A pesquisa, realizada com base em imagens de satélite cruzadas com autorizações oficiais, destaca a gravidade do cenário: a extração ilegal não apenas degrada a floresta, como também financia outros crimes ambientais, como queimadas e desmatamento, e prejudica o mercado legalizado de madeira.
Avanço da ilegalidade e destaque para municípios críticos
Enquanto a exploração ilegal cresceu, a área com extração autorizada mais do que dobrou, saltando de 11,3 mil para 26,1 mil hectares (alta de 131%). No entanto, a ilegalidade se concentra fortemente em dois municípios do sul do estado: Boca do Acre e Lábrea, que, juntos, respondem por 75% de toda a exploração madeireira irregular no Amazonas. Boca do Acre lidera com 20,5 mil hectares irregulares, seguido por Lábrea, com 10,9 mil hectares.
“Esses municípios ficam dentro da região de expansão agropecuária chamada de Amacro, na divisa do Amazonas com o Acre e com Rondônia. Por isso, alertamos que a extração de madeira nesses territórios pode indicar o desmatamento futuro para a grilagem ou para a produção de grãos e de gado”, explicou Camila Damasceno, pesquisadora do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon. Ela reforçou a necessidade de ampliar a fiscalização nesses locais e barrar a entrada de produtos ilegais no mercado.
Invasão de áreas protegidas e florestas públicas
O estudo também aponta que a extração ilegal avança sobre terras indígenas e unidades de conservação. No período analisado, 5,6 mil hectares (13% do total irregular) foram explorados dentro de áreas protegidas, sendo 3,9 mil hectares em terras indígenas e 1,6 mil em unidades de conservação. Embora tenha havido uma queda de 19% nessas áreas em relação ao ano anterior, a extensão equivale a mais de 5 mil campos de futebol dentro de territórios que deveriam ser preservados.
Outro dado alarmante é que 77% da exploração ilegal (32,5 mil hectares) ocorreu em imóveis rurais cadastrados em bancos públicos, como o Cadastro Ambiental Rural (CAR), o Sistema de Gestão Fundiária (Sigef) e o Programa Terra Legal. “Isso mostra que os órgãos públicos têm dados para fiscalizar e punir a atividade ilegal nessas áreas”, avalia o Imazon.
As florestas públicas não destinadas – áreas de domínio público sem uso oficial definido – também foram alvo, com 3,3 mil hectares explorados ilegalmente. O instituto defende a destinação urgente dessas terras a povos tradicionais ou para conservação como medida de proteção do patrimônio público e ambiental.
A pesquisa conclui que, além das emissões de carbono e da perda de biodiversidade, a extração ilegal de madeira gera conflitos sociais e ameaça a sobrevivência de povos e comunidades tradicionais que dependem da floresta em pé.
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