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Welton Oda

As eleições e o assédio de servidores em Manaus

A falta de democracia nas escolas públicas de Manaus perpetua o assédio e práticas autoritárias no serviço público

As eleições e o assédio de servidores em Manaus

Foto: Reprodução/ Canva IA

A cidade de Manaus nunca rompeu com as práticas autoritárias do coronelismo, muito embora essa cultura tenha, ao longo do tempo, ganhado outras roupagens. Uma das principais origens e sustentáculos dessa ausência de práticas democráticas em nossa cidade são as escolas públicas, formadoras políticas do cidadão manauara.

O aprendizado da democracia na escola passa pela escolha de representantes de turmas, da direção do Grêmio Estudantil, de entidades estudantis de maior envergadura, em níveis municipal, estadual e nacional, e pelas eleições para diretor de escola. Apesar disso, a grande maioria das escolas públicas manauaras não possui um grêmio estudantil, e os diretores, chamados “gestores”, são pessoas indicadas pela administração municipal, num processo autoritário e nada participativo. Ressalte-se, ainda, as Associações de Pais ou Associações de Pais e Mestres, que poderiam contribuir para dar maior transparência ao uso dos recursos públicos nas escolas e promover maior participação da comunidade escolar, mas que também são, quase sempre, manipuladas pela administração municipal, em processos pseudodemocráticos.

O resultado disso tudo é a naturalização das práticas de assédio, tanto no ambiente educacional — da escola à Secretaria Municipal — quanto no restante do serviço público de Manaus. Esse quadro é distinto em muitas capitais brasileiras, sendo que importantes cidades, como Curitiba, possuem eleições diretas para diretores de escola há quase quatro décadas. A maioria dos diretores brasileiros é escolhida por processos democráticos, muito embora 1/3 ainda o seja por indicação política, como é o caso de 100% das escolas manauaras.

O assédio eleitoral exercido pela Prefeitura de Manaus não é novidade e tampouco exclusividade da atual administração. O esquema, como bem sabem os servidores, envolve reuniões realizadas abertamente em todas as esferas do serviço público, com o objetivo de transformar administradores, como chefes, gerentes e diretores, em cabos eleitorais do candidato chapa-branca. Obviamente, nem tudo é assédio; afinal, cargos de confiança são ocupados por pessoas que, em maior ou menor escala, aderiram ao projeto político do prefeito e que integram, portanto, esse grupo político. Muitas delas “aceitam” por não querer largar o osso, mesmo que, nos bastidores e para ficar bem na fita, reclamem de assédio.

Efetivamente, não há denúncias de assédio em Manaus, o que transforma a situação num misto de conivência de muitos com repressão e medo por parte de outros tantos. A própria imprensa tem denunciado sistematicamente atividades de adesivagem de carros realizadas por diretores de escola e também um churrasco suspeitíssimo, com distribuição gratuita e em larga escala de comida e muita, mas muita cerveja, para servidores que, para participar, precisaram fornecer seus títulos de eleitor para os organizadores.

Combater a cultura e a naturalização do assédio no serviço público manauara requer a unidade e a coragem dos servidores, sobretudo os concursados, para denunciar e, abertamente, fazer oposição, mostrar a cara e organizar uma campanha de enfrentamento a essa problemática. Para evitar o uso da máquina, é preciso travar as engrenagens, desde as pequeninas até as graúdas. O assédio também é fruto da cultura de capachismo que acomete, sobretudo, administradores públicos, que se comportam como lacaios do prefeito e como inimigos da população manauara, mas também do servidor comum, daquele que se acomoda, mansamente, à máquina de moer gente.

(*) As opiniões e comentários emitidos pelos colunistas não necessariamente refletem a opinião do Portal Norte em Foco.

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