Há um certo debate para definir aquele que seria o “emprego mais fácil do mundo”. Algumas pessoas dirão que é assistir a programação da americana Netflix por alguns milhares de dólares ou de alguma de suas concorrentes, ou ser meteorologista da paradisíaca ilha caribenha de Aruba, um território ultramarino do Reino dos Países Baixos, e que, inclusive, tem voos diretos entre a sua capital, Oranjestad, e Manaus. Mas apesar da discussão, todos estão absolutamente errados.
Ser deputado estadual no Amazonas, atualmente, é o emprego mais fácil que existe, além de pagar muito bem. Apesar das devidas exceções, a maioria dos nossos 24 deputados preferem concentrar suas energias em conceder o título de “Cidadão Amazonense” às altas autoridades de nosso país e pedir a libertação de uma capivara do que promover o diálogo entre o governador Wilson Lima e os professores da rede pública estadual, ou fazer o básico que o seu ofício exige: fiscalizar as ações do Poder Executivo Estadual. Na iniciativa privada, os campeões de falta da Casa, os deputados Sinésio Campos (PT), Wanderley Monteiro (Avante), Mário César Filho e George Lins (ambos do União Brasil), e Mayara Pinheiro (PP) poderiam muito bem estar desempregados caso não justificassem suas faltas.
Ganhando um salário líquido de 19 mil reais, além das dezenas de verbas e cotas disponibilizadas pelo parlamento estadual, esse montante pode chegar à casa das centenas de milhares de reais. A maior parte das Casas Legislativas do Brasil disponibiliza para os seus membros a CEAP – Cota para Exercício da Atividade Parlamentar – o famigerado “Cotão”. E, assim como nas faltas, existem os campeões de gastos. Antes de citá-los nominalmente, é necessário dizer que cada deputado tem direito a uma cota de aproximadamente R$ 50 mil, e, caso nem todo esse montante seja utilizado, o que restou será acrescentado no mês seguinte.
Dito isso, vamos aos nomes: a campeã de gastos é a deputada Mayra Dias (Avante), que gastou R$ 50.357,50, apenas em abril, e não deixou absolutamente nada para o próximo mês; a medalha de prata vai para o já mencionado Mário César Filho que, no mesmo período, gastou R$ 49.777,01, deixando um saldo de, apenas, R$ 93,08; o bronze vai para o, também, já mencionado Dr. George Lins que, apenas em abril, gastou o total de R$ 54.863,55, deixando como saldo o total de R$ 162,10. Vale lembrar que essas e outras informações estão disponíveis no Portal da Transparência da Assembleia Legislativa, que não disponibilizou os gastos de maio.
Claro que aqui nós podemos também falar de algumas boas iniciativas de alguns parlamentares da Casa do povo amazonense. Como menções honrosas nós temos o presidente da Comissão de Educação da ALEAM, deputado Cabo Maciel (PL) que tomou a iniciativa de fazer uma audiência pública com movimentos estudantis, procuradores do Ministério Público e da reitoria da UEA, para tratar da questão da reserva de vagas da Universidade do Estado do Amazonas.
Temos também o trabalho do deputado Wilker Barreto (Cidadania), que sendo praticamente o único parlamentar de oposição na ALEAM, vem fazendo constantes e justificadas críticas ao governo e a alguns de seus apoiadores mais cegos. Mesmo não sendo mais deputado estadual, cabe aqui menção honrosa ao ex-deputado e ex-prefeito de Manaus, Serafim Corrêa (PSB), que sempre se manteve como um parlamentar independente e consciente da situação fiscal e educacional do Amazonas.
Apesar da ironia do título, essa é uma realidade que nunca deveria acontecer. Todos os valores acima mencionados, além de toda a estrutura que envolve a Casa, são pagos com o dinheiro suado dos impostos dos amazonenses, que poderia muito bem ser reinvestido em escolas, hospitais, pavimentação das rodovias estaduais, e outras carências enfrentadas pelos amazonenses. A controversa ex-premiê do Reino Unido, a conservadora Margaret Tatcher, dizia que “não existe dinheiro público, existe apenas dinheiro do pagador de impostos, dinheiro retirado do orçamento das famílias”, e isso não está nem um pouco longe da realidade dos amazonenses.
Hoje em dia, vivemos numa situação em que a máquina estatal, inchada e ineficiente, prefere gastar dinheiro com frivolidades a assegurar educação e saúde de qualidade para o povo do Amazonas. Ser parlamentar é fiscalizar as ações do Poder Executivo e promover leis que mudem a realidade do nosso estado, e parece que uma boa parcela dos nossos 24 deputados estaduais não quer fazer nem um e nem o outro.
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