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Welton Oda

A cultura do assalto: legado europeu

Espanhóis e portugueses, assim que chegaram, apresentaram suas credenciais: violência, canhões, pólvora, carabinas, caravelas, a Bíblia, chicote e muita, mas muita ganância

A cultura do assalto: legado europeu

Foto: Norte em Foco

Nada é mais representativo da cultura europeia aqui nas Américas do que a pilhagem, o roubo, o assalto descarado de nossas riquezas. Como toda cultura, ela se perpetua, se transforma e ganha novos adeptos. Hoje, os eurodescendentes, em diversos ramos, na agricultura, na indústria, no comércio, na especulação imobiliária ou no mercado da fé, usando alguns dos conhecidos argumentos, da superioridade racial e cultural, por exemplo, ou do Deus único, branquinho e poderoso, continuam a nos assaltar e matar, diariamente.

Espanhóis e portugueses, assim que chegaram, apresentaram suas credenciais: violência, canhões, pólvora, carabinas, caravelas, a Bíblia, chicote e muita, mas muita ganância. Foi assim que convenceram, primeiro a si mesmos e, depois de séculos de pancadaria, a alguns dos nossos, de que “tudo podem Naquele que os fortalece!” Por isso, enquanto estupravam africanas e indígenas, diziam que, na verdade, eram seduzidos por essas mulheres “sem Deus”, enquanto roubavam a terra dos indígenas, alegavam estar agindo em nome da Coroa e por direito divino, enquanto chicoteavam, humilhavam e escravizavam nosso povo, diziam estar “corrigindo”, “conduzindo aos caminhos do Senhor” essa gente herege.

Dadas as proporções, é o mesmo que fazem diversos parlamentares, alguns federais, senadores e deputados, donos de fazendas, flagrados submetendo pessoas a condições análogas à escravidão, executando indígenas e trabalhadores sem-terra. Do mesmo modo, empresas de transporte de alimentos e outras mercadorias, por aplicativo, ao negar água potável e sanitários para seus trabalhadores. Também ricos empresários, estuprando mulheres belas e pobres, agredindo-as e humilhando, como é o caso do empresário Saul Klein. E o velho da Havan? Condenado a indenizar seus funcionários por obrigá-los a fazer campanha para Bolsonaro. Sem falar dos deputados federais de direita, ao votarem pela quase total retirada dos direitos trabalhistas em nosso país.

É por isso que essa burguesada branca, proprietária de grande parte dos recursos financeiros do país, insiste em chamar o trabalhador negro, indígena ou pardo, de ladrão, como aquele larápio espertinho que, ao furtar a carteira de uma pessoa na rua, grita “pega ladrão”, enquanto o gado indignado corre a linchar a pessoa errada.

Foi exatamente o que se sucedeu em 2016, na farsa golpista contra Dilma Roussef. Enquanto os maiores ladrões do país gritavam “pega ladrão” e os idiotas corriam a falar em pedalada fiscal, em chamar os petistas de corruptos e apoiar mais um golpe contra a frágil democracia brasileira, aqueles que mais entendiam de política buscavam, sem sucesso restabelecer a verdade. Em seguida, os ladrões começaram com a história de “Luladrão” e o coro de “Fora PT”. De Edir Macedo a Aécio Neves, de Eduardo Cunha a Cristóvam Buarque, com Supremo e com tudo, alçaram à Presidência da República o corrupto Michel Temer, líder do partido com a história mais consolidada de coronelismo e corrupção da política brasileira.

Daí em diante, ladeira abaixo, de ladrões, saqueadores, corruptos a milicianos, num quase retorno aos tempos da Casa Grande. Novamente, em nome de Deus, dos bem nascidos, dos bons costumes, assistimos a grande burguesia branca deste país convencer grande parte da população a apoiar e eleger capitães do mato, cuja política continua sendo a de extermínio da população negra e pobre. Continuamos assistindo a população linchar ladrões de celulares, de motocicletas, mas passivas diante do assalto bilionário praticado por governadores, prefeitos, secretários e parlamentares Brasil afora.

Os ricos eurodescendentes, do alto de seus cargos executivos, de seus privilegiados cargos públicos no Judiciário, Legislativo e Executivo, continuam, com sucesso, a sua tradição de nos assaltar aos milhões, enquanto riem dos mais pobres, lutando uns contra os outros defendendo direito de ricos e empresários, chamando branco rico de “Seu Dotô”!

Enquanto isso, parte da população brasileira, vestida de verde e amarelo, xinga políticos de ladrão enquanto sonha em, um dia, ser um empresário rico, um político bem sucedido, um bispo, um pastor neopentecostal, enfim, em ser também um ladrão.

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