Não é novidade que políticos populistas, quando se tornam “invotáveis” – numa tentativa de se aproximar do linguajar chulo do ex-presidente Bolsonaro – afirmarem que estão sendo vítimas de “forças ocultas”, de “golpistas” ou do “establishment” e que são inocentes quando, na mais clara realidade, não são. Antes de qualquer coisa, se faz necessário deixar uma coisa bem clara: não, o processo eleitoral não se torna fraudulento porque determinado candidato está tão afundado em processos judiciais a ponto de se tornar inelegível e tampouco a aplicação de sua pena. O ex-presidente Jair Bolsonaro se afundou em suas encrencas porque quis e agora está pagando por seus erros.
Jair Messias Bolsonaro, no último dia 30, entrou para o Hall de ex-presidentes que se tornaram inelegíveis por 8 anos. As acusações são: Abuso do poder político ao protagonizar aquela reunião com embaixadores de nações amigas e vilipendiar o sistema eleitoral brasileiro, e abuso dos meios de comunicação ao usar a EBC, uma estatal, para se promover politicamente para as eleições de 2022.
Bolsonaro foi eleito através do voto eletrônico desde 1998, e somente assumiu o discurso de que as urnas eletrônicas são fraudulentas após ter sido eleito presidente, em 2019/2020. Ele, melhor que ninguém, devia saber como o jogo político no Brasil funciona, principalmente quando se trata de como o Congresso age enquanto poder mediador, e mesmo assim preferiu governar criando crises.
A inelegibilidade de Jair Bolsonaro vem num momento onde o Brasil passou quatro anos sendo governado por um homem que usurpou as cores de nossa pátria e sequestrou os símbolos mais particulares dos brasileiros, apenas para cumprir os caprichos mais escusos de seus apoiadores mais criminosos, como o mafioso presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, que nunca teve a menor vergonha na cara de sempre apoiar o governo de turno, independentemente de quem seja o presidente, mas viu no bolsonarismo e na extrema-direita uma maneira de tentar desvincular o seu partido de cada um dos escândalos que participou – Para se ter noção, o Partido Liberal chegou a ser o partido com o maior número de políticos presos por corrupção na história, superando e muito o próprio Partido dos Trabalhadores.
Bolsonaro tinha, como se diz no ditado popular, a faca e o queijo na mão para fazer as devidas reformas e sanar os problemas que sempre abateram os brasileiros, e de fato teve algumas conquistas louváveis como a Reforma da Previdência e a Transposição do Rio São Francisco para regiões do Nordeste, que sempre sofreram com a escassez de água, mas, no geral, seu governo se atirou de uma vez nos braços do Centrão, o grupo mais fisiológico dentre os partidos no congresso, e fez o Brasil passar diversos vexames internacionais.
Diferentemente do que se apregoa por bolsonaristas, a pena do presidente Bolsonaro não é novidade na jurisdição brasileira. Fernando Francischini, ex-deputado estadual pelo Paraná, sofreu a mesma punição pelo exato mesmo motivo que Jair Bolsonaro se tornou inelegível na última sexta-feira, a única diferença é a astronômica quantidade de votos em comparação ao paranaense.
Independente da quantidade de votos que se tenha, ou que narrativas inventem, a lei continua sendo a lei. Pode ser um vereador, o prefeito de Borba (AM), ou um ex-presidente do Brasil, a regra é clara e vale para todos. Em um ponto podemos concordar com os apoiadores de Bolsonaro: é injusto políticos condenados por corrupção estarem soltos, mas uma coisa não anula a outra. Nós, enquanto cidadãos, precisamos fazer esse exercício de consciência e nunca esquecer os nossos valores democráticos e de liberdade. Nós não passamos por 20 anos de um regime de exceção para um ex-capitão do Exército chegar e fazer tudo aquilo que fez.
Edmund Burke tinha razão ao afirmar que um povo que não conhece a sua história estará eternamente condenado a repeti-la, e nós, enquanto povo e nação, não devemos, nunca, nos esquecer daquilo que passamos.
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Naldo 07/07/23 - 10:25
Parabéns pelo excelente artigo. Antes de tudo, é preciso entender o mínimo de política, ser crítico e compreender que políticos jamais, em hipótese alguma, devem ser idolatrados.