Você trocaria uma área verde por um posto de gasolina? Imagino que poucos leitores responderiam afirmativamente a esta pergunta. Dentre as exceções, obviamente, estaria o proprietário do posto de gasolina. Só uma pequena minoria aceitaria isso. Ocorre que um tal grupo IBK Comércio e Serviços Ltda., que pretende construir o tal posto, possui aliados poderosos na cidade e isso muda o jogo.
Assim, em 2020, um vereador novato, chamado Reizo Castelo Branco, cujo pai foi deputado federal e ficou conhecido por sua ligação com o tráfico de drogas (apesar de eleito por ser evangélico) e suspeito de violência doméstica, apresentou um Projeto de Lei em favor deste tal grupo IBK, o PL 280/2020.
Uma empresa de combustíveis e um vereador aliado não seriam motivos suficientes para a aprovação de um absurdo desses, não é mesmo? Afinal, esse projeto precisaria ser aprovado pela maioria da Câmara Municipal de Manaus (CMM). Teria que haver dezenas de vereadores sem noção como o proponente deste absurdo, que rifou uma floresta para favorecer um amigo comerciante. Pois bem, acontece que Manaus possuía, em 2020, mais do que o suficiente de vereadores sem noção e eles aprovaram com folga o tal PL.
Apesar de ser daquele jeito que todo mundo conhece, o presidente da Seção Legislativa lê rapidinho o nome do projeto e o autor, e diz mais rápido ainda “aqueles que estão de acordo permaneçam como estão”, isso não foi suficiente para que o projeto passasse sem ser percebido. O movimento ambiental de Manaus, sempre vigilante, descobriu no dia seguinte o absurdo e começou a se mobilizar. O Coletivo Floresta Manaós foi um destes movimentos. Falamos com secretário aqui, com autoridade ali, chefe de gabinete do prefeito, secretário de Meio Ambiente, até que conseguimos entregar o pleito ao prefeito.
Isso foi suficiente para que, no apagar das luzes de sua gestão (na época, era o Arthur Neto), o projeto fosse vetado, para alívio dos moradores e dos movimentos ambientais de Manaus, e para desespero do dono do posto.
Passados três anos, outro vereador, este ligado ao ramo dos combustíveis, faz aprovar, na mesma CMM, o Projeto de Lei no. 582/2021, de sua autoria, do mesmo jeito, a jato, com o presidente da seção falando mais rápido que locutor de partida de futebol. Dessa vez, alguns vereadores expuseram, no plenário o absurdo e, mesmo assim, 37 dos 41 vereadores votaram favoravelmente ao projeto, de igual teor ao falecido PL 280/2020.
A cara de pau é tanta que há pareceres negativos de órgãos ambientais, poucos moradores chegaram a ser consultados e, mesmo assim, o vereador Diego Afonso levou adiante esta excrescência. A IBK adquiriu, no Conjunto Acariquara, que compõe a Área de Proteção Ambiental Floresta Manaós (a maior área verde urbana do Brasil), duas residências que dão fundos para a área pretendida, com a clara má intenção de derrubar a floresta adjacente.
Ocorre que, novamente, a população está atenta e mobilizada, disposta a não deixar o crime ambiental ser consumado. Não que sempre se consiga evitar desastres como esse. Os grandes empresários de Manaus já cometeram verdadeiros ecocídios, dificultando a passagem da fauna por entre os fragmentos urbanos da cidade, como é o caso do Manauara Shopping, que desmatou uma importante área verde, que serviria de corredor ecológico, caso tivesse sido preservada.
Infelizmente, não é só aqui que milionários destroem o meio ambiente. Isso acontece, como diria o Lula, desde a Revolução Industrial. Daí em diante, poluir, desmatar, degradar, explorar o meio ambiente em troca de dinheiro tornou-se regra. Este posto, com o qual estou indisposto, é só um peão no jogo, um peão adversário, claro, mas a máquina de moer árvores chama-se capitalismo e é ele que precisa ser superado.
Em plena corrida contra o tempo para evitar o colapso climático que se avizinha, pois a temperatura do planeta não para de subir e o ponto do “não retorno” está cada vez mais próximo, somente alguém com uma mentalidade muito atrasada e individualista seria capaz de trocar uma área verde por um posto de gasolina. Contra essa gente, precisamos lutar com todas as nossas forças!
Ecossocialistas do mundo, uni-vos!
Eulália 27/06/23 - 19:01
Essa aprovação relâmpago pela quase totalidade dos vereadores é uma vergonha. Cadê o vereador da pasta ambiental que não bradou para conquistar mais votos contra. É indispensável área verde urbana, nossa cidade está na linha do Equador e outras necessidades vitais de áreas verdes. Que políticos nos temos? Que não reflete na hora de votar. O vereador Diogo Afonso só estar pensando em ficar mais rico. Ambição pessoal. Sendo político devia pensar no coletivo.
Welton Oda 02/07/23 - 19:27
Exato. Temos uma Câmara de Vereadores que não representa os interesses do manauara, cenário desolador