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Colunista

Marcos Souza

Ustra e o maior patriota brasileiro de todos os tempos

Breves diferenças entre um patriota de verdade e um de mentirinha

Ustra e o maior patriota brasileiro de todos os tempos

Foto: Reprodução/ TV Câmara

Antes de refletir o patriotismo enobrecedor do Major Policarpo Quaresma, o maior patriota brasileiro de todos os tempos, creio que é necessário noticiar um fato esquecido que faz de nós, brasileiros, um povo-plateia perante regalias particulares e governamentais, vítimas de nossa própria impotência e destinados aos tristes fins. Primeiramente, três perguntas:

  • Um salário de 15 mil reais para ti, leitor cabisbaixo, é a marca de um sofrimento ou um desejo distante?
  • Quanto esforço e tempo tu cedeste ou cederás para alcançar um nível de remuneração desses, leitora amargurada?
  • Para quem vendeste ou venderás tua alma para alcançar os teus sonhos, leitores?

Bem, essas perguntas certamente não são um problema para as duas filhas do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, pois elas recebem, cada uma, uma pensão de pouco mais de 15 mil reais. Para uns, a ordem e o progresso são uma maravilha, não? Ah, como assim, não te lembras de Brilhante Ustra? Foi um torturador do DOI-COD, da época da ditadura militar, o “terror da Dilma”, frase pronunciada por Jair Bolsonaro, que o homenageou como “herói nacional”, em 2016, no impeachment da mesma ex-presidente e torturada Dilma Rousseff.

Voltemos ao patriota de verdade, a Policarpo Quaresma, e deixemos de lado a brilhante escória da ditadura, adorada pelos patriotas de mentirinha.

Policarpo Quaresma foi um servidor público, subsecretário no Arsenal de Guerra, que viveu no final do século XIX; era um homem culto e apaixonado pelo Brasil. Valorizava a natureza e a tradição do nosso país, tinha os povos indígenas como os verdadeiros brasileiros, ressaltando suas vastas culturas, habilidades e inteligências. Considerado louco por se fixar aos costumes históricos da nossa terra, antes da colonização europeia, da música à agricultura, chegando a propor a língua tupi como a língua oficial do Brasil, foi parar em um hospital psiquiátrico. Findou sua honrada história ao confrontar um patriota de mentirinha, o Marechal Floriano, sendo encarcerado, acusado de traição e fuzilado covardemente sem dó nem piedade.

Vamos às breves diferenças entre o maior dos patriotas e os de mentirinha.

Enquanto temos em Policarpo um patriota e nacionalista ufanista, orgulhando-se exageradamente do Brasil e de suas riquezas, os patriotas de mentirinha se reduzem à adoração de um calhorda posto como semideus, colocando-o acima de tudo, inclusive da racionalidade.

O Major Quaresma, patriota de verdade, conservava no seu cotidiano as comidas, músicas, livros, divertimentos, entre outras características provenientes do solo brasileiro. Os patriotas de mentirinha fazem tudo às avessas, querem ser como os norte-americanos, ter a cultura, a história e a ignorância deles, chegando mesmo a, vejam quão patético! Chegando mesmo a baterem continência, emocionados, para a bandeira estadunidense. São capazes de vislumbrarem soluções em extraterrestres, mas não encontram prodígio no seu povo.

Policarpo Quaresma foi à guerra na Revolta da Armada contra o levante da marinha, uma vez que aquilo representava o interesse nacional urgente. Os patriotas de mentirinha? Ah, esses preferem ficar atrás da tela de um celular espalhando notícias falsas. E quando, finalmente, decidem se manifestar, é para depredar um patrimônio público de relevância nacional ou contestar o sistema eleitoral no qual um dia eles elegeram o pior presidente da história deste país.

Os tais patriotas de mentirinha são descarados em adorar o nazismo, adaptam a estética nazista, como o “Deutschlandüberalles”, em português, “Alemanha acima de tudo”, readaptada em “Brasil acima de tudo”; eles temem o fantasma frio do comunismo, assim como os nazistas temiam em Stalingrado. Esses “patriotas”… Estando no poder, foram capazes de imitar o próprio povo agonizando durante a pandemia; negaram a vacina; retomaram a conspiração da terra plana; ridicularizaram a crise climática; vilipendiaram a ciência, a educação básica e a universidade pública; saudaram um pneu ereto na tentativa de clamar por um golpe de Estado; fomentaram a ideia de que não existe racismo no nosso país; menosprezaram o fazer artístico; odeiam os livros, ao ponto de nunca terem sequer lido o livro sagrado que idolatram; estimularam rompimentos e mesmo assassinatos entre familiares e amigos; utilizaram as crianças com seus gestos de armas para “fuzilar a petralhada”; usaram o nome de seus deuses (humanos ou não) para justificarem os seus atos mais espúrios.

A última da pulha patriótica brasileira foi o viralatismo ao usar o boné trumpista escrito “MakeAmericaGreatAgain”, em tradução, “Faça a América Grande Novamente”. Lembrando que a América referida por Donald Trump é a América do Norte, não a do Sul e a Central; nem mesmo a do Norte, dado a sua aversão aos mexicanos e ao Canadá. E para sintetizar comicamente o mico pagado pelos patriotas de mentirinha, o próprio presidente dos Estados Unidos esmagou a autoestima deles ao dizer que “Eles precisam de nós mais do que precisamos deles” e deportá-los como criminosos ao país abençoado por Deus.

Uma comparação um tanto injusta, certamente. Policarpo Quaresma era muito superior a qualquer embuste reacionário. Mas o pior de tudo isso é que os patriotas de mentirinhas são exímios na arte da negação. A mentira é o fundamento de sua verdade. E se tiveram coragem de negar a ditadura, as mortes, as perseguições, as torturas, a ponto de rogar em público o nome de Ustra em tom de homenagem, o que os impedirá de mentir daqui a cinquenta anos sobre o que aconteceu nesses últimos anos?

Para fazer justiça num debate franco, nada melhor que citar a fala de um patriota de mentirinha sobre quem foi Policarpo Quaresma: — Aquele Quaresma podia estar bem, mas foi meter-se com livros… É isto! Eu, há bem quarenta anos, que não pego em livro.

Que decadência, o maior patriota de todos os tempos ser uma invenção de Lima Barreto!

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