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Se fala preto ou negro?

Se fala preto ou negro?

Reunião da Marcha de Mulheres Negras, no Festival Latinidades (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Quando a coluna é publicada, muitas pessoas enviam mensagens, elogiando, tecendo críticas e também agradecendo pelas temáticas abordadas. Algumas sugerem temas que fazem parte de suas dúvidas sobre racismo. Acho esse feedback fantástico! 

Um dos leitores fez a seguinte questionamento:: Das palavras negro e preto, qual é a politicamente correta? E me pediu que escrevesse sobre esse assunto.

Primeiramente, vamos refletir sobre o que seria o politicamente correto, no senso comum, na atualidade. Entende-se esta expressão como um conjunto de atitudes e expressões que são utilizadas na linguagem cotidiana para substituir alguns termos considerados pejorativos ou ofensivos, evitando assim que grupos sociais minoritários sejam inferiorizados, insultados ou excluídos.

Por exemplo, recomenda-se não mais usar a expressão “criado-mudo” para se referir à “mesinha de cabeceira” que fica ao lado das nossas camas. 

Conta-se que, no período escravocrata, um negro escravizado era escolhido para ficar a noite, ou dias inteiros, ao lado da cama dos senhores da casa grande, calados e sem mexer-se para não acordá-los, segurando remédios, vasilhas ou qualquer outra coisa. 

Por este motivo, para não se manter essa lembrança, perpetuando os preconceitos e discriminações enraizados na linguagem, o politicamente correto seria nomear de outra forma alguns códigos, coisas ou atitudes nas quais estão as marcas do racismo estruturante e constituintes da formação cultural e histórica brasileira.

Neste sentido, o politicamente correto se torna um movimento linguístico e comportamental que ressignifica, renomeia, recria expressões, situações e ações individuais e coletivas que podem ser consideradas excludentes, criando assim condutas e posicionamentos éticos, tidos como socialmente corretos.

O surgimento do politicamente correto ocorreu na década de 1960, nos Estados Unidos, em apoio ao movimento pelos direitos civis, que promovia debates e indagações sobre o que seria considerado padrão: o branco, heterossexual e burguês.

Em 2004, o então governo brasileiro criou uma cartilha denominada “Politicamente Correto & Direitos Humanos”, como forma de chamar a atenção de toda a sociedade para o que o filósofo, professor da USP e ministro dos direitos humanos e da cidadania, do atual governo, Silvio Almeida chama de “microagressões’ racistas.

E a resposta para a pergunta do nosso leitor? 

Chamar alguém de preto ou negro, com a intenção de ofender não é politicamente correto. É racismo. Os dois termos se tornam politicamente corretos dependendo da intencionalidade por trás da fala.

 Depende, também, da interpretação e reação de cada pessoa, ou seja, de como ela ou ele se autodenomina, pois há muitos homens negros e mulheres negras que não se veem como tal, não enxergam sua negritude, por vários motivos. Mas essa é outra discussão. 

Muitos só usam o termo negro pois julgam que chamar alguém de preto é estar ofendendo a pessoa. Se você pensa assim, está contribuindo para que essa crença coletiva racista continue existindo. 

É importante ainda, antes de falar, dialogar sobre essa questão e perguntar à pessoa sobre como ela se sente em relação a estes termos.

Falar preto e negro com o intuito de valorizar e reconhecer nossa identidade, história, cultura, religiosidade e subjetividade é politicamente correto.

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