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Welton Oda

BR-319: uma facada no coração da Amazônia

A construção da BR-319 ameaça agravar a crise ambiental na Amazônia, trazendo danos irreversíveis à floresta

BR-319: uma facada no coração da Amazônia

BR-319. Foto: Divulgação/ DNIT

Nesta semana de setembro, como em quase todos os outros dias do ano, embora de maneira mais acentuada, os veículos de comunicação comercial no país estampam uma tragédia ambiental sem precedentes. Em São Paulo, o ar estava, segundo especialistas, cerca de dez vezes pior do que os padrões mínimos de qualidade exigidos para garantir a saúde da população. Na Amazônia, a situação era ainda mais grave, com o ar entre 20 e 30 vezes mais poluído e irrespirável.

A imprensa também retratava pessoas tentando conter grandes incêndios com baldes ou mangueiras de quintal. Áreas de proteção ambiental queimam descontroladamente há dias, enquanto uma massa de ar quente e poluído cobre cerca de 60% do território brasileiro. Se você é uma dessas pessoas que, pelas redes sociais, exige que as autoridades tomem providências para conter essa calamidade, ou ainda alimenta a esperança de que, com o Governo Lula, a crise ambiental será contida, tenho más notícias: se há insatisfação com essa situação e se você quer mudanças, será necessário enfrentar governos inoperantes e mal-intencionados nas três esferas (Federal, Estadual e Municipal) e nos Três Poderes. Pior ainda: evitar essa situação é extremamente difícil, e temos pouquíssimo poder para barrar a ganância capitalista. No entanto, essa é a única opção se quisermos evitar fome, sede extremas, o superaquecimento global que nos cozinhará vivos e a iminente extinção de milhares de espécies.

Em meio a esse cenário desolador, o presidente Lula veio a Manaus para, segundo suas próprias palavras, ver de perto os imensos rios que ele acreditava que jamais secariam. No entanto, nas entrelinhas de seu discurso, a verdadeira intenção foi revelada: anunciar a construção da BR-319. O modus operandi segue o mesmo dos governos petistas anteriores, que resultaram no desastre ambiental da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Esse projeto autoritário e mal planejado provocou uma catástrofe socioambiental sem precedentes, afetando gravemente as comunidades locais e a Bacia Amazônica de maneira sistêmica.

Durante a construção de Belo Monte, a demanda energética foi usada como desculpa, mesmo que as populações atingidas, num claro episódio de racismo ambiental, não demandassem essa energia, tampouco fossem beneficiadas pelo empreendimento. Pelo contrário, essas populações tiveram suas vidas irremediavelmente destruídas. De forma semelhante, agora, o argumento usado é a necessidade de mobilidade das pessoas, afetada pela seca dos rios. Trata-se, no entanto, de uma desculpa esfarrapada para beneficiar grandes empresas, que reduzirão seus custos de transporte. As populações locais, como exige a legislação brasileira, não foram ouvidas – e provavelmente não serão.

Laudos ambientais favoráveis à construção de Belo Monte foram encomendados, contrariando estudos sérios, assinados por especialistas, que apontavam os riscos. No caso da BR-319, o Governo Lula poderá fazer o mesmo, embora seja mais provável que a ministra Marina Silva seja iludida por promessas de medidas mitigadoras que, obviamente, nunca serão implementadas.

Uma coisa é certa, e não é preciso ser especialista para afirmar: a Amazônia já perde milhares de quilômetros de floresta anualmente, mesmo sem estrada. A construção da BR-319 será o golpe de morte, rasgando a floresta ao meio, como ocorreu com a BR-174, que resultou na morte de milhares de Waimiri-Atroari, na redução de seu território e trouxe consigo a especulação imobiliária, o loteamento e a grilagem de terras ao longo de sua extensão. O grande capital vencerá novamente, e seus desmandos virão sob a batuta de um governo “popular”.

O capitalismo é a barbárie que mata de fome e mercúrio os Yanomami, que assassina os Mura em Autazes para roubar potássio, que destrói aldeias em Altamira para gerar energia para o Centro-Sul do país e que engana os amazonenses, prometendo transporte fácil enquanto crava no peito da Amazônia a punhalada fatal.

Ecossocialismo ou barbárie! Ecossocialismo ou morte!

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