O festival Passo a Paço, recentemente, ganhou o nome de #SouManaus, com a transição de Arthur Virgílio Neto para David Almeida. O festival é uma das mais famosas festividades da capital amazonense, levando milhares de pessoas todos os anos, além de atrair dezenas de atrações nacionais e locais de renome. Mas o festival deste ano está chamando a atenção pelos motivos errados.
Para este ano, a Prefeitura de Manaus teve a ideia de chamar o DJ David Guetta para ser a principal atração. A prefeitura, por si só, não tem dinheiro em caixa para um show desse porte, pois precisa investir em questões mais relevantes, como a saúde de base, educação, mobilidade urbana e infraestrutura (mesmo que não pareça que eles de fato fazem isso). É comum que a gestão municipal precise de ajuda para organizar esses eventos.
Neste ano, a parceria entre a prefeitura e a organizadora de eventos Pump foi posta em xeque pela população. As irregularidades começam com a empresa já tendo sido contratada bem antes de um processo licitatório, e, quando este foi executado, a empresa foi anunciada vencedora com apenas quatro dias. E os problemas não param por aí.
Nessa semana, o vereador Rodrigo Guedes apresentou à Câmara Municipal de Manaus um requerimento. Esse requerimento pedia que a gestão municipal prestasse esclarecimentos sobre os valores gastos para a realização do evento, que já conta com um orçamento estimado em treze milhões de reais e pediu para que fosse explicado que tipo de relação tem a Pump com a prefeitura. Com apenas os votos do próprio Guedes, Carpê Andrade, Marcelo Serafim e William Alemão, o requerimento foi rejeitado.
Mesmo com a denúncia, o dono da Pump ameaça processar Rodrigo Guedes. A ameaça do empresário Bernard Teixeira vem após a denúncia do vereador Guedes na tribuna da CMM, recheado de fotos e vídeos. Mas que fotos são essas? São publicações das redes sociais do próprio prefeito David Almeida e do presidente da Manauscult, Osvaldo Cardoso, que, supostamente, teriam favorecido a Pump na organização do evento. Em entrevista para um podcast, Bernard Teixeira disse o seguinte:
“Queria mandar um recado para o vereador. Tem um vereador aqui na cidade de Manaus, da oposição. Isso é briga política, eu não tenho nada a ver com isso, mas você citou o meu nome, citou o nome da minha empresa como se eu tivesse com alguma peixada, com esquema de corrupção. Você não me conhece, mas eu não preciso disso, não vivo disso, meu trabalho é sério, eu gero imposto e renda nessa cidade.”
Engrossando o tom, o empresário continuou:
“Saiba que não é na minha índole fazer nada errado, eu venci esse edital e você fala e não diz que a Pump está patrocinando o evento em R$ 2 milhões, eu não sei nem se eu vou recuperar esse dinheiro, porque é um grande risco, estou acreditando na cultura dessa cidade. Eu quero deixar claro para o vereador que citou meu nome e insinuou coisas erradas, primeiro que eu vou lhe processar porque você citou meu nome, mas a gente vai ter o prazer de conversar um dia”
O Passo a Paço deste ano não está dando o que falar apenas na Câmara Municipal. Nas redes sociais, o clima está tenso, com a população indignada com os valores absurdos cobrados pelas pulseiras de Frontstage e Camarote para os shows oferecidos ao longo da programação, mas que também podem ser adquiridas através de entrega de garrafas pet na sede da SEMULSP, na Compensa, zona Oeste, e de alimentos não perecíveis nas lojas de uma rede de supermercados nas avenidas das Torres, Flores, Silves e Grande Circular. Os preços podem variar entre R$ 30 e R$ 30.000.
Aqui, também, cabem críticas à organização do festival. O Centro Histórico de Manaus, obviamente, não tem a mesma estrutura para comportar shows faraônicos como o de David Guetta. Quando se pensou, inicialmente, no Passo a Paço, em 2015, a ideia era de ser um festival cultural acessível e democrático, não um verdadeiro Lollapalooza de extorsão. O Centro Histórico não é a Arena da Amazônia ou a Ponta Negra.
Não é a primeira vez que a atual gestão tem uma ideia (de jerico) dessas, apenas para satisfazer o ego infladíssimo de David Almeida. No festival do ano passado, muito se especulou a participação do Guns N’ Roses no #SouManaus, que teria o apoio da empresária Bete Dezembro e o prefeito David chegou a de fato elaborar um plano para isso. O Guns veio, mas o tiro de David saiu pela culatra e o show acabou acontecendo na Arena da Amazônia apenas com financiamento privado.
David precisa entender que o Passo a Paço é um festival cultural popular, não um Lollapalooza ou um Rock In Rio. A ideia de nosso festival sempre foi a de ser algo democrático, onde a população manauara teria uma boa experiência junto de sua família e amigos para experimentar o que a música e culinária amazonense têm a oferecer de melhor, não se apertar nas estreitas vielas próximas ao Paço da Liberdade que levam ao Roadway para ouvir os grandes artistas internacionais e pagando caríssimo por isso, seja através de ingressos ou dos próprios impostos.
Não é errado a prefeitura buscar parcerias para patrocinar os seus eventos, mas devemos ter cuidado para que a população não seja extorquida assim.
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Welton Oda 26/08/23 - 20:10
Concordo plenamente contigo. Que desgraça o prefeito está fazendo!