Já não assusta mais o povo manauara a notícia de que um vereador pastelão propôs a criação do Dia Municipal do Gato. Deveríamos propor também um dia em homenagem ao rato, figura muito mais representativa e conforme. Pois é: toda semana o manauara é feito de leso. Mas talvez a grande questão seja que nós, enquanto povo, estamos perdidos, esquecemos demais e perdoamos mais ainda. É bastante provável que em alguns anos nos tornemos saudosistas, envelheceremos, desesperançosos e com a sensação derrotista de que nada muda. Desse modo, não custa nada lembrar e pincelar uma tela em alusão ao Coronel do Asfalto.

Para termos uma noção geral da imoralidade das atitudes do Coronel, peguemos de início como exemplo a sua viagem a Barcelona, onde gastou 100 mil reais dos cofres públicos para correr uma maratona, sob o pretexto de estimular o turismo em Manaus. Risível? Ou, ainda, a sua polêmica viagem ao Caribe no começo deste ano, em que ele afirmou ter gastado apenas 18 mil reais — embora não se saiba se foi o valor da passagem, da diária ou dos champanhes. Nessa última viagem, os 18 mil fizeram-se esmola quando observamos com quem ele estava em companhia, o seu padrinho Paulo Montenegro, dono da Grafisa (Gráfica e Editora LTDA), que já recebeu mais de 98 milhões de grana da prefeitura, sendo responsável pelo material de campanha do Coronel.

Além disso, o jato responsável por levar o Coronel ao Caribe em outro descanso divino, em 2024, foi bancado por Roberto Lopes, um criminoso ambiental, sobrinho de José Lopes e primo de Rossemiro Neto e José Neto, proprietários da empresa Murb Manutenção e Serviço Urbanos LTDA, que tem um contrato de 114 milhões de reais com a prefeitura, depois de receber, em dez meses e sem licitação, mais de 88 milhões de reais².

Contudo, vamos ser justos, o Coronel não facilita apenas com contratos milionários para amigos e parentes, ele também os nomeia para cargos comissionados, como é o caso de Surreila Rodrigues, que é tia de Fernanda Ariel, a sua filha, e Dayane Rodrigues, filha de Surreila e prima da sua filha, bem como de Derick Almeida, sobrinho do Coronel. Há também a troca de passes indireta entre o Coronel e o Tenente da Câmara, o homem do café-com-leite, que teve a mulher e o cunhado nomeados em cargos da prefeitura pelo recíproco gestor.

Ah, e não nos esquecemos da nomeação de Dulce Almeida, irmã do Coronel, como Secretária de Educação, ou esquecemos? Está tudo de acordo com a norma, pois a função de um coronelista é, sobretudo, tentacular, de monopólio, de controlar o sistema pelos seus braços longos, seja tendo um irmão deputado estadual ou uma filha forçada à vice-governadora.

Aproveitando o ensejo, podemos partir do irmão do Coronel para finalizar este artigo que muito bem poderia ser um livro de duzentas páginas. Ele, o irmão do Coronel, que podemos nomear gentilmente de Soldado Camarão, teve a pachorra de dizer que houve um “alarde por causa de buraco”, após Giovana Aquino, mulher grávida de sete meses, ter falecido em um acidente ocasionado na Avenida Djalma Batista. Agora, imagine, o João Vitor, que viu com os próprios olhos a mulher e a filha perecerem de forma brutal, em razão de um buraco, ter que ouvir esse ultraje da boca do Soldado Camarão.

Por falar em João Vitor, ele é pessoa ativa nas reivindicações e embates no que se está chamando de CPI do Asfalto ou CPI do Asfalta Manaus, CPI protocolada por Rodrigo Guedes e projetada para investigar irregularidades em contratos de pavimentação e recapeamento pela prefeitura através do programa Asfalta Manaus. O Coronel, é claro, retesou seus tentáculos sobre aqueles que assinaram a CPI, dando um atestado de receio com a situação. Foi o caso de Wanderley Monteiro, que assinou a criação da CPI, foi ameaçado pelo partido do Coronel e depois retrocedeu, até porque não é de se esperar menos pressão, certamente não havendo vínculo algum com o fato de a mãe dele, proprietária da Caldeira Locações, ter recebido mais de 22 milhões de reais da prefeitura.

Com a retirada das assinaturas, o processo enfraqueceu, mas ainda pode revigorar e dar continuidade à CPI que pretende fuçar onde o Coronel não quer. Para esse revigoramento da CPI do Asfalto, necessita-se de pressão popular e política, um combate frontal contra quem receia ter suas condutas investigadas. Por isso, cobremos nossos vereadores e não deixemos cair em esquecimento mais uma tragédia silenciada pelos maus gestores.

Por último, não custa nada ressaltar: o Coronel do Asfalto tem a maior rejeição entre líderes políticos da região Norte, chegando a 57%, segundo a pesquisa do Instituto Census Consultoria.

Sigamos, assim funciona a democracia, um regime intrinsecamente passível de desprezar um gato caçador e elevar um rato de terno.

 

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