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Welton Oda

Eleições na Venezuela

Exploração das eleições na Venezuela revela polarização política intensa e desafios sociais significativos para o país

Eleições na Venezuela

Foto: Reprodução/ Redes sociais

Prezadas e prezados leitores(as),

Vamos começar a falar sobre o tema por uma fonte confiável? Disse certa vez Luis Fernando Veríssimo: “Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data.” Por isso, no Brasil, quando os folhetins da burguesia nacional, como O Globo, o Estadão e a Folha de São Paulo, fazem críticas muito veementes e noticiam empolgada e alegremente determinado assunto, é preciso desconfiar. Além disso, no extremo, é preciso ter claro que, se o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus minions defendem algo, então, certamente, é do outro lado que toda pessoa bem-intencionada deve se posicionar.

Antes de falar das eleições, preciso situar o leitor brasileiro de outras regiões do país. Diferente de quem fala a partir do Centro-Sul, eu vivo no Norte, mais precisamente em Manaus, uma cidade já quase bilíngue, assim como muitas outras cidades dessa região, particularmente no estado de Roraima. Ou seja, a Dona Ivanice, venezuelana do café da esquina, o José, do Uber, a Dona Anunciación, da padaria, e Pablo, Juan e Miguel, meus vizinhos, são parte do meu dia a dia. Ontem, um dos principais espaços públicos de minha cidade, o Largo São Sebastião, foi tomado por venezuelanos, em grande parte contrários a Maduro. Apesar disso, um carro circulava também com uma menina na janela segurando um boneco do Super Bigóte (Super Bigode, em português), o protagonista de uma série da VTV, baseada em Nicolás Maduro.

Diferente dos manauaras e roraimenses, boa parte dos venezuelanos é politizada. Dona Ivanice, por exemplo, já me contou sobre o embargo estadunidense que, em sua opinião, é o principal desencadeador desta crise humanitária em seu país. Apesar disso, há também entre os venezuelanos uma grande massa de gente despolitizada. Ontem, por exemplo, no dia das eleições, uma grande quantidade deles reuniu-se numa grande festa popular, muito parecida com a “micareta” que culminou com a eleição de Jair Bolsonaro. Havia, ontem, inclusive, entre eles, muitos bolsonaristas “fardados” de patriotas.

Agora vamos às eleições propriamente ditas, não sem antes contextualizar este presente turbulento e nebuloso que cerca a realidade venezuelana. A Venezuela, como o Brasil, durante certo tempo, foi terra de escravocratas, os “caudilhos regionais”, que criaram grande instabilidade política por todo o século XIX. Não pretendo voltar tanto no tempo nem falar de Simón Bolívar, cujo ideal dá nome à chamada “revolução bolivariana”, defendida por Chávez e Maduro. Vamos começar de 1989, a partir de um episódio chamado Caracazo. Neste ano, um pacote de medidas antipopulares implementado pelo presidente Carlos Andrés Pérez desagradou profundamente a população venezuelana, particularmente devido ao aumento do valor da tarifa de transporte coletivo, decorrente do aumento do preço dos combustíveis.

Caracas veio abaixo. Ônibus foram apedrejados e queimados, lojas, lanchonetes, shoppings e pequenos comércios foram saqueados. Uma população revoltada com a situação social e política do país foi, em seguida, massacrada por militares, que mataram 286 cidadãos, ferindo outros milhares. O massacre gerou um processo de organização da sociedade civil contra o governo corrupto de Andrés Pérez, que, em 1993, sofreu impeachment por desvio de fundos públicos. Um dos maiores movimentos venezuelanos, neste contexto, foi o Movimento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR-200), liderado por Hugo Chávez, que, em 1998, foi eleito, produzindo mudanças históricas, como a erradicação do analfabetismo no país e garantindo que as reservas petrolíferas, tão cobiçadas pelos EUA, estivessem mais protegidas. Com a morte de Chávez, em 2013, Nicolás Maduro tornou-se presidente da Venezuela, num mandato com maiores fragilidades, tanto do ponto de vista social e econômico como, sobretudo, político, gerando uma onda de migrações sem precedentes na história do país.

Se o povo venezuelano está politicamente verde ou maduro, isso é uma questão que somente eles próprios podem responder, mas devem ter autonomia para decidir, como é garantido a qualquer outra nação do mundo. O que pensam os presidentes dos EUA, da Argentina ou do Brasil não deve interferir em seus processos internos.

E do outro lado? Quem é Edmundo González? Procure saber. A internet é bem econômica para falar desse ex-diplomata, mas, por motivos obscuros, todos os grandes veículos de comunicação fazem uma campanha velada para ele. Por outro lado, “ditador” é o adjetivo mais brando que utilizam para falar de Nicolás Maduro, adjetivo que não é usado nem mesmo para designar Donald Trump, Javier Milei ou, até mesmo, um dos mais sanguinários líderes políticos dos últimos tempos: Benjamin Netanyahu.

Parcialidade? A gente vê na telinha do plim-plim!

(*) As opiniões e comentários emitidos pelos colunistas não necessariamente refletem a opinião do Portal Norte em Foco

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