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Se você enxerga, por favor, me informe!

Como os educadores e educadoras vão falar aos alunos sobre um assunto que não dominam ou até mesmo desconhecem?

Se você enxerga, por favor, me informe!

Foto: Reprodução/ Canva

No último domingo, dois professores, da rede pública de ensino básico do Rio de Janeiro, participaram de um jogo de perguntas em um programa em rede nacional, com o objetivo de ganhar dinheiro para investir em um projeto pedagógico de educação antirracista idealizado por eles. Nesta semana, deparei-me com um texto, publicado em um site de um jornal local, em que um professor universitário de filosofia, manifestava sua preocupação com a violência racial presente nas escolas no Amazonas, fato que ele soube através de vivências relatadas por outro educador, que atua em escolas públicas no estado. Estas duas situações me trouxeram à mente uma indagação: a quantas andam o interesse e o investimento, por parte do sistema de ensino da nossa região, em qualificação docente e políticas públicas para o enfrentamento ao racismo que se esboça nas relações cotidianas na escola e na sociedade?

A meta dos dois professores era sair do jogo com 150 mil reais no bolso para custear a produção de material pedagógico a ser utilizado por eles e também para ser disponibilizado para educadores em todo o país. Talvez tenham procurado essa alternativa porque não encontram iniciativas e ações afirmativas governamentais que proporcionem esta quantia para seus importantíssimos projetos. Verba pública? Para essa causa? Possivelmente nem encontrem!

Por sua vez, o docente universitário, inquieto com a informação que recebeu em suas aflitas palavras afirmava que, em relação ao racismo, é necessário que os professores trabalhem em sala de aula, a história e a cultura afro-brasileiras e dos povos originários, para trazer mais diversidades e novos olhares para o currículo escolar. Como os educadores e educadoras vão falar aos alunos sobre um assunto que não dominam ou até mesmo desconhecem? Se estes também atravessaram as dimensões histórica, social, escolar e acadêmica mergulhadas no racismo estrutural?!!

Falando de educação para a diversidade e questões raciais no Amazonas, ainda se enxergam poucas estratégias para a valorização e divulgação dos processos históricos de resistência negra desencadeada pelos africanos escravizados no Brasil e por seus descendentes na contemporaneidade. Não se vê enérgico interesse em implantação de projetos pedagógicos dirigidos à correção de desigualdades raciais e sociais. Se você enxerga, peço, por favor, Me informe onde e quais projetos. Afinal, sou pesquisadora da área. Mas que não sejam aqueles que são realizados uma vez por ano, somente no mês de novembro, no dia da consciência negra. Nem aqueles que os professores custeiam com dinheiro próprio, como eu mesma já fiz. Muito menos os de iniciativa isolada dos poucos docentes que já têm letramento racial.

Longe de mim desmerecer a relevância destes que se embrenham pelas frestas que encontram nos muros conteudistas, bancários e frios das escolas, desocultando verdades na busca pelo rompimento deste cenário de negação e invisibilização da contribuição da população negra para a formação do Brasil. Só compartilho do mesmo incômodo do professor de filosofia que citei, com o silêncio ensurdecedor existente na formação docente e na falta de atitude, por parte das secretarias públicas de educação no nosso Estado em criar projetos e práticas educacionais de combate às discriminações raciais presentes na cotidianidade social.

 

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