Manaus, AM – Na última terça-feira (18), a Câmara Municipal de Manaus (CMM) foi palco de um acalorado debate entre os vereadores Rodrigo Guedes (PP) e Raiff Matos (PL). A controvérsia teve início quando Raiff Matos, saindo do âmbito típico de um vereador municipal, manifestou seu apoio ao PL do Aborto. O Projeto de Lei nº 1904/2024, que está em tramitação na Câmara dos Deputados em Brasília, propõe que o aborto após 22 semanas de gestação seja considerado homicídio, e essa questão reverberou na CMM, especialmente após Matos defender o projeto na tribuna.
“Por isso, eu sou a favor desse PL e espero que os deputados tirem a venda dos olhos, porque pior que o estupro é o homicídio”, declarou Raiff Matos.
Rodrigo Guedes, por sua vez, usou seu tempo na tribuna para defender os direitos das mulheres e contestar a posição de seu colega.
A afirmação de Raiff Matos de que “o homicídio é pior do que o estupro”, feita ao concluir seu discurso, foi amplamente criticada pelos demais vereadores. Rodrigo Guedes (PP) solicitou que Matos retirasse a afirmação, argumentando que ela ofendia mulheres vítimas de violência sexual.
“Eu não consigo concordar com a sua frase. Para algumas mulheres, o estupro pode ser tão devastador que algumas prefeririam morrer. Elas morrem por dentro, porque o estupro destrói o psicológico da mulher. O homem raramente é vítima de violência sexual, mas isso é uma realidade predominante entre as mulheres. Então, eu não consigo relativizar e muito menos aceitar essa frase”, afirmou Rodrigo Guedes.
Guedes ainda completou seu discurso, afirmando que “o estupro é a coisa mais vil que pode acontecer a uma mulher, destrói a alma”.
“Eu sou pai de uma filha, de uma menina, e que Deus me livre e livre todos os pais e todas as mulheres de algo assim com suas filhas, porque eu não sei do que seria capaz. Não garanto, inclusive, a sanidade dos meus atos. O estupro é a coisa mais vil que pode acontecer a uma mulher, destrói a alma, mata ela por dentro, destrói o psicológico, destrói ela como ser humano. Então, por favor, não use essa frase”, enfatizou Guedes.
A vereadora Professora Jacqueline (UB) destacou a complexidade da discussão, mencionando que, como mulher, ponderou se deveria se pronunciar ou não. Ela argumentou que a proposta do PL tende a naturalizar o crime de estupro, fazendo a vítima sentir-se ainda mais desvalorizada e, muitas vezes, culpada.
“Eu acredito que, com esse PL, nós mulheres estamos sendo revitimizadas, porque, além de sermos estupradas, agora somos tratadas como homicidas. Estamos recebendo duas penas. Isso não é apenas uma questão legal, é uma questão de vida. Mulheres que perdem suas vidas quando são estupradas passam a vida toda amargando aquele sentimento de desprezo por si mesmas. Dizer que o aborto é normal e permitir que uma lei decida por nós, sem uma discussão menos religiosa e menos fundamentalista, é negar os direitos das mulheres”, afirmou a vereadora.
Em um ano de eleições municipais, é crucial que a sociedade esteja atenta a essas questões. Muitas vezes, alguns parlamentares aproveitam temas de âmbito federal para obter engajamento, fazendo a população acreditar que isso faz parte de suas atribuições locais.
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