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Colunista

Édma Santos

As dificuldades enfrentadas pelos quilombolas ao sair de sua comunidade para estudar na cidade

Quilombolas enfrentam racismo e distância familiar ao estudar na cidade, buscando transformação e retorno à comunidade com os conhecimentos adquiridos

As dificuldades enfrentadas pelos quilombolas ao sair de sua comunidade para estudar na cidade

Quilombo Pacoval. Foto: Leila Bentes

Ao deixar a comunidade quilombola, mesmo sabendo que teremos que ficar longe da família, enfrentamos desafios significativos, mas buscamos melhorar nossa qualidade de vida e apoiar nossos familiares. No entanto, também enfrentamos o medo do desconhecido, como o receio de não sermos aceitos, o racismo e outros desafios sociais.

Eu vim do quilombo Pacoval, localizado no município de Alenquer, Pará, para Óbidos em busca do meu sonho. Desde criança, sempre quis ser professora na educação infantil para ser uma agente de transformação na sociedade. Realizar esse sonho me levou a cursar Pedagogia na UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará), enfrentando o desafio de me afastar da minha comunidade.

A viagem até Óbidos é longa, passando pelo Curuá, de bajara, o que representa três horas de viagem de barco. No dia seguinte, mais três horas de ônibus até Óbidos. No começo, foi difícil, mas com o tempo, me adaptei à nova realidade.

Além do afastamento da família, a transição da vida rural para a urbana apresenta desafios significativos. Nos deparamos com um ambiente diferente do que estávamos acostumados, sem a companhia e o conforto do cotidiano quilombola. A adaptação para a vida na cidade grande não é simples; enfrentamos perigos e o receio de perder a liberdade que temos em nosso quilombo.

Em algumas cidades, a adaptação é mais tranquila, mas em outras, as dificuldades são mais evidentes. Como não somos da cidade, tememos os riscos associados à vida urbana e as adversidades que encontramos.

Na busca pelo sonho de uma formação acadêmica, carregamos a responsabilidade de levar conhecimento de volta à nossa comunidade. No entanto, o caminho até a universidade não é fácil. Passamos por avaliações que testam nossos conhecimentos, incluindo saberes tradicionais de nossa comunidade, transmitidos por nossos ancestrais para preservar nossa cultura.

Esses desafios muitas vezes nos assustam, mas é necessário superá-los para alcançar nossos sonhos e contribuir positivamente para nossa comunidade. Como pessoas quilombolas, frequentemente subestimadas pela sociedade, enfrentamos obstáculos que nos ensinam lições valiosas e abrem portas para novas oportunidades.

Reforço para meus irmãos e irmãs quilombolas que, apesar das muitas dificuldades impostas pelo sistema e pela sociedade, a melhor luta é pela educação de qualidade e pelo sonho da educação superior. A partir disso, fortalecemos nossa capacidade de contribuir para transformar nossa realidade e fortalecer nossas comunidades.

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2 Comentários

1 Comentário

  1. Marco Antonio Lima Corrêa 26/06/24 - 20:39

    Excelente explanação, temos que ser agentes de mudanças e de inovações, muito feliz de ver seu desenvolvimento pessoal e acadêmico, vá e continue vencendo Édma Santos.

  2. Alessandro Lima 27/06/24 - 19:09

    Hoje avança um fenômeno que, ano após ano, avança como uma cultura de melhoria de vida. O povo nos interiores das capitais ocupa o mercado que as pessoas da cidade, não conseguem a competência necessária para se firmar. Mesmo tendo muito ao seu alcance reclamam de tudo e põem dificuldade em executar seus projetos. O que era raro se tornou naturalmente recorrente.

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