcender à outra dimensão e alcançar um plano superior e a salvação.

Os integrantes dessa seita, assim como inúmeros pastores, Brasil afora, estavam envolvidos com o tráfico de drogas, sendo que muitas igrejas são a verdadeira “tábua de salvação” de traficantes presos que, por passarem a se integrar a igrejas neopentecostais, acabam tendo sua pena reduzida por, em tese, bom comportamento. Já visitei um presídio de Manaus que possuía uma de suas três alas compostas, exclusivamente, por evangélicos. É o chamado Pavilhão dos Crentes.

O caso da seita de Manaus talvez represente o absurdo dos absurdos nos últimos anos, mas diversas denominações religiosas cristãs, recentemente, têm defendido crimes como Golpe de Estado, por exemplo, o que levou hordas de fanáticos a atentar contra as instituições nacionais, promovendo atos de vandalismo e depredação ao patrimônio público.

A Igreja Universal do Reino de Deus, por exemplo, tem recrutado policiais militares, bombeiros e militares em geral, com a benção de muitos governadores e prefeitos que, por isso, podem se ausentar, durante o próprio expediente, para participar de cultos, enquanto o Bispo Edir Macedo fala em “Universal nas Forças Policiais (UFP)”, editando a velha tática cristã de se imiscuir nos assuntos do Estado.

Não foi à toa que uma família de políticos envolvidos até o último fio de cabelo com as milícias cariocas tornou-se rapidamente o mito dos evangélicos, conquistando uma fatia enorme do eleitorado brasileiro, mesmo com uma prática que é o reverso do cristianismo. E vale lembrar que desde os tempos de José Sarney até os dias atuais, de Arthur Lira, que a política brasileira é feita por uma maioria de deputados corruptos, sendo que TODOS os integrantes desta maioria do Congresso Nacional, filiados a partidos de direita, com extensa ficha corrida, SÃO CRISTÃOS, católicos e evangélicos.

A maioria brasileira de famílias tradicionais cristãs, portanto, vota em políticos corruptos e os apoia. As igrejas cristãs brasileiras fazem, velada ou descaradamente, campanhas eleitorais para políticos corruptos. Sempre alegam que “o PT é corrupto”, que “a esquerda é corrupta”, mesmo que os dados da realidade provem o contrário. A seita cristã e seu total descolamento da realidade, com ou sem cetamina, em nada difere da dissonância cognitiva da maioria dos “cidadãos de bem” que, sob a alegação da defesa de “Deus, da família e da pátria”, aceitam e defendem todo o tipo de criminosos, basta que estes estejam disfarçados de pastores, de policiais ou de políticos de direita.

É a Santa Inquisição Evangélica! E todo esse fanatismo pode avançar nas eleições municipais desse ano! Então, ainda vai ficar parado vendo esse povo catar lenha para acender a fogueira ou vai entender que é necessário se mobilizar para enfrentar essa milícia?

(*) As opiniões apresentadas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do colunista!

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